(...) Na pista de Nangade o som ensurdecedor da formação de helicópteros lembrava que estava em curso uma operação de grande envergadura. Introduzidos nos hélis, os vários pelotões do Batalhão de Caçadores Paraquedistas 31 dirigiram-se para o corredor de infiltração da FRELIMO em território de Moçambique, trilho que passava a alguns quilómetros de Nova Torres e de Muidine, no sentido sul em direcção ao Lago Namioca próximo de Pundunhar, onde a FRELIMO detinha uma pequena base de recepção de material vindo da Tanzãnia. Assaltada a base dos guerrilheiros sem qualquer resultados práticos dado que estes pareciam estar bem informados daquela acção abandonando-a com alguma antecedência, dois pelotões da Companhia de Caçadores 3309 dirigiram-se ao encontro daquela formação de Paraquedistas para os encaminhar em direcção à picada e aí serem recolhidos por uma coluna de reabastecimento que estava prestes a passar no local dirigindo-se para Nangade.
Depois de terem atravessado um lângua extensa e reentrado na mata densa, um grupo numeroso de guerrilheiros da FRELIMO emboscou as nossas tropas com armas automáticas e Lança Granadas foguete (LGF), tendo uma destas granadas atingido no peito um soldado Paraquedista daquele grupo de Combate causando-lhe morte imediata. A mesma emboscada causou ferimentos ligeiros em mais 10 soldados do BCP 31, 1 ferido grave à Companhia de Caçadores 3309 e um outro ao GEs 206 que também seguia naquela força de intervenção.
O ferido grave da C.CAÇ. 3309 era o 1º Cabo Atirador Serrinha (1) e do GEs era o Soldado Pedro Mireco (2) (também da C.CAÇ. 3309 mas destacado naquele Grupo Especial).
Durante a confusão do tiroteio e enquanto socorriam os feridos mais graves, o Serrinha, que nem se apercebera que também tinha sido ferido com alguma gravidade numa perna, atingido por um tiro e pelos estilhaços da granada que matara o Soldado Paraquedista (dado que circulavam lado a lado no momento da emboscada), deambulava pela mata gritando desesperado, descontrolado emocionalmente, disparando em todos as direcções, até que alguém o chamou a si, alertando-o de que a emboscada já tinha terminado e tinha sido decretado o cessar fogo para avaliar a situação.
Só depois da situação controlada é que o Serrinha se deu conta das dores horríveis que se apoderaram dele, que o seu caminhar era agonizante e que o seu pé chapinhava no sangue que entretanto se introduzira na bota.
Evacuado para o Hospital de Mueda para ser assistido aos ferimentos resultantes daquela emboscada, o Serrinha ainda teve que ser assistido na secção de Psiquiatria na cidade de Nampula, dado o seu estado emocional necessitar de alguns cuidados, vivendo momentos horríveis quando se lembrava daquele inferno vivido no dia 14 de Julho de 1971 (...)
Carlos Vardasca
14 de Julho de 2008
Foto 1: Momento da evacuação numa clareira próximo do local da emboscada do 1º Cabo Serrinha da C.CAÇ. 3309 ferido gravemente na emboscada.
Foto 2: O Serrinha na secção de Psiquiatria do Hospital de Nampula, na companhia do Gonçalves também da C.CAÇ. 3309 que ali se encontrava em tratamento.
(1) 1º Cabo Atirador NM 13382970 da C.CAÇ. 3309, António Natálio Sequeira Serrinha.
(2) Soldado Atirador NM 70584870 Pedro Mireco do Grupo de Integração nº 55 da C.CAÇ. 3309 mas destacado para os GEs 206.
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