quarta-feira, 28 de maio de 2008

"Não me levem a Estação"


De facto isto nada tem a ver com a Guerra Colonial. Mas tratando-se de uma tentativa de violência direccionada ao património desta terra que me acolheu e ajudou a moldar a minha personalidade, considero ser também uma "guerra" contra a população a simples intenção da REFER em demolir a Estação de Alhos Vedros, o que me entristece.
Entristece-me ver esta Vila histórica aos poucos ser desprovida da sua memória colectiva, ficar cada vez mais pobre, mas rodeada de prédios amuralhados onde proliferam algumas "ex-colectividades" hoje transformadas em meras tabernas, onde o associativismo foi trocado pelo culto fácil do "agora pagas tu e depois pago eu até que a rodada calhe a todos".
A Estação de Alhos Vedros é um património da nossa Vila que deve ser preservado, preservação essa que não impedirá a normal e necessária modernização da Linha Barreiro-Praias de Sado (veja-se o exemplo da Estação do Pinhal Novo) pois a manutenção daquela estrutura centenária poderá ser útil para albergar outros equipamentos tão necessários e de que esta Vila está tão carenciada.
Se em tempos houve desinteresse da Câmara Municipal da Moita em assumir aquele equipamento quando lhe foi proposto pela REFER, há que assumir esse erro e "dar a volta ao texto" porque a "hipocrisia já não rende e para esse peditório já não dou mais".
Agora, há que juntar vontades e, todos juntos, defendermos a manutenção da Estação de Alhos Vedros, como parte integrante do nosso património colectivo e dar-lhe a utilidade que os responsáveis locais entenderem ser o mais premente.
Do Tejo ao Rovuma está solidário com a luta da população de Alhos Vedros, sugerindo a todos a leitura do blog: http://estacao-alhosvedros.blogspot.com/

Carlos Vardasca
28 de Maio de 2008

Foto: Estação de Alhos Vedros, da autoria de JJCN.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Rumo a Kytaia


Na sequência do desenvolvimento do assunto tornado público e relacionado com o desaparecimento do Furriel Guimarães em 15 de Novembro de 1972 e o movimento que se poderá vir a formar com o objectivo de apoiar esta causa para que, com o apoio da Liga dos Combatentes, se iniciem as diligências no sentido de se localizar o local da sua sepultura nas proximidades ou na aldeia de Kytaia (Tanzânia), venho dar-vos conhecimento dos contactos já desenvolvidos e das manifestações de solidariedade já recebidas em torno desta questão.
Do contacto efectuado com a Liga dos Combatentes recebi uma carta (16 de Maio de 2008) em forma de esclarecimento que pode ser lida em: ultramar@terraweb.biz onde o seu presidente Tenente Coronel Joaquim Chito Rodrigues diz no ponto nº 9 do mesmo documento, para além de outras considerações:
" - Tendo em atenção o objectivo que pretende (exumação e transladação) cuja responsabilidade é das famílias ou entidades que as apoiem, a Liga agradece, caso sejam feitas diligências nessa sentido, informação sobre a localização exacta da inumação do referido militar na Tanzânia, sem prejuízo das diligências que a Liga possa desencadear via Adido de defesa em Moçambique".
Posteriormente a Liga elaborou um ofício dirigido ao Coronel Câmara Stone, Militar Adido de Defesa na Embaixada de Moçambique em Maputo, cujo ofício manifesta a preocupação com as dificuldades em se "obter dados concretos sobre a localização dos restos mortais deste militar", concluindo no ponto nº 4 do mesmo ofício:
" Será que com o apoio das autoridades Moçambicanas e/ou da Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional, com quem a Liga tem contactos e com quem vai estreitar relações, haveria possibilidades de iniciar um processo de confirmação da localização?"
Bem ao jeito da linguagem popular "a coisa parece que já vai mexendo" a avaliar também pelos vários mails e telefonemas recebidos a manifestarem a maior admiração por esta causa, onde destaco, entre outros, uma carta vinda do Estados Unidos da América enviada pelo membro de três Associações de Veteranos de Guerra ali emigrado (West Caldwell, NJ. USA) o senhor Moisés Cavadas, que diz a dado passo:
" ... Tenho esperança que tarde ou cedo as ossadas daquele militar serão encontradas...
Certo que a sua alma estará em paz. Não importa que estejamos em qualquer parte do Mundo... o velho veterano continua sempre a honrar os mortos e fazer justiça ao vivos..."
Consciente da importância que este assunto vai tomando dadas as várias manifestações de solidariedade, sempre que surgirem desenvolvimentos sobre esta causa "Do Tejo ao Rovuma" dar-lhe-á a devida importância e deles fará eco.
Carlos Vardasca
23 de Maio de 2008
Foto: O Grupo Especial (GEs) 212 (de que fazia parte o falecido Furriel Guimarães) sai do Aquartelamento de Nhica do Rovuma para um patrulhamento junto à fronteira com a Tanzânia. Na foto vê-se o seu comandante, Furriel Pinto da Companhia de Caçadores 3309 que participou naquela operação a acenar para o soldado que tirava a fotografia.


