quinta-feira, 24 de maio de 2007

"Vai-te embora branco, esta terra não é tua..."


(...) Depois de fazer a sua aproximação a terra com as águas do Índico pelo peito, de mochila e G3 bem alto para não se molharem, a Companhia de Caçadores 3309 chegava às praias de Palma no dia 23 de Fevereiro de 1971, debaixo de um alarido que parecia totalmente festivo, provocado pelo batuque ritmado produzido pela população local que se aglomerava junto à praia. Os miúdos, subiam aos coqueiros mostrando as suas habilidades na arte de bem transpor aquele obstáculo, apanhando aquele fruto que vendiam aos soldados a troco de uma "quinhenta", enquanto alguns soldados trocavam a roupa molhada mesmo ali bem por detrás do capim.

- Salama iambo: - saúdavam alguns nativos que se aproximavam dos soldados, tocando instrumentos de fabrico artesanal, enquanto outros, confiando no desconhecimento pelas tropas do seu dialecto, iam dizendo quase que em surdina mas em tom mais agressivo:

- Ukakwenu njungu, ashi asinavasiw shilambo shako (1) o que motivou uma grande movimentação com a interrupção nos festejos e correrias desordenadas pela praia, tendo as milicias locais (familiarizadas com o dialecto), colocadas estratégicamente pela PIDE no meio dos populares, feito alguns prisioneiros. Soube-se mais tarde que eram elementos muito jovens e simpatizantes da guerrilha da FRELIMO, que fizeram questão de estar presentes e mostrar o seu descontentamento pela nossa presença nas suas terras (...)


(1) Vai-te embora branco, esta terra não é tua (dialecto Maconde)


Carlos Vardasca
23 de Fevereiro de 1971

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