terça-feira, 29 de janeiro de 2008

"... Homem ao mar... homem ao mar!

(...) Depois de dias antes, e quando o "Niassa" navegava nas águas quentes do Golfo da Guiné, onde se efectuou uma evacuação em alto mar para prestar assistência a um soldado que escorregara numa escada do navio e fracturara a coluna, o "Niassa" navegava agora com destino a Luanda e a um dia da sua chegada, quando a aparente acalmia fora interrompida por gritos de aflição:
- Homem ao mar... homem ao mar!
Logo todos nós fomos alertados para a ocorrência e corremos para o convés, saindo dos porões onde nos tinham encafuado "mais parecendo ratos que fogem da sua toca inundada". O "Tarzan"(1) (como ficou a ser conhecido depois deste acto irreflectido), numa atitude de desespero devido a uma discussão que tivera com Furriel da sua Companhia, e por este o ter repreendido por andar sempre empoleirado nos mastros do navio, atirou-se para as águas profundas do Atlântico. De imediato foram lançadas bóias de sinalização e iniciaram-se as manobras de salvamento, com aquele navio de transporte de tropas a desviar-se ligeiramente da sua rota e navegando em círculo, de onde foram arreadas algumas baleeiras com pessoal médico a bordo para lhe serem prestados os primeiros socorros. O mar estava calmo mas por ser de noite, as buscas foram dificultadas para o resgate do "Tarzan" daquelas águas infestadas de tubarões, tendo a sua "sorte" sido outra se da sua queda tivesse resultado algum ferimento, tornando-se presa fácil daqueles seláquios esfomeados.
As operações de busca não foram fáceis devido à escuridão, tendo a baleeira regressado uma das vezes ao navio sem qualquer contacto com o náufrago. Foi devido à insistência do Comandante Militar do navio (um oficial de Marinha) que ordenou aos que procuravam o náufrago que fizessem mais uma tentativa, tendo-lhes indicado outra zona para baterem.
Foi ao cabo de cerca de uma hora que se ouviram os gritos do "Tarzan" na noite, tendo sido recolhido pelos salvadores.
Contrariando as cenas que nos eram familiares na nossa infância e projectadas nos ecrans de cinema, naquele dia 04 de Fevereiro de 1971 e com 11 dias de navegação, "não foi o Tarzan que saltou das lianas para salvar a sua amada Jane, mas foi aquele salvo de ser tragado por um imenso monstro que diziam existir entre os trópicos de Câncer e de Capricórnio" (...)

Carlos Vardasca
29 de Janeiro de 2008

(1) Óscar de Oliveira Martins, Soldado Cozinheiro da CCS do Batalhão de Caçadores 3834.
Foto: O Óscar exibe um troféu de caça no Aquartelamento de Moçimboa do Rovuma. Moçambique 1971



Sem comentários: