quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

"O nosso Pentágono"


(...) Depois de ter sido rendida no Aquartelamento de Tartibo pela Companhia de Artilharia 3506, em 18 de Fevereiro de 1972 a Companhia de Caçadores 3309 regressou a Nangade, onde de facto já se respirava alguma segurança embora aparente. Por questões de estratégia militar, mais tarde houve necessidade de construir um novo aquartelamento, mais próximo do itinerário que ligava os aquartelamentos de Nangade, Pundanhar e Palma (e de zonas onde se situavam os trilhos de infiltração da FRELIMO no norte de Moçambique) tendo o aquartelamento de Tartibo sido abandonado. Mais uma vez a C.CAÇ. 3309 foi chamada a intervir em 23 de Setembro de 1972, mas desta vez somente com o 3º Pelotão, que foi destacado para participar na construção do novo aquartelamento da C.ART 3506 a que se deu o nome de MUIDINE. Em operações de reabastecimento daquele aquartelamento, ainda lá me desloquei algumas vezes e, em todas elas, a sensação de isolamento era atroz e de uma violência inesquecível. Como era possível, que naquele amontoado de tendas, com um perímetro defensivo muito pequeno, protegido apenas por montes de areia em todo o seu redor e sem qualquer árvore que lhe emprestasse qualquer sombra, vivessem quase duzentos homens, para não falar do perigo que espreitava a cada instante vindo da mata circundante. Foi um alívio quando (após a construção daquele aquartelamento), no dia 25 de Outubro do mesmo ano o 3º Pelotão da C.CAÇ. 3309 regressou a Nangade, com os seus soldados extenuados, como se tivessem regressado de uma tempestade de areia, cobertos de uma camada de pó fino que não lhes deixava ver a expressão colectiva de exaustão. Foi de facto uma aventura desgastante (entre tantas outras vividas pela C.CAÇ.3309, como foi um dos casos, a "epopeia trágico-marítima" de Nova Torres), ter sobrevivido naquele isolamento e em condições tão precárias, a avaliar pela foto aérea de MUIDINE (irónicamente construido em Pentágono) tirada de helicóptero, que retrata bem a sensação de abandono e de desprezo a que foram votados todos os soldados que por ali passaram. Por isso não é estranha a frase de um piloto de helicóptero que ali se deslocou pela primeira vez para levar o correio e víveres, quando do ar deparou com a violência daquele "degredo":
- Porra! é uma sensação muito estranha que se vive daqui de cima, tal é o isolamento a que esta malta foi sujeita:
- Estes gajos até pareçe que foram mandados para aqui de propósito para morrer! (...)
Carlos Vardasca
13 de Dezembro de 2007
Foto: Vista aérea do Aquartelamento de MUIDINE.

10 comentários:

José Azevedo disse...

Vardasca,
Parabéns pelo teu trabalho, na realidade está muito bem executado e só quem passou por esta bela cidade de MUIDINE sabe dar o real valor.
Gostei de ver a foto aérea pois nunca imaginei ver a cidade que vi nascer em Moçambique.
Azevedo (Furriel da CART 3506)
Um Abraço

José Azevedo disse...

Parabéns pelo belo trabalho executado.
Somente quem passou por elas sabe dar o devido valor.
Nós que subrevivemos somos os sortudos da guerra.
Fiquei deveras espantado com a foto aérea do meu MUIDINE, para quem como eu viu nascer aquela bela cidade!
Azevedo (Furriel Milicinao da CART 3506)

Zé.Ferr@ disse...

Sendo também um ex-Nangadista, entre 73/74, servindo o B.Caç.5013 como Fur.Mil. foi com muito gosto que revi através das imagens aqui expostas, alguns dos episódios que lá passei. Parabéns e boa continuação.
Bom Ano.

antónio disse...

Boa noite. Tenho andado a ver umas coisas do site. Estive 6, 7 mezes em Muidine, integrado no 1º grupo de combate, da 3º Companhia comanddad pelo Capitão Miliciano Armelim Oliveira. Que mal pode arranjou baixa Médica e foi evcuado. O Alferes Queiróz passou a comandr interinamente a Companhia. Eu, na altura o furriel Miliciano mais graduado, passei a Comandar o grupo, o outro furriel, era o Alves de Almada.Passados esses mezes em Muidine, decidi que não ia ficar ali, naquela merda. Fui voluntário para várias missões e andei sempre pelo Norte em Zona de guerra. Mas Muidine: era isolamento, horas esquecidas, ninguém, sol, ratos macondes, que de noite, passavam por cima de um gajo e moscas. Tmavamos duche e bebiamos àgua da Lângua.

antónio disse...

