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Exmos Senhores
Ainda a guerra do ultramar. Não
para relatar factos bélicos, nem políticos, pois esses, embora nem sempre bem,
têm vindo a ser trazidos ao conhecimento geral através dos midia.
Aqui, venho apenas expor a falta
de justiça e consideração que a pátria tem para com o militar, cuja morte
aconteceu em pleno teatro de guerra, no norte de Moçambique, fronteira norte do
distrito de Cabo Delgado, com a Tanzânia.
Relatórios militares entregues ao
tempo, da operação militar em que este facto ocorreu, considerou quem mandava,
que o Fur Mil GE (Grupos Especiais)
João Manuel de Castro Guimarães foi um desaparecido.
É desaparecido, porque o seu corpo, nunca foi resgatado, por imposição
do Comando, que inviabilizou os meios militares para tal.
A Pátria não se quis envolver nesse processo.
O corpo, foi levado, isso sim,
pelas forças regulares tanzanianas. (Ver blog “ Do Tejo ao Rovuma”), sendo que
o mesmo se encontrava ainda em território, naquela ocasião, português.
A Pátria quis esquecer este episódio.
Será por tudo isto e por muito
mais que aqui ainda não fica dito, que o seu nome não consta no monumento
erigido em memória dos que lá ficaram.
E a família? Ninguém oficialmente, teve o cuidado de a esclarecer. Também ela
foi usada como carne para canhão.
Foi o seu ente familiar um desertor?
Foi raptado?
Foi abatido pelos seus homens,
como se chegou a admitir em vários meios, onde se inclui a família?
É bom lembrar que fazíamos parte de um corpo de
voluntários, sendo a sua composição totalmente nativa.
Se desaparecido, como e porquê?
Seria o mínimo a justificar,
junto dos familiares.
Nunca tiveram uma resposta
afirmativa para esta questão.
Tem o signatário feito alguns
escritos sobre este assunto ao longo de vários anos, mas a parede de fumo que
se gerou sempre, impede ou impediu que se impusesse a verdade e a Pátria fizesse a justiça moral que se impunha. Colocar o seu nome no lugar que, mal ou bem, perpetua e honra os que lá pereceram.
Fui o responsável pelo Grupo
Especial que procedeu à operação em que aquele militar tombou e, possuo o conhecimento total dos factos que
foram reportados em relatório para o Comando Chefe, Gen Kaulza de Arriaga.
É certo que já passaram mais de
40 anos. Pela ordem da vida, não sei se ainda terei muito mais tempo para fazer
esta denuncia.
Aquele momento, é para mim, AGORA e SEMPRE.
Está dentro de mim. O que é que
posso fazer?
Para mim, a divisa “Ninguém fica para trás”, faz com que me
sinta desinquieto com esta situação.
Possivelmente, para a Pátria
, esta divisa, não se aplica ou aplicou.
Muito apreciaria que, através dos meios que têm ao v/dispor, fosse
dado conhecimento público desta velha ocorrência, provavelmente uma entre
muitas.
Somos um povo de memória curta
quando convém, mas entendi que o v/programa tem na sua génese, o perfil para fazer desinquietar algumas consciências.
Daí, ter recorrido a VExas., e espero que possa,
com a v/ajuda, que a história se cumpra.
Apelo também , para a delicadeza
que este assunto merece, tanto mais que o militar em referência é familiar do atual bastonário do Ordem dos
Médicos.
Tenho alguns documentos que
poderão ser utilizados para ajudar ao esclarecimento dos factos.
Fico à v/inteira disposição.
Com consideração,
Filipe Manuel Cardão Pinto
Ex militar na guerra do ultramar
e comandante, à época, do GE 212 em Nhica
do Rovuma em Moçambique (Fronteira com a Tanzânia)
Tlm 936260394
Nota: Carta enviada ao programa da SIC "Linha Aberta".