sexta-feira, 20 de março de 2015

Carta ao amigo Joaquim Coelho

       
                                   

 Caro amigo Joaquim Coelho

 Recebi agora mesmo uma mensagem em seu nome em que dizia que o meu pedido de adesão ao grupo Picadas de Cabo Delgado tinha sido aceite. Não sei se sabe, eu já pertenci a esse grupo (no qual gostava bastante comentar, dado que também estive em Moçambique - Cabo Delgado (1971-1973) mas porque a minha permanência ali e porque o ambiente se estava a tornar insustentável em termos de participação e respeito pela livre opinião de cada um se estava (e continua) a deteriorar, decidi sair.
Este mau ambiente relacionava-se com atitudes menos correctas por parte de um dos seus administradores desse grupo, que impunha os seus pontos de vista, não aceitando opiniões diferentes, chegando ao ponto de me excluir desse grupo sem consultar os restantes administradores, situação que ocorreu em paralelo com a minha decisão de sair.
Não sei em que contexto é que foi aceite a minha entrada de novo no grupo, dado que não fiz qualquer novo pedido de adesão.
Em todo o caso, fico contente por da sua parte ter manifestado interesse na minha adesão, mas antes de o fazer gostaria de saber o seguinte: 1. Se esse senhor (sabem perfeitamente a quem me estou a referir) ainda é administrador do grupo.
2. Se ainda o é, pergunto se ele vai continuar a não aceitar opiniões diferentes (embora as possa criticar e apresentar os seus pontos de vista contrários, como é óbvio), contrariamente ao que acontece em outros grupos de ex-militares onde o ambiente é muito mais democrático e onde se prima pelo respeito e pela diversidade de opiniões sem se recorrer ao “lápis azul”.
  Se assim for, eu não estou disponível para aderir de novo ao grupo, pois não estou com paciência para continuar a aturar (de uma forma depreciativa) tantas manifestações colonialistas, nem conviver com “falsos heroísmos pseudo-patrióticos” que ignoram e até desprezam a vontade dos povos colonizados em assumirem a sua autodeterminação e independência, preconizando uma solução neocolonial onde os privilégios coloniais se manteriam.     
Para que tenha conhecimento e se for consultar os meus comentários nesse grupo, irá reparar que eu nunca ofendi ninguém nem faltei ao respeito a quem quer que seja.
As minhas divergências com esse senhor (que são do meu ponto de vista salutares e que promoviam uma discussão interessante, mas num ambiente totalmente diferente daquele) prendiam-se com;
¾ A concepção que cada um de nós tinha sobre as características daquele conflito e do seu conceito sobre se era uma Guerra Colonial ou Guerra do Ultramar;
¾ Sobre o papel que Portugal desempenhava em África;
¾ Sobre o comportamento das nossas tropas e da FRELIMO no teatro de guerra e se esta organização era (ou não) uma organização terrorista ou um movimento de libertação, que sempre considerei ser;
¾ Sobre o comportamento de algumas tropas ditas de "elite" para com os abusivamente e depreciativamente tratados por aqueles de "tropa macaca", numa clara manifestação de tacanha vaidade e de “pseudo-superioridade moral”;
¾ Sobre a questão de classificar (ou não) de traidores aqueles que desertaram para escapar ao conflito colonial, dado que para estes (contrariamente aos outros) participar naquela guerra nada tinha de patriótico nem a ver com os seus conceitos e valores de defesa da pátria;
¾ Mas também sobre a legitimidade do 25 de Abril (que constantemente alguns – na sua grande maioria contestavam) e da forma como se desencadeou todo o processo de descolonização, onde vulgarmente se classificavam (e ainda se classificam) os seus protagonistas de traidores.
São de facto pontos bastante polémicos mas muito importantes para se debater em espaços como estes grupos (mas sempre ignorados ou ostracizados) que vão muito para além da organização de "petiscos" (que são óptimos e excelentes momentos de convívio) ou comentar no grupo meras “larachas ou vulgaridades” sem qualquer contexto histórico ou social, o que por vezes acontece nesse grupo (e na maioria – felizmente nem todos - dos grupos onde se comentam questões relacionadas com a Guerra Colonial) do qual me desvinculei. Portanto amigo, antes de eu começar a comentar de novo no Picadas de Cabo Delgado gostaria que me esclarecesse os pontos a que me refiro neste texto, e se estes assuntos que descrevi continuam a ser proibitivos (só para alguns, mas livres para outros que utilizam o seu “poder autoritário”) de serem comentados.

 Os meus agradecimentos.

Um abraço.

Alhos Vedros, 19 de Março de 2015

Carlos Vardasca

PS: Desculpa lá amigo. Depois de uma pesquisa que fiz, verifiquei que esse grupo nada tem a ver com aquele a que me referi no texto. Em todo o caso, agradeço desde já o teu convite que muito me lisonjeia, embora tivesse reparado que esse grupo se chama também Picadas de Cabo Delgado (nome idêntico ao outro de má memória) e que as suas postagens são quase exclusivamente e mais relacionadas com os ex-militares que estiveram no conflito colonial, mais concretamente em Angola.

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