quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

"Que em 2009 os abraços não tenham apenas a duração de um dia"

(...) Pois é! Eles sempre disseram que era uma questão de "inadaptação" (e fazendo uma pequena adaptação, aproveitando o mote do desenho que possivelmente terá outra interpretação que não a minha) que levou a que os pobres fossem ficando cada vez mais pobres, mas eles, os ricos, aproveitando-se dessa "inadaptação", fingindo ignorar as suas causas, foram ficando cada vez mais ricos, questionando-se (ingenuamente, como se não soubessem das suas origens) de onde teria vindo tanto dinheiro para os seus cofres.
Os pobres, "esses coitados inadaptados", que nunca tiveram outro remédio senão tentar gerir os seus magros salários "que se foram perdendo na profundidade dos seus bolsos e a prolongar a sua extrema pobreza" (embora o produto do seu trabalho fosse alimentando ao longo dos séculos outras vidas faustosas) foram no entanto construindo bastas vezes utopias de que um dia o mundo seria mais justo, que tudo finalmente iria mudar e que nada ficaria com dantes.
Aparentemente submissos, mas sempre prontos a explodir de revolta "como um vulcão que expele lava pela encosta da montanha", alimentando sempre a ideia de que dos seus protestos "algumas migalhas cairiam para debaixo da mesa do farto manjar", os pobres foram ao longo da história conquistando alguns dos direitos que aliviaram e melhoraram a sua própria condição humana e o direito à sua própria existência, direitos esses que agora vêem ser ameaçados por quem deles se serviu "para que também pudessem participar do farto manjar".
Sem perderem de vista quem os traiu e que aquelas "migalhas" eram apenas "sobras" mas que foram arrancadas com a luta de quem não tolerava a escravidão, os pobres, "esses coitados inadaptados", decerto que irão continuar a resistir neste mundo de injustiças e a combater arduamente para aliviar um pedaço da sua própria servidão, mesmo que "nunca lhes venham a distribuir os talheres apropriados para garantirem a sua própria sobrevivência", tomando sempre consciência de nada lhes será dado sem que resulte da sua própria emancipação.
Que 2009 desperte os ainda submissos e os traga para o seio desta imensa onda de protesto que grassa pelo mundo, onde a insubmissão rejeite de vez "as sobras do farto manjar" e continue a resistir contra "o actual mundo dos que podem" e o substitua por "um outro mundo dos que sabem".
"Que em 2009 os abraços não tenham apenas a duração de um dia"
São os votos de
Carlos Vardasca
31 de Dezembro de 2008
Desenho: in "Diário de Notícias" de 30 de Dezembro de 2008. Cravo&ferradura, da autoria do cartonista "Bandeira".

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

"Para cima das árvores não vou" (2)

