Num livro recentemente editado Intitulado, "História do Batalhão de Caçadores 3868 e o fim da Guerra Colonial", são nele descritos alguns apontamentos referentes ao Furriel Guimarães e às circunstâncias do seu falecimento que não correspondem à realidade, se os confrontarmos com o relatório oficial elaborado pelo comandante do Grupo de Combate dos GEs 212 que se encontravam naquele dia a desencadear aquela operação. Em minha opinião, as imprecisões relatadas na referida obra resultaram não por culpa dos seus editores que não presenciaram os factos, limitando-se a descrever o que ouviram via rádio, cuja transmissão (tendo em conta a confusão que se gerou no teatro de guerra e nas próprias comunicações) muito provavelmente não reflectia com exactidão o que de facto estava a ocorrer naquele momento em que aquele militar foi abatido nas margens do rio Rovuma em 15 de Novembro de 1972.
Posteriormente (16 de Março de 1973), e pelo facto de ter surgido um jornal tanzaniano que após ter sido traduzido veio ainda introduzir mais algumas imprecisões ao que de facto ocorreu, dado que, numa nítida acção de propaganda distorce toda a verdade no seu texto que o ilustra com a foto do Furriel Guimarães já falecido, onde o seu corpo aparece junto de alguns oficiais do exército daquele país que fazia fronteira com Moçambique.
Em relação ao que é descrito na página 145 da referida obra (que não corresponde à verdade dos factos tendo em conta o relatório oficial da referida operação) quando se diz:
- "...Grande confusão nas comunicações com o Grupo de Combate dos GEs 212 comandado pelo Furriel Guimarães, em operação junto ao Rovuma, dado estarem debaixo de fogo. Um elemento do GR pediu a evacuação do Furriel Guimarães por este estar muito ferido, depois pediu apoio aéreo e logo a seguir disse que o viram passar para o outro lado da fronteira..."
Na realidade, e segundo o relatório da Operação "BAGA 6" elaborado logo após a conclusão da mesma pelo Furriel Pinto (da Companhia de Caçadores 3309 mas destacado para comandar os GEs 212 no Nhica do Rovuma) e testemunhado pelos soldados do seu Grupo de Combate (GEs 212) que viveram aqueles momentos dramáticos, o Furriel Guimarães foi logo abatido ainda no areal que se formara no meio do rio Rovuma sem sequer ter pisado a margem do lado da Tanzânia, embora já muito próximo da mesma, (1) sendo levado para a outra margem durante a noite, possivelmente pelos guardas fronteiriços que o abateram.
Quanto à tradução do texto do jornal tanzaniano em que o mesmo diz:
- "... o soldado português foi visto por volta das 7,30 horas da manhã, quando tentava matar uma criança que se encontrava a tirar água. Quando se disse ao soldado para parar não obedeceu, pelo que foi alvejado..."
O texto revela simplesmente e traduz um acto deliberado de propaganda de contra-informação das autoridades tanzanianas (o que se poderá considerar natural em tempo de guerra, pois as autoridades portuguesas também adulteravam por vezes as informações para exaltar feitos das nossas tropas e que na realidade não tinham acontecido) dado que nada do que é descrito corresponde à realidade, se confrontado com o texto original que relata os acontecimentos ocorridos naquela data e amplamente descritos no relatório da operação já citada e relatados por quem os viveu.
Espero que este esclarecimento resulte na clarificação dos factos, factos que até o próprio relatório efectuado pelo Estado Maior do Exército tentou adulterar, quando insinuou que o Furriel Guimarães tinha desertado para a Tanzânia negando que o mesmo tivesse sido morto em combate (ignorando o já citado relatório da "Operação BAGA 6") possivelmente a causa que levou aquele organismo a não incluir o nome daquele militar na lista dos combatentes falecidos em combate e inscritos no Mausoléu dos Combatentes em Belém, onde legitimamente pertencia estar, lado a lado com os restantes combatentes que faleceram naquele conflito Colonial da má memória para toda a juventude que nele participou.
Carlos Vardasca
17 de Dezembro de 2008
Fotos 1 e 2: Oficiais do exército da Tanzânia junto do corpo do Furriel Guimarães depois de ter sido abatido (15 de Novembro de 1972), e o mesmo militar antes de falecer em combate numa operação na picada entre os Aquartelamentos de Pundanhar e o Nhica do Rovuma. 1972
Foto 3: Texto traduzido de um jornal da Tanzânia onde se descreve (numa versão adulterada com fins propagandísticos) as circunstâncias da morte do Furriel Guimarães.
(1) É reconhecido pela cartografia da zona que os limites da fronteira no rio Rovuma entre a Tanzânia e Moçambique (na altura Portugal) eram muito irregulares, ao ponto de parte do território tanzaniano em determinadas zonas ser mais próximo do território moçambicano, o mesmo acontecendo com a delimitação da fronteira de Moçambique com a Tanzânia, o que por vezes se colocava a dúvida da real violação (ou não) do espaço fronteiriço de ambos os países.
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