sexta-feira, 17 de setembro de 2010

"Nem sempre fomos bons rapazes"

Tenho acompanhado de perto a polémica à volta das declarações um pouco infelizes do escritor António Lobo Antunes, sobre o comportamento das nossas tropas em teatro de guerra que não subscrevo na sua totalidade, mesmo que tivessem sido produzidas no âmbito ficcional.
Algumas daquelas declarações poderão não ser totalmente verdade mas evidenciam e contêm um pouco da realidade e do ambiente que se vivia no período colonial, não só nas cidades mas também nos locais mais recônditos onde as nossas tropas estavam aquarteladas.
No momento mais “escaldante” desta controvérsia, apenas fui observando as diversas manifestações vindas das mais variadíssimas proveniências, mantendo-me à distância das mesmas para as poder analisar à luz da minha experiência também como ex-combatente da Guerra Colonial, mais concretamente nos Aquartelamentos de Nangade, Tartibo, Pundanhar, Muidine e Palma, todos em Cabo Delgado, norte de Moçambique, nas margens do rio Rovuma junto da fronteira com a Tanzânia.
Tal como as declarações proferidas por aquele escritor, confesso que também fiquei bastante impressionado e estranhei a forma como alguns ex-combatentes reagiram às mesmas, com declarações pinceladas de um “patriotismo balofo”, como se ignorassem ou fingissem ter esquecido o comportamento da maioria dos nossos soldados para com as populações nativas durante o conflito colonial.
A descrição feita por António Lobo Antunes sobre o comportamento das nossas tropas pode não corresponder totalmente à realidade, mas “que nem sempre fomos bons rapazes” é uma verdade inquestionável que nenhum ex-combatente ousa desmentir, mesmo que isso ainda hoje lhe corroa a consciência.
A grande maioria das nossas tropas (e não faz mal nenhum reconhecer este facto) era oriunda dos meios rurais, de fraca escolaridade, incultas, “embrutecidas” pelos discursos e as ladainhas dos párocos da aldeia, sendo educados desde tenra idade com uma visão da guerra colonial decalcada dos catecismos do regime.
Chegados a África, confrontados com uma população que o regime lhes disse ser inferior e os seus guerrilheiros classificados como terroristas, era natural ver os nossos soldados no seu relacionamento com as populações a exibirem a sua pose de superioridade, mesmo que vinda de um simples trabalhador rural ou de um daqueles emigrantes que na procura de uma vida melhor vegetou nos bidon-vile’s em terras de França e que, sem qualquer superioridade moral para humilhar aqueles povos de cor de pele diferente, os tratavam com alguma arrogância, indiferença ou desprezo, como se fossem seres inferiores.
Embora houvesse excepções (talvez uma minoria pouco expressiva com alguma consciência política) fazer crer que “fomos todos bons rapazes” durante os 14 anos que durou o conflito colonial, é uma outra mentira que nenhum de nós que o viveu de perto e tenha consciência da realidade, acredita, apesar das Políticas de Acção Psico-Social desenvolvidas já no final do conflito e que tinham um objectivo político bem definido e internacionalmente bem encenado.
Tal como as “Cruzadas” ou as “Descobertas”, que não foram nenhuns “passeios evangelizadores” mas invasões férteis em massacres para submeter os ditos povos “infiéis”, a Guerra Colonial também foi palco de comportamentos menos dignos por parte de algumas das nossas tropas, que na convivência diária com aqueles povos colonizados se utilizaram da falsa “superioridade da raça branca” para lhes impor (mesmo que em situações menores do seu dia a dia) a submissão, a humilhação, o roubo e o massacre indiscriminado de populações indefesas nos ataques às bases da FRELIMO, ou a prisão indiscriminada de elementos das populações nos vários aldeamentos (sempre coordenados por agentes da PIDE) a pretexto de colaborarem com os movimentos de libertação.
Para termos a noção de uma realidade que alguns fingem esquecer, quem não se recorda das várias incursões efectuadas de noite aos aldeamentos (que não eram mais do que meros campos de concentração onde o exército português acantonava as populações retiradas das matas para impedir que estas apoiassem a FRELIMO) para se roubarem galinhas ou cabritos para tornar o rancho bem mais melhorado, sob o protesto das populações, que tinham que se submeter perante a exibição bélica dos militares?
Será que todos nós já estamos esquecidos da humilhação a que submetíamos os nossos Mainatos
[1] que na hora da refeição nos fixavam de olhar faminto, na esperança de que sobrasse algum alimento dos nossos pratos, esperança essa frustrada, quando alguém atirava o prato já vazio na sua direcção, dizendo:
― Vá lá Turra
[2] d’um cabrão, o que é que estás à espera para ires lavar essa merda? Ou atirar uma lata de atum já vazia para o meio de um amontoado de crianças que, não sabendo estar a ser enganadas, se guerreavam na ânsia de ali encontrar algo para saciar a fome, enquanto os soldados se pavoneavam rindo à gargalhada perante aquele espectáculo degradante.
Quantas vezes o salário destes Mainatos não foi pago (e isto acontecia com bastante frequência) a pretexto de que a roupa não foi bem lavada e no tempo exigido, ou devido à ausência de um botão (que era arrancado intencionalmente na véspera) para justificar a recusa do pagamento daquele salário.
Quantas mulheres não foram violadas nos aldeamentos com o cano da G3 apontada à cabeça, enquanto outros soldados consumavam a violação colectiva?
Quantos guerrilheiros da FRELIMO depois de aprisionados após terem efectuado uma emboscada às nossas tropas, não foram brutalmente mortos mesmo ali na mata, num acto de desespero e de vingança por um dos nossos camaradas ter falecido nesse confronto?
Quantas crianças indefesas não foram abatidas a sangue frio nos ataques das nossas tropas às bases da FRELIMO, só porque aquelas (ao serem levadas como prisioneiras) seriam um empecilho à progressão e concretização da operação em curso?
Quem não se recorda de ouvir dizer que os guerrilheiros da FRELIMO capturados na mata, eram metidos nos helicópteros (supostamente para serem enviados para as prisões no sul de Moçambique) mas que a PIDE, em pleno oceano Índico, os atirava borda fora com as mãos e os pés atados, sob o olhar incrédulo e de reprovação dos pilotos, enquanto os Pides se justificavam:
― A porta abriu-se e o filho da puta do “Turra” caiu ao mar.
Quantos de nós (influenciados pela propaganda do regime) passámos a admirar a figura do Mercenário Daniel Roxo alcunhando-o de “O terror dos Turras” e, inspirados nas suas façanhas ditas heróicas, nos tornámos (à sua semelhança) mais “guerrilheiros”, apesar de sabermos (e até achávamos isso normal) que as suas milícias utilizavam requintes de malvadez nos métodos de tortura (proibidos pela Convenção de Genebra) sobre os guerrilheiros da FRELIMO capturados, serviços aliás, que, com o fim da Guerra Colonial (como Mercenário que era e a soldo de quem lhe pagasse melhor) os colocou à disposição do regime da África do Sul no tempo do Apartheid na sua ofensiva contra Angola, onde veio a falecer.
Enfim! E como todos nós ainda estamos lembrados, as humilhações com o objectivo de diminuir e enxovalhar socialmente o próximo não eram somente dirigidas às populações nativas pelos soldados dos ramos das forças armadas que conviviam mais próximo das populações, mas também, (por incompreensível que pareça) era prática corrente também entre as nossas tropas devido à rivalidade (fomentada pelo regime) existente entre as ditas “tropas especiais”
[3] e as ditas “tropas normais”[4], chamando aquelas a estas (naquela sua vaidosa pose sempre arrogante e excessivamente militarista) de “tropa macaca”.
Apesar de serem alvo daquele adjectivo depreciativo com o objectivo nítido de as humilhar, era no entanto a “tropa macaca” que sempre no mato passava os maiores sofrimentos com os ataques constantes dos guerrilheiros aos seus aquartelamentos, que convivia diariamente com o rebentamento de minas anti-carro e com as emboscadas durante os patrulhamentos e as colunas de reabastecimento nas picadas, com as consequências bem dramáticas que resultavam desse confronto constante e diário.