quinta-feira, 22 de maio de 2008

Porque estamos aqui?


Moção

Associação Dos Deficientes Das Forças Armadas

14 de Maio de 1974 - 34º Aniversário - 14 de Maio de 2008

Porque estamos aqui hoje?

1. Os deficientes das Forças Armadas, reunidos em frente da Assembleia da República. manifestam o seu descontentamento e indignação, porque tendo suportado, desde a sua juventude, um "pesado fardo", nas palavras do Ex-Presidente da República Dr. Jorge Sampaio, ao atingirem o último ciclo das suas vidas, vêem-se confrontados com a retirada de um conjunto de direitos já consagrados na nossa legislação, que vem agravar as suas deficiências e contribuir para a desagregação das suas condições sociais e familiares.

2. Não entendem como este governo pode ser insensível aos graves problemas sociais e humanos, vividos por aqueles que foram generosos até ao sangue e hoje reclamam, tão só, serem tratados com dignidade.

3. Exigem o reconhecimento, inequívoco, da situação específica de deficientes militares, obrigados ao cumprimento do serviço militar, em situações de risco e perigosidade agravada, como foi a situação de guerra em que serviram, por imposição.

4. Reivindicam a reposição da assistência médica e medicamentosa gratuitas das lesões e doenças para além da deficiência, tal como estava em vigor, antes de nos serem retiradas por este governo.

5. Não querem ser abandonados, no interior do país e regiões autónomas, longe dos hospitais Militares de Lisboa, Coimbra e Porto, sem acesso a assistência médica e medicamentosa gratuita no tratamento dos ferimentos e diminuições físicas que resultaram de acções de combate no cumprimento obrigatório do serviço militar imposto pela nação.

6. Não aceitam que o Governo pretenda catalogar o seu corpo em "lotes", uns que foram feridos por acções de guerra, com tratamento gratuito e, outros que não foram, com tratamento a pagar, sem perceberem as consequências dramáticas que as lesões do combate provocam no equilíbrio físico, psíquico e emocional para toda a vida. Só uma visão cega destes problemas pode explicar este modo de agir.

7. Não toleram que os grandes deficientes militares, sem retaguarda familiar, não tenham garantidas condições de recolhimento em estabelecimentos assistenciais do Estado, como decorre da lei.

8. Reclamam celeridade na análise e na decisão dos processos de atribuição da condição de deficientes das Forças Armadas, com realce para os afectados pelo "stress de guerra" e nos processos de revisão do grau de incapacidade por agravamento da doença.

9. Não compreendem que os deficientes militares oriundos de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, que se deficientaram ao serviço das Forças Armadas Portuguesas, na guerra colonial, estejam abandonados ao esquecimento por parte do Estado Português.

10. Exigem a reposição dos direitos reconhecidos pelos sucessivos Governos Constitucionais, como justas reparações morais e materiais devidas aos deficientes militares e que constituem um património de valores cívicos, que não podem ser postos em causa por razões sócio-políticas conjunturais.

11. Finalmente, consideram, também, que numa sociedade democrática as lições da história não podem ser esquecidas e, por isso, não aceitam que venham a sofrer o mesmo tratamento dado aos inválidos da 1ª Grande Guerra e aos combatentes das campanhas ultramarinas, que a partir de 1937, viram a sua situação regredir até ao estado de indigência.

