quarta-feira, 2 de abril de 2008

"A malta gostou de lá estar"


(...) Geralmente, "quem toca o clarim" é o Arteiro (1), que anualmente (com arte e engenho) "toca a reunir" para que a malta compareça aos Encontros Nacionais da Companhia de Caçadores 3309, e a malta, como "obediente" que é e porque gosta de lá estar, lá vai comparecendo transportando em si uma imensa satisfação. Esta espécie de "chamada às trincheiras" já se realiza há 18 anos, tendo-se realizado a primeira reunião preparatória dos Encontros em 1988 no Porto, no restaurante "A Bruxa" (com a presença de apenas nove elementos) e o último em Pombal no passado dia 08 de Março de 2008 no restaurante Litoral.
Há quem venha todos os anos do Açores e até de França, porque vê naqueles momentos uma profunda e transbordante alegria, onde cada um também revê companheiros que há muito deixara de lhes "pôr a vista em cima" (como foi o caso deste ano do Valoura e do Pinheiro, que desde que regressámos de Moçambique nunca mais ninguém os viu) e agora voltaram ao nosso convívio ao fim de 35 anos de "deserção das fileiras". Nestes Encontros, as conversas são sempre tão transversais, que passam pela vida profissional, pela "chacota" amiga do estado físico já bastante volumoso de cada um, indo sempre, mesmo que não seja intencional nem com qualquer dose de saudosismo (como é óbvio) resvalar para os momentos conturbados por que passou a C.CAÇ. 3309 durante a sua presença no norte de Moçambique. No meio do entusiasmo que por vezes roça o tom ingenuamente "patrioteiro", lembram-se os locais das emboscadas, os companheiros tombados em combate; recordam-se tragédias, momentos de desânimo e de angústia, onde por vezes as lágrimas não perdem a oportunidade de escorrer pela face já rugosa do tempo, mas também momentos de alegria por partilharmos aquele dia com a nossa presença, num ambiente salutar, cuja confraternização nos fortalece como homens que presenciámos os mesmos medos e as mesmas incertezas. Só quem não presencia estas reuniões é que não compreende o porquê de tanta insistência em manter estes encontros de ex-combatentes. Por isso é que eu concordo que, por ser tão específica e diversificada a experiência de cada Companhia que compunha o Batalhão de Caçadores 3834 nas suas áreas de intervenção; por serem tão distintos e com características próprias os afectos que se forjaram entre si e que sobreviveram dos "escombros" daquela "breve pausa num tempo das nossas vidas" que nos retirou um pedaço da nossa juventude; por considerar que cada experiência é única e que cada um quer partilhá-la somente entre aqueles que a viveram como se só eles a soubessem interpretar, sou da opinião de que, para além dos Encontros que se poderão realizar esporadicamente a nível de Batalhão (onde cada um acabará, por uma razão lógica, por partilhar experiências e conviver mais com quem lhe é mais próximo e se identifique) que se continue no entanto a privilegiar anualmente os Encontros Nacionais ao nível das Companhias (onde e quando muito bem entenderem as respectivas Comissões Organizadoras) como forma de se manter e estreitar os laços entre aqueles que partilharam e comungaram das mesmas alegrias e angústias (...)
Carlos Vardasca
02 de Abril de 2008
Foto: XVIII Encontro Nacional da Companhia de Caçadores 3309 realizado em Pombal, no dia 08 de Março de 2008
(1) João da Silva Arteiro, companheiro responsável (embora coadjuvado por outros) pela organização dos Encontros Nacionais da C.CAÇ. 3309 desde que estes se realizam até aos dias de hoje.

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