As ditas “tropas especiais” (que numa vaidade extrema tinham logo como imediata preocupação ajustar a sua farda ao corpo para, por um lado, exibirem a sua pose atlética mas também (e isso era uma preocupação constante) para se distinguirem da tal “tropa macaca”), eram tropas que regra geral estavam aquarteladas nas cidades (Porto Amélia, Nampula, Montepuez e Beira) num relativo conforto (se comparado com as restantes tropas que passavam todo o seu tempo no mato) eram melhor alimentadas e mais bem pagas.
Quando iam para o mato (depois de alguns meses de descanso a que as outras tropas não tinham direito) e eram enviadas em operações, nalgumas destas nem sequer tinham contacto com os guerrilheiros da FRELIMO, dado que estes, depois de terem massacrado as tropas “ditas normais” durante todo o ano, abandonavam as pequenas bases no interior de Moçambique e se refugiavam na Tanzânia, logo que sabiam da intervenção na sua zona daquelas tropas “ditas especiais”.
Depois de concluída a operação, aquelas tropas voltavam de novo para a cidade para mais um período de “merecido descanso” (enquanto a dita “tropa macaca” continuava “encafuada” nos mais recônditos aquartelamentos durante toda a comissão) onde aproveitavam para contar histórias rocambolescas para evidenciar o seu heroísmo e alimentar a sua vaidade, quando nem sequer em algumas destas operações alguns deles tiveram qualquer contacto com o inimigo.
Para além destas questões aparentemente menores mas que revelam bem o comportamento chauvinista da maioria dos nossos soldados no período colonial (sejam eles de que ramo fossem) será bom não esquecermos (no caso de Moçambique) os massacres de Wiryamu em 16 de Dezembro de 1972, onde foram mortas indiscriminadamente 400 pessoas entre mulheres e crianças sendo este acto condenado a nível internacional. Dos massacres de Inhaminga efectuados pelas nossas tropas em Agosto de 1973 e Março de 1974 e dos massacres de Mucumbura, para de facto reconhecermos “que nem sempre fomos bons rapazes” no nosso relacionamento com os povos que colonizámos, como querem fazer crer alguns ex-combatentes com o objectivo de branquear a história, como se a nossa presença em África tivesse sido uma “missão evangelizadora”, só porque ficaram embevecidos com as Acções Psico-Sociais levadas a cabo já no final do conflito colonial, acções estas que tinham um único objectivo; cativar as populações com a construção de aldeamentos e a oferta de outras benesses que não passavam de meras “bugigangas”, e afastá-las do apoio à FRELIMO.
É certo que estávamos em guerra, e no meio da emoção e do ambiente dramático que muitos de nós vivíamos (longe da família), sempre na incerteza do dia seguinte, reconheço que muita coisa (consciente ou inconscientemente e de que muitos de nós estaremos hoje arrependidos de o ter feito) foi feita debaixo da angústia e da raiva por ver um ou mais companheiros nossos tombados em combate, ou devido ao isolamento a que muitas tropas foram sujeitas em Aquartelamentos sem o mínimo de condições de habitabilidade, mas também às perturbações emocionais de que muitos soldados foram vítimas por terem estado durante muito tempo sujeitos a intensos combates que lhes abalou a racionalidade, lhes toldou a consciência, danos que muitos ex-combatentes infelizmente ainda hoje padecem, passados que são quase quarenta anos do fim daquele conflito de má memória.
Eu reconheço que é polémico falar sobre estas questões, e que muitos dos ex-combatentes, apesar de reconhecerem a veracidade das mesmas, preferem ignorá-las, mas negar ou tentar esconder a existência destes comportamentos por parte das nossas tropas no período da Guerra Colonial não é sério nem ajuda a construir a história que se pretende isenta e factual, nem tão pouco as manifestações “patrioteiras” de alguns ex-combatentes (que se aproveitaram das declarações infelizes daquele escritor para exibirem o seu fervor colonialista mais primário) contribuem ou ajudam a que as novas gerações percebam o que de facto estava em jogo nas matas densas de África, nas três frentes de batalha, na Guiné, em Angola e Moçambique, onde de facto (e isso tenhamos que reconhecer) ficou mais que provado de que “nem sempre fomos bons rapazes”.

Carlos Vardasca
17 de Setembro de 2010

[1] Crianças dos aldeamentos que iam buscar as nossas roupas para serem lavadas pelas mães ou pelas irmãs mais velhas.
[2] Adjectivo que deriva do diminutivo de terrorista.
[3] Unidades militares compostas por tropas Pára-quedistas, Comandos e de Fuzileiros.
[4] Unidades do exército compostas por Batalhões ou Companhias Operacionais de Caçadores, de Artilharia e de Cavalaria.
Foto: Dois guerrilheiros da FRELIMO capturados, aguardam em Nangade para serem transferidos para a prisão, sob o olhar atento de um agente da PIDE (de costas) que era presença permanente naquele Aquartelamento no norte de Moçambique. Nangade 1971.

sábado, 11 de setembro de 2010

"Cada vez mais próximos de Kytaia"

O caso do Furriel Castro Guimarães, abatido numa operação em 15 de Novembro de 1972 nas margens do rio Rovuma, levado por oficiais tanzanianos para a Tanzânia e sepultado em lugar incerto (possivelmente na aldeia de Kytaia) é sobejamente conhecido de todos que se interessam por questões relacionadas com a Guerra Colonial, dos dramas vividos e dos comportamentos de quem nela interveio (e onde também se provou que nem todos nós “fomos bons rapazes”, contrariando o fervor patrioteiro de alguns ex-combatentes e da forma como se insurgiram contra as infelizes declarações do escritor António Lobo Antunes) tema aliás bastante divulgado no blogue http://dotejoaorovuma-cabel.blogspot.com, onde se procura encontrar pontos de contacto que nos levem cada vez mais próximo daquela aldeia tanzaniana e saber ao certo o local possível da sepultura daquele militar.
Dos vários contactos efectuados e conforme informação prestada anteriormente, cheguei ao contacto com os Missionários da Boa Nova, missão católica radicada em Malema, vila moçambicana relativamente próximo da cidade de Nampula, mais concretamente com o Padre José Alexandre, neste momento de férias em Portugal e com o qual me encontrei no dia 10 de Setembro de 2010 (no Bairro Gouveia, em Alhos Vedros onde tem familiares) dado que ele parte de novo para Moçambique já na próxima Segunda-feira, dia 13, e era urgente colocá-lo ao corrente deste caso e pedir-lhe a colaboração que lhe fosse possível.
Colocado ao corrente de todos os contactos e diligências por mim efectuados e de todos os documentos que escrevi e relacionados com o caso “Furriel Castro Guimarães, desaparecido em combate” que relatam o ocorrido nas margens do rio Rovuma em 15 de Novembro de 1972, o Padre José Alexandre ficou bastante sensibilizado com os factos de que passou a ter conhecimento, prontificando-se de imediato a colaborar neste caso, manifestando o interesse em utilizar os contactos privilegiados e a influência que tem junto das populações devido à sua actividade de Missionário que exerce em Moçambique desde 1968.
Na conversa que mantive com o Padre José Alexandre ao longo de cerca de duas horas, ele adiantou alguns pormenores das diligências que iria efectuar, nomeadamente junto da população da etnia Maconde que habita próximo da Malema mas que com alguma frequência se desloca à Tanzânia para visitar os seus familiares do outro lado da fronteira, ou para tratar de negócios, tentando junto deles recolher informações (alguns deles ex-guerrilheiros com altos cargos na hierarquia local da FRELIMO e bastante prestigiados junto das populações) no sentido de que se possam recordar do ocorrido naquela data ou que, uma vez de visita à Tanzânia, recolham informações junto de responsáveis daquela aldeia (autoridades locais, ex-guardas fronteiriços, ex-combatentes da FRELIMO ou até mesmo junto das populações) e saber se alguém viveu ou se recorda daquele acontecimento e saiba informar onde as autoridades tanzanianas sepultaram aquele militar português.
Aquele Padre, que demonstrou ser muito culto e conhecedor da história de Moçambique, fazendo uma breve análise da distribuição das várias etnias pelo seu território (revelando-se conhecedor da obra “Os Macondes de Moçambique” da autoria de Jorge Dias e Margot Dias
[1]) e uma retrospectiva histórica do período antes e do início do colonialismo, do conflito da guerra colonial (mostrando-se bastante conhecedor das dificuldades por que passavam os nossos soldados durante aquele período e da localização dos vários aquartelamentos isolados nas matas de Cabo Delgado e do Niassa, dos ataques que a FRELIMO lhes infligia com alguma agressividade e frequência) assim como dos conflitos que se geraram após a independência daquela ex-colónia, como a guerra civil que opôs a FRELIMO e a RENAMO e das dificuldades a nível social bem recentes com que se depara a população moçambicana.
Na conversa que mantive com ele durante cerca de duas horas, deu-se ao pormenor de me confidenciar que há alguns anos, no âmbito da sua actividade missionária, baptizou e casou um casal da etnia Maconde que habita agora em Malema e que se reconverteram ao cristianismo, dizendo ele que esta família (que se desloca também com alguma regularidade à Tanzânia) será uma das que com quem também irá contar para colaborar na procura do local onde possivelmente se encontram os restos mortais do Furriel Castro Guimarães.
Foi de facto uma conversa bastante animadora (ficando cada um de nós com os contactos pessoais) a avaliar pela prontidão com que aquele missionário se predispôs a colaborar nesta causa que considerou nobre, mas também muito promissora tendo em conta as várias possibilidades de contactos que foi adiantando, manifestando alguma convicção e expectativa de que os seus resultados (embora nada imediatos) possam vir a ser animadores.
Reconheço, desde que me envolvi neste caso por via do meu amigo ex-Furriel Pinto da Companhia de Caçadores 3309 (naquele tempo destacado para comandante dos GEs 212 estacionados no Aquartelamento do Nhica do Rovuma e companheiro do malogrado Furriel Castro Guimarães) que me vejo envolvido numa espécie de “odisseia ainda sem fim à vista”, mas que a abracei com a convicção de que “nada é impossível” e que “nenhum combatente deve ser deixado para traz” apesar das dificuldades que o caso encerra, tendo em conta os anos volvidos e a dificuldade de se encontrar o local exacto onde possivelmente poderá estar sepultado aquele militar e, na eventualidade de o mesmo ser localizado, transmitir a sua localização à Liga dos Combatentes e esta prosseguir as diligências (contactando os seus familiares, como é óbvio) para a transladação dos seus restos mortais.
Para além de considerar este gesto com alguma carga humanitária de que me orgulho de nele me ter envolvido, considero também que tem como uma das finalidades e objectivos devolver a dignidade àquele militar, contando e dando a conhecer a sua verdadeira história (contrariando a versão oficial do exército) de que o Furriel Castro Guimarães não é nenhum desertor (como erradamente se fez constar oficialmente) mas mais um combatente tombado em combate e, por esse facto, que os seus restos mortais sejam devolvidos à pátria e para junto dos seus familiares, e que o seu nome seja dignamente inscrito no Mausoléu dos ex-combatentes falecidos em combate na Guerra Colonial erigido em Belém, de onde foi e continua injustamente e incompreensivelmente arredado.