Boa noite. Tenho andado a ver umas coisas do site. Estive 6, 7 mezes em Muidine, integrado no 1º grupo de combate, da 3º Companhia comanddad pelo Capitão Miliciano Armelim Oliveira. Que mal pode arranjou baixa Médica e foi evcuado. O Alferes Queiróz passou a comandr interinamente a Companhia. Eu, na altura o furriel Miliciano mais graduado, passei a Comandar o grupo, o outro furriel, era o Alves de Almada.Passados esses mezes em Muidine, decidi que não ia ficar ali, naquela merda. Fui voluntário para várias missões e andei sempre pelo Norte em Zona de guerra. Mas Muidine: era isolamento, horas esquecidas, ninguém, sol, ratos macondes, que de noite, passavam por cima de um gajo e moscas. Tmavamos duche e bebiamos àgua da Lângua.

José Azevedo disse...

Após uma longa ausência, venho novamente, lembrar que Tartibo, Muidine e Nangande,foram terras por onde passei, e apesar de bons e maus momentos, é bom sempre lembrar o espírito de amizade e camaradagem, que existia no no grupo de combate CARTª 3506. Fiz grandes amizades e recordo com muita saudade o 1º Cabo António Rosa, falecido, num trájico já em Portugal, acidente ao serviço de agremiação desportiva da sua comunidade, em plena terra natal. Era um Homem enexcedível, de todos os pontos de vista, em tempos chegou a entrar no bloog, fazendo os seus comentários, amigo do amigo e com ele não havia tristezas. Sempre compareceu aos encontros anuais da CART 3506, fossem em que lugar fosse.Os dois polos tocavam-se, Ele vindo da cidade de Faro, do Algarve, e Eu indo do Norte mais própriamente da cidade de Braga, do Minho.
Para o meu amigo Rosa aqui vai um abraço cheio de saudade e que Deus o tenha no seu recanto, pois Ele bem merece.
O eterno amigo Furriel Azevedo da CARTª 3506.

António Eugénio Pintado Jorge disse...

Quem é o Sr dito o FurMil mais gra duado da 3.CCaçBCaç5013 em Muidi ne? Então eu não estive lá porque penso que fui eu! Digo-o agora e aqui que a 3Comp foi muito bem entregue ao Al.Mil Queirós,dando muito boa conta de si,demonstrando preparação,e ficando demonstrado que os exércitos não se fazem sem soldados,mas não existem sem che fes e ... colaboradores; e no fim quase todos foram felizes, por te rem regressado a casa. PINTADO JORGE Fur Mil

António Eugénio Pintado Jorge disse...

Quem é o Sr dito o FurMil mais gra duado da 3.CCaçBCaç5013 em Muidi ne? Então eu não estive lá porque penso que fui eu! Digo-o agora e aqui que a 3Comp foi muito bem entregue ao Al.Mil Queirós,dando muito boa conta de si,demonstrando preparação,e ficando demonstrado que os exércitos não se fazem sem soldados,mas não existem sem che fes e ... colaboradores; e no fim quase todos foram felizes, por te rem regressado a casa. PINTADO JORGE Fur Mil

Eugenio Pintado Jorge disse...

Parabéns ao Carlos Vardasca,meu ante cessor, pelo desassombro e rigor nos comentários acerca de Muidine, um inferno de 5 estrelas de que a 3CCaç BCaç 5013 de que fiz parte, pôs fim à ignomínia praticada por pessoas que na história de Portugal pertencerão ao quadro de honra da infâmia

Pintado Jorge

Unknown disse...

Olá, Pintado. Peço desculpa por ter dito que era o Furriel mais graduado. Não me exprimi bem. Aquilo que queria dizer era que: de entre mim e o Alves, furrieis do 3º grupo de combate, eu era o que tinha mais graduação.