O IAO[1] tinha iniciado no dia 21 de Novembro de 1970 indo decorrer até 12 de Dezembro do mesmo ano, e a Companhia de Caçadores 3309 de que eu fazia parte, já estava acampada na Serra da Olga nas proximidades de Chaves à cerca de cinco dias, debaixo de temperaturas negativas sem que o peso da geada fizesse ceder as frágeis tendas de lona que albergavam três soldados cada.
A intensidade do frio era de tal ordem que as sete mantas distribuídas não agasalhavam aqueles corpos franzinos, que se socorriam de pequenas fogueiras para dar mais algum aconchego ao seu corpo, que iluminavam toda a encosta rodeada por enormes rochedos, à semelhança das pequenas lanternas que iluminam os caminhos de pastoreio.
Todas as Companhias do Batalhão de Caçadores 3834 foram distribuídas por diferentes áreas geográficas e em acampamentos distintos, a fim de fazerem a sua preparação operacional, dado que estavam todas mobilizadas para fazerem parte das forças de intervenção no norte de Moçambique, mais concretamente na província de Cabo Delgado, junto à fronteira com a Tanzânia.
No dia seguinte, 26 de Novembro de 1970 e depois de vários exercícios efectuados com armas pesadas, simulando ataques de forças inimigas, já se aproximava a hora do almoço sem que as viaturas que era hábito levarem-nos as refeições confeccionadas no quartel do BC 10
[2] em Chaves, fossem observadas do alto do acampamento. Devido ao adiantado da hora e porque o almoço não havia meio de chegar, um grupo de soldados já um pouco revoltados com a situação, decidiu descer da montanha e deslocar-se a uma pequena aldeia próxima e aí adquirir alimentos. Compraram-se chouriços, pequenos pedaços de toucinho, pão, galinhas e outros géneros alimentícios que a amabilidade das populações nos fez trazer para dar mais condimento ao farnel e para serem confeccionadas no acampamento.
A causa do não aparecimento das viaturas (soube-se mais tarde, sem se comprovar a sua veracidade) deveu-se ao facto de terem sido “assaltadas” por dois pelotões da Companhia de Caçadores 3310 pertencente ao mesmo Batalhão da C.CAÇ. 3309, que estavam acampados em Bobadela, e que decidiram fazer uma emboscada às viaturas que transportavam as nossas refeições, numa medida de força que diziam fazer parte do treino operacional com vista à sua adaptação às condições de combate.
O capitão da Companhia Hélio Moreira estranhou o fraco movimento das suas tropas no acampamento e mandou tocar a reunir, verificando de facto que era evidente um grande número de ausências na formatura e nos quatro pelotões. Depois de se informar do ocorrido, o capitão, na companhia de alguns oficiais foi-se colocar mesmo junto do trilho que dava acesso à aldeia, aguardando aí a chegada dos soldados “desertores” que lhes ia ordenando, à medida que foram surgindo no final do trilho, que formassem no centro do acampamento.
Quando o Nabais viu o capitão no alto do morro disse desorientado:
— Epá Braz, estamos fodidos — fomos apanhados!
— Quem teria sido o cabrão do bufo?
Depois de a formatura estar completa com todos os soldados que tinham abandonado o acampamento, o capitão, denotando uma incontrolável irritação que lhe tingia a face de vermelho foi dizendo:
— Seus maricas! — Não podem passar um dia sem comer que tomam logo atitudes tão reprováveis que não ficam bem a qualquer soldado!
— É assim que se querem preparar para os momentos difíceis que vamos passar em Moçambique? -
Depois de despejar toda a sua indignação sobre a formatura e mudando inesperadamente de expressão, conclui com um sorriso que transbordava de cinismo:
— Então querem galinhas não é?
De súbito (e enquanto lançava um sorriso meio amarelo para os oficiais que o acompanhavam), ordenou que todos subissem para cima das árvores e cacarejassem em coro como as galinhas quando estão a pôr os ovos. Muito poucos subiram e foram logo alvo da chacota de quem assistia àquela humilhação, enquanto o capitão dizia indignado:
— Braz, do que é que está à espera? — Vamos lá a subir para cima da árvore — ordenou o capitão enchendo o peito de autoridade, continuando com a sua provocação que tentava suavizar com um ligeiro sorriso:
— Não pense que é mais do que os outros só porque tem esse aspecto intelectual, meio rebelde, mas mais parecido com um menino de coro.
Já bastante indignado com aquela situação que parecia ter a solidariedade dos outros soldados que ainda não tinham subido para as árvores eu disse-lhe:
— Olhe, pois agora não subo nem canto como as galinhas, pois não vou permitir que me humilhe dessa forma — acabando por concluir:
— Prefiro levar uma carecada do que servir de chacota geral para seu gozo pessoal.
Ao meu lado, o Nabais, o “Alentejano” [3], o “Almada” [4] e um grupo já menos numeroso de soldados, mostraram-se solidários e também disserem concordar com a minha opinião, ao que o capitão, profundamente indignado por não ver satisfeita a sua ordem, mandou chamar o barbeiro ordenando-lhe bastante irritado:
— Rape-me esses gajos todos à escovinha — eles vão se lembrar para o resto das suas vidas do frio que vão passar naqueles cornos.
Carlos Vardasca
26 de Novembro de 1970
Serra da Olga. Chaves.

