(...) Os homens estavam exaustos. Um grande número de soldados encontravam-se já evacuados no hospital de Mueda ou em Nampula devido ao paludismo, desidratação e diarreia ou outras complicações que os faziam urinar sangue, em resultado das condições desumanas em que foram obrigados a viver durante a época das chuvas e as sucessivas inundações de que foi alvo o Aquartelamento de Nova Torres. Era insustentável continuar a ocupar aquele Aquartelamento apesar da insistência dos altos comandos militares, que argumentavam ser aquela zona um local de infiltração dos guerrilheiros da FRELIMO em Moçambique e que por esse facto não poderia ser abandonada. Sem correio e sem pão uma vez que os sacos atirados do helicóptero ou da DO caíam na maioria das vezes no lodo ou na zona inundada, alimentados a ração de combate para além dos limites considerados normais em tempo de combate, há cerca de duas semanas que as tropas estacionadas em Nova Torres viviam em cima das árvores, fazendo aumentar o tom dos protestos que reivindicavam uma mudança de local e a construção de novo Aquartelamento numa zona mais alta onde estariam mais resguardadas das inundações das águas dos rios Metumbué e do Rovuma.
Depois de muita insistência e de algum mal estar entre as tropas, a Companhia de Caçadores 3309 lá foi autorizada a iniciar a sua retirada de Nova Torres e a desencadear a construção do novo Aquartelamento numa pequena elevação a que se denominou Tartibo.
Foi a 25 de Setembro de 1971 que se iniciou essa retirada e a construção do novo Aquartelamento de Tartibo que ficou concluído a 30 do mesmo mês, no mesmo local onde outrora fora uma pequena base da FRELIMO conquistada pela C.CAÇ. 3309 em 03 de Setembro, quando no âmbito de uma operação que se propunha procurar uma nova localização para o Aquartelamento deparou com aquele aglomerado de palhotas escondidas pela copa das árvores e pelo intenso capim, tendo havido confrontos de onde resultou a morte de cinco guerrilheiros e a captura de duas Kalashnikov e vários documentos com alguma importância.
Em Tartibo a C.CAÇ 3309 iniciava uma nova fase da sua permanência no norte de Moçambique, mais concretamente em Cabo Delgado onde as dificuldades se foram agravando, dado que o novo Aquartelamento ficava mais exposto aos ataques da FRELIMO como se veio a verificar enquanto a C.CAÇ. 3309 ali permaneceu.
Não resistindo ao desespero num dos ataques da FRELIMO a Tartibo, houve alguém que desabafou no meio do tiroteio:
- "Porra! fugimos de um para nos atolarmos num noutro inferno" (...)
Carlos Vardasca
25 de Setembro de 2008
Foto 1: Aspecto do Aquartelamento de Nova Torres após uma das várias inundações de que foi alvo. Na foto pode ser-se o 1º Cabo Auxiliar de Enfermagem NM 05802970, António da Silva Azevedo da C.CAÇ. 3309.
Foto 2: Momento da retirada da C.CAÇ. 3309 de Nova Torres em 25 de Setembro de 1971.
Foto 3: Fase da construção do Aquartelamento de Tartibo com o apoio da Companhia de Engenharia 2736 destacada em Nangade.
Foto 4: Momento da chegada da C.CAÇ. 3309 ao Aquartelamento de Tartibo em 01 de Outubro de 1971, vendo-se em primeiro plano o Alferes Miliciano NM 17548968, Manuel António Filipe Gonçalves da C.CAÇ. 3309.
Fotos 5 e 6: Aspecto final do Aquartelamento de Tartibo após a sua construção, o que evidencia o total isolamento a que a C.CAÇ. 3309 ficou sujeita enquanto ali permaneceu até à sua rendição.
Sem comentários:
Enviar um comentário