sexta-feira, 4 de maio de 2007

Foi uma "carecada geral"


(...) Antes de ser mobilizada para Moçambique, a C.CAÇ. 3309 esteve acampada na Serra da Olga nos arredores de Chaves.

Naquele dia, a refeição que vinha do quartel (BC10) estava demorada, e os militares estavam "esfomeados", dado ter sido um dia intenso de preparação de combate com simulações de ataques com bala real.

Como a refeição não havia meio de chegar, um grupo de soldados (onde eu me incluia) decidiu descer a montanha e encontrar algo de comer na aldeia que ficava na encosta daquele morro.

As populações foram muito amáveis, pois, para além das coisas que comprámos ainda nos ofereceram algumas chouriças, pão e uns "golos" de bagaço que parecia ter-nos aquecido a alma.

Aquele acto foi considerado pelo nosso Capitão como uma "deserção das fileiras" e à medida que iamos subindo a montanha na direcção do acampamento (alguns com galinhas e outros víveres) o Capitão, no alto do trilho por onde iamos chegando, ordenava que todos subissem para cima das árvores e cacarejassem, "em homenagem às pequenas aves que transportavamos com tanto carinho" e como castigo pelo abandono do aquartelamento.

Alguns subiram de imediato para cima das árvores sem contestar a decisão, outros, porque acharam aquela estranha ordem uma humilhação, recusaram-se, preferindo ser castigados de outra forma. Assim, foi ordenada a todos quantos se tinham recusado subir para cima das árvores e servirem de chacota aos restantes militares, que apanhasem todos uma "valente carecada".

Escusado será dizer que, em pleno inverno e com o frio que se fazia sentir, todos nós nos sentimos "despidos", mas ao mesmo tempo conscientes que tinhamos resistido a uma humilhação que alguém que "não conheciamos de lado nenhum" nos queria impor. Foi de facto uma "carecada geral", mas uma "carecada voluntária e de protesto" (...)


Carlos Vardasca

04 de Maio de 2007

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