[1] Instrução de Adaptação Operacional.
[2] Batalhão de Caçadores 10
[3] Alcunha do 1º Cabo Atirador, António José Pereira, NM 11934670 - na foto (que veio a falecer em combate num rebentamento de uma mina anti-carro na picada Nangade-Muidine em 05 de Julho de 1972).
[4] Alcunha do 1º Cabo Atirador, Pedro Manuel Gaspar Augusto. NM 13619570 - na foto (que veio a falecer em combate num ataque da FRELIMO ao Aquartelamento de Tartibo em 01 de Outubro de 1971).
in "Onde o sol castiga mais. Crónicas de Guerra 1970-1973" páginas 3 e 4. Carlos Vardasca. 2005

domingo, 21 de dezembro de 2008

Operação "OCTANA 19". 21 de Dezembro de 1971.

(...) Em 21 de Dezembro de 1971 forças da Companhia de Caçadores 2703 e do GEs 212 que seguiam para o Nhica do Rovuma, detectaram abatizes no local de coordenadas 4011.1050,5.
No mesmo dia 2 Grupos de Combate da Companhia de Caçadores de Moçimboa da Praia iniciaram a coluna de reabastecimento "OCTANA 19", de Palma a Nangade e regresso; no dia seguinte os mesmos 2 Grupos de Combate seguiram de Pundanhar para Nangade tendo pernoitado no itinerário; chegou a Nangade no dia 23 e saiu no mesmo dia para Palma tendo passado por Pundanhar; aqui deixou algumas viaturas a fim de transportar para Palma o 1º Escalão da Companhia de Caçadores 2703 que vai ser rendida pela Companhia de Caçadores 3472. Ali chegou no mesmo dia. Asseguraram protecção do itinerário forças da Companhia de Caçadores 3309, Companhia de Caçadores 2703 e Companhia de Artilharia 2745. Em 23 de Dezembro de 1971, durante esta "OCTANA" uma viatura Berliet accionou uma mina anti-carro entre Pundanhar e Nangade, ficando parcialmente destruída. No mesmo local foi detectada e destruída uma mina anti-pessoal por forças da C.CAÇ 2703.
Forças da C.CAÇ. 3309 destruíram outra mina anti-carro em local de coordenadas 3951,2.1057,2. Ainda durante esta operação foi accionada uma armadilha que causou 2 feridos graves e 3 ligeiros à C.CAÇ. 2703. No mesmo local foi detectada e destruída 1 mina anti-pessoal.
Na região da Lagoa Namioca foram encontradas abatizes para ambos os lados daquela, num total de cerca de 2 quilómetros de extensão, além de uma profunda vala transversal à picada. No dia 23, durante a mesma coluna, uma viatura Berliet accionou uma mina anti-carro em região de coordenadas 3851,5.1054 ficando destruída. No mesmo dia, forças da C.ART. 2745 que se encontravam a montar segurança do itinerário, detectaram a passagem de 2 a 3 elementos calçados com botas, num trilho antigo de sul para norte em direcção à Tanzânia (...)

In: Região Militar de Moçambique. Batalhão de Artilharia 2918. História da Unidade. Décimo sétimo fascículo (Dezembro de 1971) página 3. Arquivo Histórico Militar de Lisboa, 2007
Foto: Elementos da Companhia de Caçadores 3309 que asseguraram protecção à coluna de reabastecimento "OCTANA 19" num momento de descanso. Na foto podem, ver-se em primeiro plano o 1º Cabo Atirador NM 12237870, Franklim de Jesus Sobral (mais tarde graduado em Furriel) o Soldado Atirador NM 10759970, José Gomes Valoura entre outros.

