quarta-feira, 14 de março de 2018

Breve síntese de Encontros e Desencontros. Companhia de Caçadores 3309. Batalhão de Caçadores 3834

 
 
Brazão do Batalhão de Caçadores 3834
 
Do cais de Alcântara, Lisboa, por volta das doze horas do dia 24 de janeiro de 1971 a Companhia de Caçadores 3309 integrada no Batalhão de Caçadores 3834, embarcou no navio Niassa com destino à colónia portuguesa de Moçambique, com escala por Guiné “forçada” (evacuação de homem gravemente ferido), Luanda e Lourenço Marques (hoje Maputo), onde, volvidos vinte e dois dias atracou.
Para a maioria do pessoal, tratava-se de um destino desconhecido, como que um tiro no escuro. Era o tempo de “Angola é nossa” cantava-se a altos brados, enquanto se esqueciam as dezenas de mortos e mutilados.
Foi uma viagem com alguns episódios sórdidos, peripécias rocambolescas e desconcertantes dos quais o mais grave foi o do soldado “Tarzan” que “caiu” ou “atirou-se” borda fora. De imediato alguém lançou a tal boia “luminosa” enquanto o barco fazia a manobra de recuperação do náufrago.
Já ninguém contava com o infeliz, naqueles mares de turbulência e infestado de tubarões. O “maralhal” abeirou-se da borda carregado de curiosidade, embora, já fosse noite. Por pouco não tivemos um naufrágio estupidamente infantil, não fosse o alerta dum altifalante manhoso que berrou para sairmos dali, porque o barco adornava bastante para o mesmo lado e virar-se era uma forte possibilidade. Além do nosso batalhão, iam outras companhias militares.
O náufrago foi resgatado são e salvo perante a estupefação dos “mirones”. Milagre, gritava alguém. Como foi possível? Comentavam outros. Este foi um, de muitos episódios.
O “Niassa” era um paquete “muito jeitoso” para transporte de animais.
Finalmente no dia 25 de fevereiro de 1971 esta C.Caç. 3309 chegou a Nangade, sede operacional e destino último, desmembrada das restantes companhias do Batalhão e agregando-se a outro desconhecido até então. Fomos apelidados de “enteados”.
A Companhia de Caçadores 3309, pisava terra firme no dia 6 de março de 1973, depois de 3 longos anos de angústia, inglória e sofrimento. Foi no auge da nossa adolescência, que nos obrigaram a comer o pão que o diabo amassou. Arrastados para esta guerra como “voluntários à força”, somos agora apelidados “heróis do silêncio”.
Infelizmente quatro dos nossos não nos acompanharam: o Vitor “Didiá”, o Albino Sousa “Serviços Básicos”, o Pedro Augusto “Almada” e o Pereira “Alentejano”. Vidas ceifadas a troco de nada.
Dezassete partiram, já na metrópole. Também estes continuam presentes no nosso pensamento e pesar. Andámos na roda dos 68/69 anos. Pertencemos ao rol dos “Cocuanas Cacimbados” que agora nem olham para as garridas capulanas, nem ouvem os batuques de marrabentas.
Dezoito anos depois, em 09/03/1991, reunimo-nos pela primeira vez na cidade do Porto, na praça do Marquês. Foi no restaurante CAPOEIRA. Eramos 85 ex-militares e respetivos familiares e a organização esteve a cargo de Arteiro, César e Moreira. Chovia que deus a dava torrencialmente, mas nem isso esmoreceu os convivas. Festa molhada, festa abençoada.
Entre lágrimas de saudade e sorrisos, abraços de nostalgia apimentámos o reencontro com muita alegria. Chorar de rir, chorar de sentir.
Em cada Encontro há uma nova história, um novo conto.
Depois foi o deambular pelo País: Paredes de Coura, Ponte de Lima, Póvoa de Varzim/Vila do Conde, Braga, Bragança, Mirandela, Castelo Branco, Fundão, Vila Nova de Gaia, Pateira de Fermentelos, Guia, Pombal …até Vila Viçosa. O maior número de presenças (112), registou-se no XXI encontro no dia 5/3/2011 nas Caldas da Rainha. Tempo frio, mas com boas abertas. Era altura do Carnaval. Fizemos dois em um.
45 anos depois, já estamos no XXVIII Encontro Nacional, escolhendo novamente a bela e laboriosa cidade de S. João da Madeira que tão bem nos acolheu e recebeu, não esquecendo a prestimosa colaboração da Exª. Câmara, na pessoa do Sr. Presidente em colaboração com a Junta de Freguesia pela sua generosidade e lembranças para cada um dos ex-militares.
Este nosso XXVIII Encontro Nacional teve na Organização o camarada Pinto Almeida, filho muito conhecido da terra e conceituado empreiteiro da empresa “Pintal”, que em todos os Encontros se esmera em ser um ativo e generoso colaborador.
 João da Silva Arteiro
10 de Março de 2018

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