Quando o velho cargueiro “Êxodos” atracou em 1947 em terras da Palestina, todo aquele amontoado de “emigrados” comoveu a opinião pública internacional, devido às condições degradantes em que vinham vivendo dentro daquela embarcação, sem o mínimo de condições básicas de sobrevivência, na ânsia de chegar à “terra prometida”.
As potências militares da altura, por uma questão de ordem religiosa, política e até económica; nomeadamente a Inglaterra que era a potência colonizadora na região, apresentaram ao mundo aquela e outras situações dramáticas que se seguiram como justificação para aquele povo ter o direito a uma pátria, criando na opinião pública um sentimento de solidariedade em redor de uma questão que aparentemente parecia ser legítima, dado o inquestionável prestígio que os judeus vinham granjeando com o findar da II Grande Guerra Mundial, por terem sido um povo perseguido pelo regime nazi, e que ninguém, perante este clima emocional e a força das armas inglesas que se colocaram ao seu lado ousou questionar.
Ao reconhecer-se aos Judeus (com base numa mera questão bíblica sem qualquer fundamento jurídico) o direito a uma pátria “encaixando-os” pela força das armas num território usurpado a um outro povo que ironicamente ainda teimam em não reconhecer, estava-se já, nessa altura, a tentar redesenhar o mapa do Médio Oriente em favor das potências ocidentais, “espetando uma cruz no coração da Palestina”, bem no centro do mundo árabe, cujo mapa tem sido várias vezes desenhado “bem ao jeito das Cruzadas” e que tem vindo, até aos nossos dias, a colocar os Palestinianos numa situação como se fossem uns estranhos na sua própria terra e violentados de forma tão cruel na sua identidade.
Por tudo isto, ser Palestiniano, hoje, é compreender a revolta de quem na sua própria terra se vê obrigado a vegetar indefinitivamente em tendas e rodeado de arame farpado; a ter que se deslocar dentro da sua pátria e identificar-se diariamente ao ocupante como se fosse um estranho dentro da sua própria casa; ver as suas terras invadidas ilegalmente por colonos que avançam com buldozers sob protecção militar israelita, ou a ser sistematicamente bombardeado e assistir à destruição das suas cidades e aldeias enquanto os colonatos vão proliferando, tentando colonizar todo o espaço que possa ser colonizável, reduzindo cada vez mais o espaço territorial Palestiniano, visando, a longo prazo, o seu controlo total.
Ser Palestiniano, hoje, é saber condenar a violência do ocupante israelita e compreender a angústia e o desespero daquele povo, mas é também, não aprovar os actos suicidas desencadeados por grupos extremistas contra alvos civis israelitas que na maioria dos casos vitimam inocentes, e que poderão, aos invés do pretendido, criar uma certa indignação mesmo na opinião pública israelita favorável à criação de um estado Palestiniano, alimentando novos inimigos quando o que se pretende é o contrário, ou seja, granjear um maior apoio na comunidade israelita e internacional a um verdadeiro processo de paz para a região e à criação de um Estado Palestiniano.
Ser Palestiniano, hoje, é desejar a paz por quem tantos já deram a vida, mas também é estar um pouco céptico e questionar como é que é possível que, passados que são cerca de cinquenta e seis anos, ver judeus que reivindicavam para si o direito a ter uma pátria, negar aos Palestinianos o direito a terem um estado seu, no seu próprio território, onde possam viver com dignidade, educarem os seus filhos e criarem uma sociedade próspera onde a convivência entre os diferentes povos seja uma realidade.
Ser Palestiniano, hoje, embora sedento de paz e ansioso por abandonar os campos de refugiados e regressar à sua pátria finalmente livre após a retirada israelita, é também desconfiar das recentes negociações à volta do duvidoso “Roteiro para a paz” desenhado por George. W. Bush com a aprovação amuada de Ariel Sharon; é estranhar o afastamento das negociações de Yasser Arafat e da Autoridade Palestiniana, e considerar muito suspeito que um “pistoleiro profissional e um falcão terrivelmente predador” se tenham reconvertido em “pombas brancas de ramo de oliveira no bico”, e venham agora falar de paz depois de terem semeado em seu redor um campo de mártires a troco de uns barris de petróleo.
Ser Palestiniano, hoje, é reconhecer que o que se passou no Iraque visou também enfraquecer a sua luta, e que não passou de mais um embuste com objectivos estratégicos, com fins económicos e obscuras intenções neocoloniais para o Médio Oriente, ornamentado com o falso resgate de Jessica Lynch que visou levantar a moral das tropas dos EUA tão necessitadas desde a derrota no Vietname.
Ser Palestiniano, hoje, é saber negociar com inteligência mas resistir à agressão israelita “não dando a outra face”; é não deixar tombar a bandeira que flutua prenhe de indignação que será o fertilizante que fará florescer a sua pátria; um verdadeiro Estado Palestiniano.