Carlos Vardasca
10 de Setembro de 2010

1] Obra editada pela Junta de Investigações do Ultramar. Centro de Estudos de Antropologia Cultural. Lisboa 1970.

domingo, 5 de setembro de 2010

Liga dos Combatentes procura campas em Moçambique

(...) Uma equipa da Liga dos Combatentes vai percorrer Moçambique de sul para norte, entre os próximos dias 4 e 22 de Setembro, numa "acção de reconhecimento" de locais onde estejam corpos de militares portugueses mortos durante a Guerra Colonial, disse o presidente da instituição ao DN.
Segundo o general Chito Rodrigues, a nova missão insere-se no projecto de "Conservação das Memórias" desenvolvido pela Liga e visa, no caso de Moçambique, identificar os restos mortais de militares portugueses para depois os concentrar e trasladar para o cemitério de Languenhe, em Maputo.
Neste cemitério já existe um talhão dedicado aos combatentes portugueses mortos durante a guerra naquela antiga colónia lusa, a exemplo do que sucede na Guiné ou em França, aqui por causa dos soldados que participaram na I Grande Guerra.
Esta nova missão da Liga dos Combatentes vai ter lugar depois de a instituição ter dado por concluídos os trabalhos similares realizados durante os últimos anos na Guiné-Bissau, com o apoio directo de uma equipa de antropólogos liderados pela professora Eugénia Cunha (...)


In: Jornal "Diário de Notícias"
26 de Agosto de 2010


Com o início desta missão agora em terras de Moçambique, abre-se uma nova frente para a identificação dos locais onde foram sepultados os nossos companheiros tombados na Guerra Colonial. Espero, e depois de se resolverem os casos mais imediatos e de mais fácil localização, que a Liga dos Combatentes se interesse pelo assunto relacionado com o Furriel Castro Guimarães (falecido em combate em 15 de Novembro de 1972 e sepultado em terras da Tanzânia) tendo em conta os elementos que já lhes forneci (embora a localização da sua sepultura ainda seja uma incógnita) e outros dados que entretanto eu futuramente poderei fornecer.
Esta convicção está relacionada com a investigação que estou a efectuar em paralelo e em várias frentes, onde se inclui (a mais recente) junto da missão católica "Missionários da Boa Nova" sediada em Moçambique, mais concretamente com o Padre José Alexandre (neste momento de férias em Portugal) e com o qual irei tentar entrar em contacto para o colocar a par do assunto relacionado com o caso do Furriel Castro Guimarães, e pedir pessoalmente a colaboração daqueles Missionários na procura (junto de outras entidades) da localização da sua sepultura em terras da Tanzânia (Aldeia de Kytaia) e a restituição à pátria dos seus restos mortais, para junto dos seus familiares.
"Nada é impossível".
Apesar de reconhecer as dificuldades que este processo encerra, tudo farei junto das entidades possíveis para a identificação do local onde os militares tanzanianos sepultaram o corpo do Furriel Castro Guimarães, depois de o terem abatido em 15 de Novembro de 1972 nas margens do rio Rovuma, no âmbito da "Operação BAGA 6", quando este militar comandava um Grupo de Combate dos GEs 212 aquartelados em Nhica do Rovuma.