Uma noite na aldeia

Já se previa um inverno rigoroso. O manto de neve que cobria todo o distrito de Chaves há muito que também branqueava os campos em redor da aldeia de Moure, o que era sempre motivo de preocupação para os seus habitantes.
Os pastos rareavam. As cabras que era hábito a Gracinda levar para o pastoreio já raramente saíam do estábulo, e o telhado coberto de neve já não fumegava pelos intervalos das placas de ardósia mas apenas pela velha chaminé, onde o odor daquela sopa gordurosa juntava à mesma mesa a frágil adolescência de Gracinda e os restos de saudade que consumiam a mãe, que ainda chorava a ausência do marido em parte incerta, e a angústia de quem mal tinha forma nem como gerir os parcos dinheiros que moldavam a sua pobreza.
Bastante agasalhada, acabada de chegar do forno comunitário da aldeia onde fora buscar o pão amassado pela Ana dos Currais, fascinada por tanta iluminação e depois de transpor o arvoredo que circundava a casa de quem, sendo médico em Lisboa apenas ali vinha ficar em épocas festivas, Gracinda abeirou-se de uma das janelas e ali ficou estupefacta, contemplando maravilhada a enorme árvore de natal e um amontoado de papeis de embrulho já rasgados que se espalhavam por toda a sala, depois de terem envolvido o que era agora o fascínio das crianças daquela numerosa e abastada família.
Já passava da meia noite e a Gracinda antes de regressar a casa ainda foi dar de comer ao gado, acariciar uma das cabras que estava prestes a ter cria e espalhar algum feno pelo chão do estábulo para o tornar ainda mais confortável para os animais, tendo tempo ainda de passar pela casa da vizinha Cordoeira, certificando-se se o lume da lareira estava apagado, aconchegar-lhe os cobertores ao corpo e fazer-lhe um pouco da companhia que à muito se viu privada desde que o marido, operário da construção civil, falecera de forma trágica num acidente de trabalho num dos bairros de Paris.
Sozinha com a mãe, no meio de quatro paredes iluminadas por uma candeia de azeite que projectava as suas sombras na rudez das pedras de granito, Gracinda olhava inerte para a lareira e para o caldeiro de onde fumegava o mesmo odor que há muito lhe dava o sustento.
Enquanto a mãe Florinda ainda esbracejava num alguidar para amassar o resto da massa dos cuscurões, Gracinda, de olhos abrilhantados pelo lume da lareira, lembrava a enorme árvore de natal da casa do médico que não lhe cabia dentro do casebre, imaginando-se criança e a brincar com os brinquedos que não vira mas que idealizava bonitos, a avaliar pela beleza dos papeis de embrulho que agora jaziam amarrotados num dos caixote do lixo.
Atenta que estava aos sons que viessem do outro lado das paredes da casa, ao menor sinal que lhe soou Gracinda correu apressada para o estábulo onde se iniciara o parto de mais um caprino, ajudando ao seu nascimento, aligeirando as dificuldades da velha cabra que soltava bramidos de dor.
Exausta, e depois de ter avisado a mãe que iria ficar no estábulo nessa noite para vigiar o animal que acabara de nascer, Gracinda, sentindo-se frágil mas inundada de felicidade, enroscou-se numa velha manta e aconchegou-se junto do pequeno cabrito de quem grande parte da noite não desviou o olhar, acariciando-o com a mesma ternura como se fora um brinquedo que nunca recebera, acabando por adormecer enquanto recordava todos momentos em que nunca tivera tempo para brincar.
No dia seguinte e de regresso ao trabalho do campo na companhia da mãe, Gracinda mais uma vez acabou por verificar que afinal tudo estava tal e qual como dantes, apesar do pároco da aldeia anunciar todos os anos que o mundo iria mudar “com o nascimento do menino”.


Carlos Vardasca
21 de Dezembro de 2008

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

"Estejas onde estiveres, Salvé Guimarães"

