domingo, 11 de maio de 2008

"Quando o Pedrosa decidiu nos deixar"


(...) Um Grupo de Combate da CCS do Batalhão de Artilharia 2918 e da Companhia de Artilharia 2745, tinham saído de Nangade para uma acção de protecção à coluna de reabastecimento denominada "Operação Bandarilha".
Seguiam ambas as forças na rectaguarda dos picadores, quando ao quilómetro 20 foram surpreendidos por uma emboscada desencadeada por um numeroso grupo de guerrilheiros da FRELIMO (cerca de 20) que, armados de LGF e armas automáticas, emboscou aquelas forças no lado sul a apenas a seis metros da picada, no percurso entre Nangade e o Aquartelamento de Pundanhar, que causou um morto e dois feridos às nossas tropas.
O Pedrosa (1), 1º Cabo Operador de Rádio da CCS do B.ART. 2918 que fora destacado para integrar aquela missão, no meio do tiroteio que se gerou foi atingido mortalmente com um tiro de Kalashnikov (2) na cabeça, o que provocou grande consternação em todos os presentes que integravam aquela operação de reconhecimento e de protecção. Enquanto o helicóptero não chegava para e evacuação dos feridos resultante daquele ataque assim como do corpo do Pedrosa, o silêncio que se abateu sobre a picada era deveras perturbador. O chilrear da vida animal parecia fazer coro com a tristeza que se vivia naquele pedaço térreo, enquanto ao longe uma impala espreitava atenta por entre o capim, "sem compreender porque não a perseguiam, tentando perceber o porquê daquele silêncio, que lhe permitia ouvir o gemido provocado pela ondulação do capim no seu agitado espreguiçar".
Comunicado via rádio para Nangade o ocorrido, de imediato saiu em seu socorro um Grupo de Combate que integrava soldados da Companhia de Caçadores 3309, entre os quais o 1º Cabo Condutor Victor (3), que se ofereceu de imediato para participar naquela operação assim que soube do incidente, uma vez que era grande amigo do militar falecido.
Por ironia do destino, o Victor (que na foto se encontra junto ao corpo do Pedrosa, de mãos na cintura a olhar para quem tirava a foto) viria também a falecer em combate passados dois meses e também em circunstâncias dramáticas (...)
Carlos Vardasca
11 de Maio de 2008
Foto: O corpo do 1º Cabo Operador de Rádio Pedrosa jaz prostrado na picada, aguardando o helicóptero para a sua evacuação. Picada Nangade-Pundanhar. Moçambique,14 de Maio de 1971.
(1 Acácio Carriça Pedrosa, 1º Cabo Operador de Rádio NM 14208669 da CCS do B.ART. 2918.
(2) Arma automática de origem russa usada pelos guerrilheiros da FRELIMO.
(3) Victor Manuel da Silva, 1º Cabo Condutor Auto Rodas NM 11694170 da Companhia de Caçadores 3309, falecido em combate no dia em 20 de Julho de 1971.

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