Lisboa, 14 de Maio de 2008


A Direcção Nacional da ADFA

José Eduardo Gaspar Arruda
Presidente

Fotos: Manifestação dos Deficientes das Forças Armadas em Lisboa em 14 de Maio de 2008.
Moção aprovada na concentração em frente à Assembleia da República.

domingo, 18 de maio de 2008

"estar ou não estar do lado errado"


(...) Há muito que os 1º e 2º Pelotões da Companhia de Caçadores 3309 se encontravam isolados do resto da Companhia no aquartelamento de Nova Torres, na companhia de dois pelotões da Companhia de Artilharia 2745 que ansiavam pela sua rendição que parecia tardar.
Aquela frente de batalha já vinha necessitando há muito de ser guarnecida com mais meios humanos, dado que o aquartelamento era bastante visível aos observadores da FRELIMO que, do outro lado da fronteira, facilmente observavam as nossas movimentações dada a proximidade das duas margens do rio Rovuma, observações essas que poderiam ser favoráveis às suas acções de intervenção em território de Moçambique. Foi com esse objectivo que, ao fim de alguma insistência que os 3º e 4º Pelotões da C.CAÇ. 3309 se juntaram à restante Companhia, ao mesmo tempo que se procedia à rendição do pessoal da C.ART. 2745, operação que se revestiu de alguma tragédia, aliás como já vinha sendo hábito na generalidade das intervenções do nosso exército em operações militares, dada a intensa e crescente actividade dos guerrilheiros da FRELIMO no norte de Moçambique, mais concretamente na zona de Cabo Delgado.
No dia 09 de Maio de 1971 deu-se início à Operação "Baldeação" com o objectivo de finalmente se proceder à rendição da C.ART. 2745 pela C.CAÇ. 3309, aproveitando-se essa coluna para se fazer o reabastecimento do Aquartelamento de Nova Torres que já se debatia com alguma carência em abastecimentos.
Em 10 de Maio de 1971 e no seguimento da referida operação, ao proceder-se à descarga das viaturas junto ao rio Metumbué, um elemento da C.CAÇ. 3309 de origem africana (1) accionou uma mina anti-pessoal a cerca de 10 metros da picada ficando gravemente ferido, tendo sido evacuado de helicóptero para o Hospital de Mueda onde lhe foi amputada uma perna.
Recordo-me que, em diversos comunicados que a FRELIMO espalhava pela mata com alguma regularidade, por vezes aquela organização fazia alusão aos soldados africanos que combatiam nas fileiras do exército português dizendo:
" - Aos nossos irmãos moçambicanos que combatem a FRELIMO no seio exército Marcelista, dizemos-lhes que ainda estão a tempo de escolherem o lado certo da barricada e lutarem pela libertação da nossa pátria do jugo colonial: acrescentando de seguida o comunicado:
" - Se assim não entenderem e por muito que nos custe, irão ao longo desta guerra de libertação pagar um elevado preço por se colocarem do lado das forças ocupantes" (...)

Carlos Vardasca
18 de Maio de 2008

Fotos: Fase da Operação "Baldeação" com o atravessamento das Berliets do rio Metumbué, vendo-se o local onde se deu o incidente próximo de árvore que se vê em primeiro plano na foto a cores.
(1) Elias Riça, Soldado NM 71269470 da Companhia de Caçadores 3309 (Grupo de integração 55)

domingo, 11 de maio de 2008

"Quando o Pedrosa decidiu nos deixar"