A propósito dos documentos recentemente editados e referidos no post anterior que se relacionam com a morte do Furriel Guimarães, recebi o seguinte texto de Filipe Manuel Cardão Pinto, ex-Furriel Miliciano NM 14172170 da Companhia de Caçadores 3309, mas destacado para o Aquartelamento de Nhica do Rovuma para comandar os GEs 212 de que fazia parte o malogrado Guimarães, e que passo a editar.
Carlos
(...) Aos que se têm pronunciado sobre o Guimarães, venho apenas fazer estas simples considerações:
Tenho-o presente na minha memória.
Sei como se registaram os acontecimentos que levaram ao seu desaparecimento.
Eu era o comandante em exercício do Grupo Especial 212.
Após a informação oficial à família do seu desaparecimento (nunca se referiu que o mesmo tinha morrido, onde, nem em que circunstâncias), fui a primeira pessoa a entrar em contacto com os que perderam o seu ente querido.
Em 1992 ou 1993, procurei de novo a família, e fiquei surpreendido por àquela data, esta, não ter ainda bem a certeza do que teria acontecido naquela fatídica data de 1972.
Apraz-me perguntar:
Onde estavam os documentos que agora estão a vir a lume?
Na posse de particulares?
Que papel têm aqui os altos responsáveis militares?
Não tiveram, através dos serviços de informação ou inteligência, possibilidade de proceder à contradição das afirmações produzidas nestes documentos?
A todos aqueles que queiram o conveniente esclarecimento e pretendam homenagear com VERDADE a sua memória, e que apenas ouviram uns zunzuns sobre este acontecimento, quero dizer que, tenho o relatório desta operação, o qual tornarei público, quando entender oportuno.
O Guimarães, independentemente de estar ou não de acordo com a forma como os acontecimentos se desenrolaram, merece o meu respeito, a minha amizade, a minha saudade.
Estejas onde estiveres, SALVÉ GUIMARÃES.
Filipe Pinto
18 de Dezembro de 2008

Foto 1: O Furriel Pinto no comando dos GEs 212 à saída do Aquartelamento do Nhica do Rovuma, para iniciar mais uma operação de patrulhamento nas margens do rio Rovuma na fronteira com a Tanzânia. 1971
Foto 2: O Furriel Pinto (comandante do GEs 212) assiste à chegada de uma coluna de reabastecimento ao Aquartelamento do Nhica do Rovuma. 1972


quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A verdade sobre a morte em combate do Furriel Guimarães

Num livro recentemente editado Intitulado, "História do Batalhão de Caçadores 3868 e o fim da Guerra Colonial", são nele descritos alguns apontamentos referentes ao Furriel Guimarães e às circunstâncias do seu falecimento que não correspondem à realidade, se os confrontarmos com o relatório oficial elaborado pelo comandante do Grupo de Combate dos GEs 212 que se encontravam naquele dia a desencadear aquela operação. Em minha opinião, as imprecisões relatadas na referida obra resultaram não por culpa dos seus editores que não presenciaram os factos, limitando-se a descrever o que ouviram via rádio, cuja transmissão (tendo em conta a confusão que se gerou no teatro de guerra e nas próprias comunicações) muito provavelmente não reflectia com exactidão o que de facto estava a ocorrer naquele momento em que aquele militar foi abatido nas margens do rio Rovuma em 15 de Novembro de 1972.
Posteriormente (16 de Março de 1973), e pelo facto de ter surgido um jornal tanzaniano que após ter sido traduzido veio ainda introduzir mais algumas imprecisões ao que de facto ocorreu, dado que, numa nítida acção de propaganda distorce toda a verdade no seu texto que o ilustra com a foto do Furriel Guimarães já falecido, onde o seu corpo aparece junto de alguns oficiais do exército daquele país que fazia fronteira com Moçambique.
Em relação ao que é descrito na página 145 da referida obra (que não corresponde à verdade dos factos tendo em conta o relatório oficial da referida operação) quando se diz:
- "...Grande confusão nas comunicações com o Grupo de Combate dos GEs 212 comandado pelo Furriel Guimarães, em operação junto ao Rovuma, dado estarem debaixo de fogo. Um elemento do GR pediu a evacuação do Furriel Guimarães por este estar muito ferido, depois pediu apoio aéreo e logo a seguir disse que o viram passar para o outro lado da fronteira..."
Na realidade, e segundo o relatório da Operação "BAGA 6" elaborado logo após a conclusão da mesma pelo Furriel Pinto (da Companhia de Caçadores 3309 mas destacado para comandar os GEs 212 no Nhica do Rovuma) e testemunhado pelos soldados do seu Grupo de Combate (GEs 212) que viveram aqueles momentos dramáticos, o Furriel Guimarães foi logo abatido ainda no areal que se formara no meio do rio Rovuma sem sequer ter pisado a margem do lado da Tanzânia, embora já muito próximo da mesma, (1) sendo levado para a outra margem durante a noite, possivelmente pelos guardas fronteiriços que o abateram.
Quanto à tradução do texto do jornal tanzaniano em que o mesmo diz:
- "... o soldado português foi visto por volta das 7,30 horas da manhã, quando tentava matar uma criança que se encontrava a tirar água. Quando se disse ao soldado para parar não obedeceu, pelo que foi alvejado..."
O texto revela simplesmente e traduz um acto deliberado de propaganda de contra-informação das autoridades tanzanianas (o que se poderá considerar natural em tempo de guerra, pois as autoridades portuguesas também adulteravam por vezes as informações para exaltar feitos das nossas tropas e que na realidade não tinham acontecido) dado que nada do que é descrito corresponde à realidade, se confrontado com o texto original que relata os acontecimentos ocorridos naquela data e amplamente descritos no relatório da operação já citada e relatados por quem os viveu.
Espero que este esclarecimento resulte na clarificação dos factos, factos que até o próprio relatório efectuado pelo Estado Maior do Exército tentou adulterar, quando insinuou que o Furriel Guimarães tinha desertado para a Tanzânia negando que o mesmo tivesse sido morto em combate (ignorando o já citado relatório da "Operação BAGA 6") possivelmente a causa que levou aquele organismo a não incluir o nome daquele militar na lista dos combatentes falecidos em combate e inscritos no Mausoléu dos Combatentes em Belém, onde legitimamente pertencia estar, lado a lado com os restantes combatentes que faleceram naquele conflito Colonial da má memória para toda a juventude que nele participou.
Carlos Vardasca
17 de Dezembro de 2008