Carlos Vardasca
As potências militares da altura, por uma questão de ordem religiosa, política e até económica; nomeadamente a Inglaterra que era a potência colonizadora na região, apresentaram ao mundo aquela e outras situações dramáticas que se seguiram como justificação para aquele povo ter o direito a uma pátria, criando na opinião pública um sentimento de solidariedade em redor de uma questão que aparentemente parecia ser legítima, dado o inquestionável prestígio que os judeus vinham granjeando com o findar da II Grande Guerra Mundial, por terem sido um povo perseguido pelo regime nazi, e que ninguém, perante este clima emocional e a força das armas inglesas que se colocaram ao seu lado ousou questionar.
Ao reconhecer-se aos Judeus (com base numa mera questão bíblica sem qualquer fundamento jurídico) o direito a uma pátria “encaixando-os” pela força das armas num território usurpado a um outro povo que ironicamente ainda teimam em não reconhecer, estava-se já, nessa altura, a tentar redesenhar o mapa do Médio Oriente em favor das potências ocidentais, “espetando uma cruz no coração da Palestina”, bem no centro do mundo árabe, cujo mapa tem sido várias vezes desenhado “bem ao jeito das Cruzadas” e que tem vindo, até aos nossos dias, a colocar os Palestinianos numa situação como se fossem uns estranhos na sua própria terra e violentados de forma tão cruel na sua identidade.
Por tudo isto, ser Palestiniano, hoje, é compreender a revolta de quem na sua própria terra se vê obrigado a vegetar indefinitivamente em tendas e rodeado de arame farpado; a ter que se deslocar dentro da sua pátria e identificar-se diariamente ao ocupante como se fosse um estranho dentro da sua própria casa; ver as suas terras invadidas ilegalmente por colonos que avançam com buldozers sob protecção militar israelita, ou a ser sistematicamente bombardeado e assistir à destruição das suas cidades e aldeias enquanto os colonatos vão proliferando, tentando colonizar todo o espaço que possa ser colonizável, reduzindo cada vez mais o espaço territorial Palestiniano, visando, a longo prazo, o seu controlo total.
Ser Palestiniano, hoje, é saber condenar a violência do ocupante israelita e compreender a angústia e o desespero daquele povo, mas é também, não aprovar os actos suicidas desencadeados por grupos extremistas contra alvos civis israelitas que na maioria dos casos vitimam inocentes, e que poderão, aos invés do pretendido, criar uma certa indignação mesmo na opinião pública israelita favorável à criação de um estado Palestiniano, alimentando novos inimigos quando o que se pretende é o contrário, ou seja, granjear um maior apoio na comunidade israelita e internacional a um verdadeiro processo de paz para a região e à criação de um Estado Palestiniano.
Ser Palestiniano, hoje, é desejar a paz por quem tantos já deram a vida, mas também é estar um pouco céptico e questionar como é que é possível que, passados que são cerca de cinquenta e seis anos, ver judeus que reivindicavam para si o direito a ter uma pátria, negar aos Palestinianos o direito a terem um estado seu, no seu próprio território, onde possam viver com dignidade, educarem os seus filhos e criarem uma sociedade próspera onde a convivência entre os diferentes povos seja uma realidade.
Ser Palestiniano, hoje, embora sedento de paz e ansioso por abandonar os campos de refugiados e regressar à sua pátria finalmente livre após a retirada israelita, é também desconfiar das recentes negociações à volta do duvidoso “Roteiro para a paz” desenhado por George. W. Bush com a aprovação amuada de Ariel Sharon; é estranhar o afastamento das negociações de Yasser Arafat e da Autoridade Palestiniana, e considerar muito suspeito que um “pistoleiro profissional e um falcão terrivelmente predador” se tenham reconvertido em “pombas brancas de ramo de oliveira no bico”, e venham agora falar de paz depois de terem semeado em seu redor um campo de mártires a troco de uns barris de petróleo.
Ser Palestiniano, hoje, é reconhecer que o que se passou no Iraque visou também enfraquecer a sua luta, e que não passou de mais um embuste com objectivos estratégicos, com fins económicos e obscuras intenções neocoloniais para o Médio Oriente, ornamentado com o falso resgate de Jessica Lynch que visou levantar a moral das tropas dos EUA tão necessitadas desde a derrota no Vietname.
Ser Palestiniano, hoje, é saber negociar com inteligência mas resistir à agressão israelita “não dando a outra face”; é não deixar tombar a bandeira que flutua prenhe de indignação que será o fertilizante que fará florescer a sua pátria; um verdadeiro Estado Palestiniano.
Carlos Vardasca
13 de Junho de 2003
In jornal “O RIO” nº 134 de 1 a 15 de Julho de 2003.
Nota: Embora escrito em 2003, este artigo mantêm toda a sua actualidade (apesar dos "falcões e dos predadores" e de outros intervenientes no conflito terem mudado de nome) no que se relaciona com a actual ofensiva israelita na Faixa de Gaza, que se insere (embora escudando-se por detrás de actos extremistas e reprováveis) na ocupação sistemática do território Palestiniano, como parte integrante da expansão sionista na construção da "grande pátria de Israel" com a cumplicidade dos Estados Unidos da América e de países europeus.
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