(...) Um Grupo de Combate da CCS do Batalhão de Artilharia 2918 e da Companhia de Artilharia 2745, tinham saído de Nangade para uma acção de protecção à coluna de reabastecimento denominada "Operação Bandarilha".
Seguiam ambas as forças na rectaguarda dos picadores, quando ao quilómetro 20 foram surpreendidos por uma emboscada desencadeada por um numeroso grupo de guerrilheiros da FRELIMO (cerca de 20) que, armados de LGF e armas automáticas, emboscou aquelas forças no lado sul a apenas a seis metros da picada, no percurso entre Nangade e o Aquartelamento de Pundanhar, que causou um morto e dois feridos às nossas tropas.
O Pedrosa (1), 1º Cabo Operador de Rádio da CCS do B.ART. 2918 que fora destacado para integrar aquela missão, no meio do tiroteio que se gerou foi atingido mortalmente com um tiro de Kalashnikov (2) na cabeça, o que provocou grande consternação em todos os presentes que integravam aquela operação de reconhecimento e de protecção. Enquanto o helicóptero não chegava para e evacuação dos feridos resultante daquele ataque assim como do corpo do Pedrosa, o silêncio que se abateu sobre a picada era deveras perturbador. O chilrear da vida animal parecia fazer coro com a tristeza que se vivia naquele pedaço térreo, enquanto ao longe uma impala espreitava atenta por entre o capim, "sem compreender porque não a perseguiam, tentando perceber o porquê daquele silêncio, que lhe permitia ouvir o gemido provocado pela ondulação do capim no seu agitado espreguiçar".
Comunicado via rádio para Nangade o ocorrido, de imediato saiu em seu socorro um Grupo de Combate que integrava soldados da Companhia de Caçadores 3309, entre os quais o 1º Cabo Condutor Victor (3), que se ofereceu de imediato para participar naquela operação assim que soube do incidente, uma vez que era grande amigo do militar falecido.
Por ironia do destino, o Victor (que na foto se encontra junto ao corpo do Pedrosa, de mãos na cintura a olhar para quem tirava a foto) viria também a falecer em combate passados dois meses e também em circunstâncias dramáticas (...)
Carlos Vardasca
11 de Maio de 2008
Foto: O corpo do 1º Cabo Operador de Rádio Pedrosa jaz prostrado na picada, aguardando o helicóptero para a sua evacuação. Picada Nangade-Pundanhar. Moçambique,14 de Maio de 1971.
(1 Acácio Carriça Pedrosa, 1º Cabo Operador de Rádio NM 14208669 da CCS do B.ART. 2918.
(2) Arma automática de origem russa usada pelos guerrilheiros da FRELIMO.
(3) Victor Manuel da Silva, 1º Cabo Condutor Auto Rodas NM 11694170 da Companhia de Caçadores 3309, falecido em combate no dia em 20 de Julho de 1971.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Desaparecido em combate em 15 de Novembro de 1972


Em tempos, foi assumido pelos organismos oficiais ligados ao exército, de que durante a guerra Colonial não foram registados casos relacionados com elementos do exército português que tivessem desaparecido em combate. Hoje é sabido que muitos militares foram sepultados junto aos Aquartelamentos onde estavam estacionados e, embora tardiamente, actualmente já se desenvolvem esforços no sentido de se procurarem os locais das sepulturas para serem exumados, devolvendo os seus restos mortais a locais mais dignos e mais próximo dos seus familiares, assim como ao solo pátrio que os viu partir e deles se esqueceu até aos dias de hoje, como foi o caso deste militar que é referido no documento em anexo, que o exército português na altura nem se dignou a dar qualquer justificação aos seus familiares do ocorrido.
Quanto aos soldados desaparecidos em combate e que o Estado português se recusa a reconhecer, aqui deixo um testemunho para que as entidades oficiais e outras organizações, nomeadamente a Liga dos Combatentes se interessem pelo caso, desenvolvendo os esforços e as diligências necessárias para que uma delegação sua se desloque ao sul da Tanzânia, mais concretamente à aldeia de Kytaia junto ao rio Rovuma, para que os restos mortais do Furriel Guimarães (1) sejam encontrados e devolver a tranquilidade à sua mãe (2) e restantes familiares, que há muito se sentem privados do sossego que lhes é devidamente merecido, por viverem em constante angústia pela ausência daquele seu ente querido, sepultado algures num país estranho e em lugar incerto.
O artigo que elaborei e que pode ser lido na íntegra aqui e que vai ser enviado a todas as entidades oficiais e organizações relacionadas com os ex-combatentes da Guerra Colonial, tem a finalidade de sensibilizar todos quantos o lerem assim como as entidades oficiais, para que estas "não deixem que a memória se apague" sobre um conflito de má memória que nos "arrancou um pedaço da nossa juventude", cujo capítulo ainda não se encontra encerrado enquanto não forem devolvidos à pátria "todos quantos nela tombaram sem jeito nem prosa".
Carlos Vardasca
07 de Maio de 2008
Mapa: Localização da aldeia de Kytaia na Tanzânia, onde supostamente estará sepultado o Furriel Guimarães (na foto) e localização dos vários Aquartelamentos das tropas portuguesas na região a norte de Moçambique e próximo do rio Rovuma onde o acidente ocorreu.
(1) João Manuel de Castro Guimarães, Furriel Miliciano NM 12619071 natural de Fafe.
(2) Foi Directora do Conselho Directivo da Escola Secundária de Fafe.