Carlos Vardasca
05 de Setembro de 2010

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Almoço Convívio da Companhia de Artilharia 2745


Vai realizar-se no próximo dia 02 de Outubro de 2010 o Almoço Convívio da Companhia de Artilharia 2745. O evento irá ter lugar em RIO MAIOR (distrito de Santarém), no Restaurante "O MINHOTO", que fica à entrada desta cidade, no sentido de quem vem de Lisboa.
Recebi este pedido de publicação da parte do meu amigo Inocêncio Santos, que logo me prontifiquei a elaborar o cartaz, não só pela nossa amizade mas também pela particularidade de ter sido a Companhia de Artilharia 2745 a unidade que a Companhia de Caçadores 3309 foi render ao Aquartelamento de TARTIBO (NOVA TORRES), nas margens do rio ROVUMA, na fronteira com a Tanzânia, tendo partilhado e passado juntas uma boa parte (na época das chuvas) do drama da junção das águas dos rios ROVUMA e METUMBUÉ, que inundavam constantemente o Aquartelamento, obrigando a que todos fugissem para cima das árvores e aí permanecessem (e dormissem) por alguma semanas.
Quem tiver interessado em participar naquele evento, basta clicar em cima do cartaz que se reproduz (para o ampliar) e inscrever-se, entrando em contacto com INOCÊNCIO SANTOS e MANUEL da COSTA e fazer a sua inscrição com a maior brevidade possível.

Carlos Vardasca
Quarta-Feira, dia 01 de Setembro de 2010

"O Transporte para o Teatro de Operações"
(...) A CART 2745 sob o comando do capitão de Artilharia José Fernando Jorge Duque teve como munidade mobilizadora o GACA 2 em Torres Novas e embarcou em Lisboa em 22 de Julho de 1970 a bordo do navio "NIASSA" com destino a Moçambique. Inicialmente estava integrada num Batalhão de Artilharia, que foi desmembrado antes de entrar em operações, passando as suas unidades operacionais à categoria de Companhias Independentes.
Chegada ao Porto de Lourenço Marques em 12 de Agosto a CART 2745 recebeu a missão de Companhia de Intervenção do Comando Chefe de Moçambique, devendo estabelecer a sua base em Furancungo (Tete) para onde se deveria dirigir, após desembarque na Beira. Porém, já navegando a bordo do mesmo navio "NIASSA" entre Lourenço Marques e Beira, recebeu durante uma das noites a visita dum oficial do Quartel General de Nampula, vindo expressamente do QG, o qual desembarcou de um barco pneumático para o navio; trazia uma Ordem de Operações que alterava a missão inicialmente recebida pela CART 2745 e por via dessa alteração já não desembarcava na Beira mas sim em Nacala.
Assim a CART 2745, continuou no "NIASSA" até Nacala onde desembarcou em 17 de Agosto, ficando aquartelada na Base dos Paraquedistas; ali completou o pessoal e o material, recebeu todo o armamento e equipamento (excepto viaturas) e, de acordo com a Ordem de Operações, preparou-se para entrar em operações na área fronteiriça de Moçambique com a Tanzânia.
Após completa em equipamento reembarcou em 22 de Agosto, agora na Fragata NRP Hermenegildo Capelo e continuou a navegar para Norte para desembarcar em Palma no dia seguinte. O transporte de cerca de 150 militares numa fragata foi muito penoso, pois o navio não está preparado para transporte de tropas; a CART 2745 (pessoal e material) viajou amontoada no convés do navio, refrescada pelas vagas que lambiam o convés. Chegada ao largo de Palma, no extremo norte de Moçambique, teve de fazer transbordo de pessoal e materiais, em alto mar, para pequenos barcos tradicionais de pesca à vela.
Foi uma operação original, além de arriscada (...)

In: A CART 2745 em Moçambique. José Fernando Jorge Duque. ex-comandante da CART 2745