quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

"...E ali ficámos amontoados em Porto Amélia"

(...) Depois de ter passado a Cidade do Cabo e aquela "ponta tenebrosa" onde confluem as correntes do Atlântico e do Índico, o navio "Niassa" fazia agora uma espécie de navegação de cabotagem, sempre próximo da costa, avistando-se ao longe as montanhas da África do Sul. O mar estava alterado, com a espuma muito branca a espreguiçar-se sobre as ondas de um azul oceano, que faziam balançar aquela "nau catrineta com um punhado de guerreiros a bordo". Para traz também já tinham ficado as cidades de Port Elizabeth e Durban, tendo o "Niassa" atracado no porto de Lourenço Marques (Maputo) no dia 14 de Fevereiro de 1971 pelas 10,00 horas, perante a total indiferença da população de origem europeia, que dizia com um certo desprezo que roçava a arrogância:
- Guerra? - não sentimos nada aqui. - Isso é lá para o norte! - Eles que se entendam, não é nada connosco.
Em Lourenço Marques (mesmo ali no cais) todo o Batalhão recebeu o armamento (G3) e outros apetrechos militares, tendo desembarcado nesta cidade a C.CAÇ. 3311 que foi posteriormente aerotransportada para o Aquartelamento de Negomano na Província de Cabo Delgado, seu destino final.
Navegando sempre para norte e depois de ter permanecido um dia no porto de Nacala, o "Niassa" atracou na cidade de Porto Amélia (Pemba) no dia 20 de Fevereiro de 1971, tendo nessa cidade desembarcado o resto do Batalhão, seguindo a CCS e a C.CAÇ. 3310 via aérea para Mueda, e a C.CAÇ. 3309 (que por motivos operacionais se separou do Batalhão) ficou naquele porto, amontoada debaixo do alpendre de um edifício portuário até ao dia 22, e aí, com os seus soldados mal acomodados e dormindo no chão, aguardou transporte por via marítima para Palma, a bordo da Corveta NRP "João Coutinho" (...)

Carlos Vardasca
20 de Fevereiro de 2008

Foto: A Companhia de Caçadores 3309 no cais de Porto Amélia, onde aguardou embarque a bordo da Corveta NRP "João Coutinho" com destino a Palma.

1 comentário:

Armas pesadas disse...

O 4.º pelotão da 3310 também teve o seu tormento antes de chegar à frente de combate: Esperámos um mês por transporte, "alojados" num hangar do aeroporto de Porto Amélia, a ração de combate.
M.Gonçalves