Fotos 1 e 2: Oficiais do exército da Tanzânia junto do corpo do Furriel Guimarães depois de ter sido abatido (15 de Novembro de 1972), e o mesmo militar antes de falecer em combate numa operação na picada entre os Aquartelamentos de Pundanhar e o Nhica do Rovuma. 1972
Foto 3: Texto traduzido de um jornal da Tanzânia onde se descreve (numa versão adulterada com fins propagandísticos) as circunstâncias da morte do Furriel Guimarães.
(1) É reconhecido pela cartografia da zona que os limites da fronteira no rio Rovuma entre a Tanzânia e Moçambique (na altura Portugal) eram muito irregulares, ao ponto de parte do território tanzaniano em determinadas zonas ser mais próximo do território moçambicano, o mesmo acontecendo com a delimitação da fronteira de Moçambique com a Tanzânia, o que por vezes se colocava a dúvida da real violação (ou não) do espaço fronteiriço de ambos os países.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

"O presente era incerto e o futuro tão ausente"

(...) Em 12 de Dezembro de 1971 dois Grupos de Combate da Companhia de Caçadores de Moçimboa da Praia iniciaram a coluna de reabastecimento "OCTANA 18", de Palma a Nangade e regresso. Esta chegou a Pundanhar no mesmo dia, saindo para Nangade onde chegou em 13 de Dezembro de 1971; saiu no dia 14 para Palma onde chegou no mesmo dia. Ao longo do itinerário asseguraram protecção forças da Companhia de Caçadores 2703 e da Companhia de Caçadores 3309. As primeiras detectaram e destruíram em 13 de Dezembro de 1971, entre Pundanhar e Nangade uma mina anti-carro e outra anti-pessoal; as segundas detectaram e destruíram na mesma zona, em coordenadas 3952,2.1057,3 uma mina anti-carro reforçada com uma mina anti-pessoal e com latas de gasolina.
No mesmo dia, um grupo de guerrilheiros da FRELIMO não estimado, emboscou a coluna de reabastecimento em coordenadas 3957,9.1055,7 com um tiro de bazooka e granadas de mão, seguidos de tiros de armas automáticas, sem consequências.
Ainda em 13 de Dezembro de 1971, um grupo de guerrilheiros de cerca de 40 a 50 elementos, vindos da Tanzânia, flagelou o estacionamento da Companhia de Caçadores 3309 (NOVA TORRES) com cerca de 50 granadas de Morteiro de 82 mm e Canhão sem Recuo. Foram encontrados 15 invólucros de Canhão sem Recuo 10,6mm e vestígios de 4 Morteiros de 82mm.
Após o ataque, o IN regressou à Tanzânia. Apenas duas granadas caíram dentro do perímetro do Aquartelamento sem consequências. (1)