quinta-feira, 1 de maio de 2008

"Entre o Maio de Chicago e o Abril em Portugal"

Entre o acontecimento que ficou conhecido como a Revolta de Haymarket em 1886 com uma manifestação operária nas ruas de Chicago, com a finalidade de reivindicar a redução da jornada de trabalho para as 8 horas e o 25 de Abril em Portugal, muita onda de indignação se gerou no mundo, às quais os povos souberam engrossar grandes torrentes de descontentamento e desencadearam movimentos de protesto contra as ditaduras, pela liberdade de expressão e organização sindical e pela libertação dos povos sujeitos à opressão colonial.
Entre a Revolta de Haymarket que continuou nos dias seguintes e que vitimou dezenas manifestantes e o Maio de 68 em França, gerou-se uma ruptura nas mentalidades por um novo conceito de ensino, pelo fervilhar de uma nova postura nas formas de estar e no modo de vida das sociedades. Em Maio de 68 os estudantes ao revoltaram-se contra as rotinas do Estado Burguês tiveram um papel primordial na defesa dos princípios da autodeterminação das Universidades com a ocupação de algumas delas como a de Sorbonne em França, e desencadearam um movimento de massas a que aderiu grande parte do operariado francês como forma libertadora de um estado autoritário e castrador das liberdades individuais, que teve reflexos emancipadores em todo o mundo e nas gerações seguintes.
Desde a Revolta de Haymarket em 1886 e o início da Guerra Colonial em 1961, muitos Impérios sucumbiram à força avassaladora dos ideais de liberdade que romperam com as grilhetas da escravidão, fazendo nascer em toda a África (que era um dos palcos para todas as formas de exploração humana e dos seus recursos naturais) vários movimentos de libertação com espírito nacionalista que se levantaram contra a opressão através da luta armada, expulsando o colonialismo dos seus territórios, respondendo aos vários apelos que ecoaram por toda a África e que apelavam ao levantamento dos povos contra o sistema colonial, inspirados em frases que ficaram célebres, entre as quais também se dizia:
Quando os brancos chegaram a África,
nós tínhamos as terras e eles a bíblia.
Ensinaram-nos a rezar de olhos fechados
e quando os abrimos,
eles tinham as terras e nós a bíblia.(1)
Desde a Revolta de Haymarket em 1886 até à Guerra do Vietname que durou desde 1959 a 1975, muitos mitos de invencibilidade caíram por terra como se fossem "tigres de papel", personificada na derrota dos EUA frente aos guerrilheiros Vietcong que lhes infligiram uma humilhante derrota no campo de batalha, assim como todos os Impérios coloniais que ruíram como se fossem "um baralho de cartas".
Recordar a Revolta de Haymarket nos dias de hoje e neste 1º de Maio de 2008, é envolvermo-nos em outras formas de luta mais actuais contra o conceito neoliberal do pensamento único, que tenta também em Portugal (com a cumplicidade dos vários governos que se têm alternado no poder desde o 25 de Abril), amordaçar e aniquilar a liberdade individual dos cidadãos, criar-lhes dificuldades no acesso ao ensino, à saúde e ao emprego, acentuar as desigualdades sociais, limitar-lhes a criatividade e formatar-lhes as ideias para melhor gerir o seu domínio à escala mundial.
Sendo este um dos lados mais perversos da globalização em curso, penso que os trabalhadores não devem desistir de lutar por uma Europa mais social, onde os valores da solidariedade seja um dos factores do progresso e da emancipação dos povos, onde se respeite a verdadeira identidade cultural das nações, por uma Europa que sirva as aspirações dos povos e não das multinacionais.
Carlos Vardasca
1º de Maio de 2008
Fotos: Cartaz de Maio de 68 e manifestação nas barricas nas ruas de Paris.
(1) Jomo Keniatta