(...) Lá de tempos a tempos é que o Aquartelamento de Nhica do Rovuma era abastecido. Pequeno Aquartelamento a cerca de nove quilómetros do rio Rovuma, meio desordenado, onde as palhotas se confundiam com as instalações militares, era "dia de festa" quando as escassas viaturas entravam pelo aquartelamento a dentro, aparecendo do meio da vegetação que rodeava aquela pequena povoação que servia da base aos GEs 212 comandado pelo Furriel Pinto (1) da Companhia de Caçadores 3309 e para ali destacado.
Foi desta base meio perdida entre Pundanhar e Palma que partiu no dia 14 de Novembro de 1972 um Grupo de Combate dos GEs 212 para efectuar a Operação "BAGA 6", força de combate comandada pelo Furriel Castro Guimarães (2) que tinha como objectivo obter informações do outro lado da Tanzânia sobre a eventualidade de haver, junto à margem do rio Rovuma algum apoio logístico para abastecer a FRELIMO (...)
Dos pormenores da operação já os descrevi aqui no blog, mas nunca é demais lembrar que foi no dia 15 de Novembro de 1972 e no âmbito dessa operação que o Furriel Guimarães foi abatido pela FRELIMO, tendo o seu corpo sido levado para a Tanzânia e aí sepultado, possivelmente próximo da aldeia tanzaniana de Kytaia, dado ser a aldeia mais próxima do local onde ocorreu o incidente.
Deste facto já dei conhecimento aos vários organismos oficiais tanto nacionais como estrangeiros ou outros relacionados com o conflito colonial, nomeadamente à Liga dos Combatentes e à Associação de Operações Especiais (Rangers), tendo esta última prometido, através de um dos seus dirigentes; Magalhães Ribeiro, que na sua próxima Assembleia Geral o assunto seria debatido, no sentido de se coordenarem esforços para o possível desencadear de acções que visem a devolução do restos mortais do Furriel Guimarães à pátria.
Quanto à Liga dos Combatentes, que reconheceu a dificuldade em tratar este assunto dado o corpo do Furriel Guimarães se encontrar em território tanzaniano, fez chegar no entanto ao Coronel Câmara Stone, Adido Militar na Embaixada de Portugal em Maputo (Moçambique) um ofício no sentido de solicitar apoio para se iniciar o processo de confirmação da localização da possível sepultura do referido militar português.
Para que não caia no esquecimento, renovo daqui o meu apelo, fazendo votos para que todas as organizações ou associações por mim contactadas no sentido de, caso hajam informações sobre o desaparecimento do Furriel Guimarães que o façam chegar a carlosvardasca@netcabo.pt, informações essas que serão posteriormente enviadas para os seus familiares.
Por outro lado, e no âmbito da campanha a nível nacional que se está a desencadear no sentido de resgatar todos os militares portugueses tombados em combate e ainda sepultados em campas degradadas nos vários países onde ocorreu o conflito colonial, saber se essas organizações já incluiram nas suas listas o nome do Furriel Guimarães, como mais um combatente (entre tantos) a ser encontrado o seu paradeiro e ser devolvido à pátria para tranquilidade dos seus familiares.
Carlos Vardasca
17 de Outubro de 2008
Foto 1: Coluna de reabastecimento chega ao Aquartelamento do Nhica do Rovuma, vendo-se em primeiro plano o Furriel Pinto da C.CAÇ. 3309 mas destacado para comandar os GEs 212 ali estacionados.
Fotos 2 e 3: O Furriel Miliciano Guimarães na recruta em Lamego (1970) e na picada entre o Nhica do Rovuma e Pundanhar, antes de falecer em 15 de Novembro de 1972. Moçambique 1971. (fotos cedidas gentilmente pelo seu irmão José Manuel de Castro Fernandes Ferreira, médico de Gastrenterologia no Hospital de S.João (Porto)
(1) Filipe Manuel Cardão Pinto, Furriel Miliciano NM 14172170 da Companhia de Caçadores 3309 e comandante dos GEs 212 em Nhica do Rovuma. Moçambique
(2) João Manuel de Castro Guimarães, Furriel Miliciano NM 12619071 dos GEs 212, natural da cidade de Fafe e destacado nos GEs 212 em Nhica do Rovuma. Moçambique
2 comentários:
Tambem estive no nhica nesta data.Lembro-me perfeitamente da fotografia e ate penso que o elemento que esta de costas seja eu.tenho em meu poder varias fotografias desse maravilhoso tempo.Ainda nao me apresentei, nao tenho a certeza se alguem me conhece.Sou o valentim duarte pereira estive a dirigir civilmente o aldeamento em substituicao da guarda fiscal que entretanto abandonou,tudo isto em 1971 e 1972.
Viva caro amigo
Embora com algum atraso, que desde já lhe peço imensas desculpas, aqui estou a responder-lhe.
Quanto ao ter estado em Nhica do Rovuma pergunto-lhe se por acaso não me pode enviar algumas fotos (digitalizando-as)sobre esses tempos acompanhadas por um pequeno texto da sua autoria para o colocar no blog.
O meu mail é:
carlosvardasca@netcabo.pt
O meu obrigado e até breve.
Carlos Vardasca
ex-combatente da C.CAÇ.3309
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