(...) A vasta mata foi desbravada para dar lugar a um minúsculo aquartelamento a que se deu o nome de Tartibo. De condições muito rudimentares, cada um desenrascou-se como pode para inventar da natureza as condições ideais para se acomodar e propiciar um sono mais tranquilo.
Dos pequenos troncos que sobraram do derrube das árvores para a construção dos abrigos, surgiram então tão rudimentares camas que nunca se imaginou suportarem tanta intranquilidade.
À noite, e depois de um dia de patrulhamento, desbravando mato à força de catanas para fugir aos trilhos tradicionais e montar emboscadas aos guerrilheiros da FRELIMO, ou regressado de uma coluna sem que o cantil já vertesse qualquer gota de água, quem caísse naquelas camas dormiria com a mesma facilidade, não se apercebendo da sua fragilidade devido ao cansaço que na sua pressa não deixava tempo para despir o camuflado.
Numa das muita vezes que fui ao Tartibo em colunas de reabastecimento, cheguei a dormir numa daquelas camas devido à hospitalidade que me foi reservada pelo Valoura, simples habitante daquela espécie de "aldeia de Astérix", que me cedera a sua cama para nela sonhar com aquele guerreiro gaulês na sua luta incansável contra os invasores de Roma, protagonizados pelos pequenos troncos que facilmente fugiam debaixo de nós a cada movimento por um melhor aconchego.
As camas de ferro contavam-se pelos dedos, e estavam reservadas para quem daquela guerra dizia ter direito a outros confortos.
Costuma-se dizer que "um corpo cansado dorme em qualquer lado" mas para "Astérix e seus guerreiros", diziam bastar uns pequenos troncos e uma placas de cartão para lhes servir de leito, não fosse o farto conforto não os deixar atentos à "invasão romana que a cada momento podia surgir do lado de fora do perímetro defensivo, saída do escuro da mata circundante" (...)
Carlos Vardasca
14 de Março de 2008
Foto: Caserna dos soldados da Companhia de Caçadores 3309 no Aquartelamento de Tartibo.
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