segunda-feira, 5 de julho de 2010

António José Pereira, falecido em combate em 05 de Julho de 1972

É sempre bom recordarmos os amigos. O António José Pereira(1) era um deles, entre tantos, dos que connosco conviveram durante o conflito colonial, e de quem recordamos com aquela saudade que une os ex-combatentes daquela Guerra que vitimou "um pedaço da nossa juventude".
Integrado numa pequena coluna de reabastecimento que se dirigia de Nangade para Muidine em 05 de Julho de 1972, quando ao quilómetro 9 a Berliet onde seguia accionou duas minas anti-carro que a destruiu totalmente, causando a sua morte e cerca de 14 feridos com alguma gravidade, todos da Companhia de Caçadores 3309.
Para melhor testemunhar o ocorrido naquela madrugada de 05 de Julho de 1972, aqui vos deixo, em jeito de homenagem, um pequeno texto enviado pelo Cardoso(2) que, em jeito de homenagem, nos descreve o que aconteceu naquele dia trágico para a Companhia de Caçadores 3309.



(...) Numa madrugada solarenga, partimos de Nangade com destino a Muidine, para mais uma operação militar rotineira, em duas viaturas, uma Berliet à frente e uma Mercedes atrás.
Eu era enfermeiro da viagem; - Ia na viatura detrás com alguns soldados e o capitão "CHECA" (3), mais conhecido por capitão "pistolas".
Tínhamos andado poucos quilómetros, e ainda estávamos próximos de Nangade, quando num ápice se deu um violento rebentamento. A viatura onde eu ia circulava a cerca de duzentos metros da viatura da frente, por motivos de segurança e pelo pó que fazia.
O cenário que me ficou na retina nunca mais o vou esquecer: triste, desolador, "pó era mato", bocados da viatura voavam a bastantes metros de altura e de seguida fez-se silêncio por alguns segundos.
Fui ver mais de perto, aproximei-me da viatura minada, e o capitão "pistolas" verificava o terreno, confirmando que ainda estavam duas minas anti-carro por rebentar.
Tinham rebentado duas à frente do lado esquerdo e as outras duas minas eram supostamente para rebentar no rodado detrás, do lado esquerdo também, tendo em conta a sua colocação.
Mesmo assim, ficou um buracão na picada e a Berliet toda danificada, como podem verificar pela foto. Havia muitos feridos, alguns sentados na berma da picada, olhavam-me nos olhos mas não falavam, não sabiam onde estavam nem o que faziam, estavam atordoados com o rebentamento.
Dirigi-me de seguida para o lado direito da viatura, onde se encontrava o "Alentejano" (4), deitado ao comprido na valeta da picada, com o cinturão das munições da metralhadora à cinta. Tinha a cabeça partida e os miolos inteirinhos no chão, sendo o único morto confirmado no local.
Evacuei 14 ou 15 militares na viatura para Nangade, entre os quais o Portugal (5), que tive alguma dificuldade em reconhecer devido ao estado em que se encontrava, pois tinha a cara toda preta. Todos estes feridos bem como o falecido "Alentejano" foram depois evacuados para o hospital de Mueda (...)

Do amigo Cardoso
05 de Julho de 2010

(1) António José Pereira, 1º Cabo Atirador NM 11934670 da Companhia de Caçadores 3309
(2) Manuel Inácio de Aguiar P. Cardoso, 1º Cabo Auxiliar Enfermeiro NM 08648170 da Companhia de Caçadores 3309.
(3) Gabriel Monteiro Magno de Barros, Capitão do Quadro Especial de Oficiais da Companhia de Artilharia 3506 que foi render a C.CAÇ. 3309 ao Aquartelamento de Tartibo (falecido em 28 de Abril de 1992).
(4) Alcunha de António José Pereira.
(5) Portugal Henrique Barreto, 1º Cabo Atirador NM 13303970 da Companhia de Caçadores 3309.
Foto 1: O "Alentejano" na companhia do Ruben, quando a Companhia de Caçadores 3309 aguardava embarque no BC 9 em Viana do castelo. 1970
Foto 2: O "Alentejano" numa operação da C.CAÇ. 3309 no rio Metumbué (Cabo Delgado, norte de Moçambique) e uma foto sua em destaque.
Foto 3: A Berliet minada onde faleceu o "Alentejano" e ficaram feridos 15 elementos da C.CAÇ. 3309, quando era retirada da picada por elementos da Companhia de Engenharia 2736 radicada em Nangade.

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