Foto 1: Aquartelamento de Nova Torres onde estava estacionada a C.CAÇ. 3309 vista do meio do rio Rovuma.
Fotos 2 e 3: Coluna de reabastecimento no momento que passava a temível lângua já próximo do Aquartelamento de Pundanhar e elementos da C.CAÇ. 3309 numa operação de picagem e detecção de minas na picada entre Pundanhar e Nangade.
(1) in Região Militar de Moçambique. Batalhão de Artilharia 2918. História da Unidade. Décimo sétimo fascículo, página 2 (Dezembro de 1971)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

"Num cenário de cartolina em plena Serra da Olga"

(...) O frio parecia passear-se por entre as tendas para que ninguém dissesse que ele não passou por ali. Gélido, meio seco e menos incomodativo do que o que lambe as terras junto à costa atlântica, não deixava no entanto de penetrar por entre os capotes cinzentos que pareciam ter sobrado da II Grande Guerra e toldar os movimentos daqueles jovens que, no cimo da Serra da Olga (nos arredores de Chaves) se treinavam num "cenário de cartolina" em nada comparado com o inferno para onde seriam enviados em breve.
O IAO (1) da Companhia de Caçadores 3309 que se iniciara em 21 de Novembro (assim como de todo o Batalhão de Caçadores 3834) terminava no dia 12 Dezembro de 1970, e em todos os que nele foram envolvidos já se denotava uma certa agressividade imposta pela instrução que lhes foi ministrada por uma Secção de elementos das Operações Especiais (Rangers), que foram simulando, por entre aquele arvoredo que se assemelhava às matas densas de África ou em terreno acidentado, vários ataques com granadas de morteiro que caíram muito próximo de nós e emboscadas cujas balas faziam levantar a terra à nossa frente, alguns deles (fieis defensores do regime colonial e com uma pose exacerbadamente militarista) com o objectivo de nos impressionar mas também para evidenciar e exibir o seu "pseudo espírito superior de senhores da guerra", como se tivessem a treinar algo que consideravam inferior (tropa normal ou macaca - vocabulário que exibiam até à exaustão) simples robôs, que depois de "formatados" estariam aptos para mais facilmente "obedecerem à voz do dono" num conflito que em nada nos dizia respeito, mas que de uma forma imposta serviu para interromper o futuro de milhares de jovens que se viram envolvidos durante os cerca de 14 anos no conflito Colonial, que inundou o nosso país num manto negro a par dos naufrágios que enlutavam as vilas piscatórias de norte a sul.
Irreconhecíveis, exaustos, mais parecendo "prisioneiros de guerra que abandonam um campo de concentração", lá nos concederam alguns dias de Licença das Normas de 18 a 28 de Dezembro, acrescidos de cinco dias de licença à BIFE até 03 de Janeiro de 1971, "besuntados" (os soldados, claro) com uma nota de 500 escudos que se perdia na profundidade dos nossos bolsos como se fora uma "reles gorjeta" de compensação, por a partir daquele momento já estarmos ao serviço da pátria na "defesa de um Império que se viria a desmoronar sem que nenhum de nós ali tivesse algum pedaço", mas que dele muitas vezes iríamos espreitar a morte, que na maioria dos casos caminharia ao nosso lado, percorrendo os mesmos trajectos pejados de incertezas sem que para tal tivesse sido convidada.
Após estas licenças já com sabor a despedida para uma viagem de regresso incerto, todo o pessoal do Batalhão de Caçadores 3834 apresentou-se em Viana do Castelo no Batalhão de Caçadores 9, onde continuou em instrução na 2ª parte do IAO até à véspera do embarque em 23 de Janeiro de 1971(...)

Carlos Vardasca
11 de Dezembro de 2008
Foto 1: Quartel do então Batalhão de Caçadores 10 em Chaves (actual Regimento de infantaria 19) onde a Companhia de Caçadores 3309 (integrada no Batalhão de Caçadores 3834) fez a 1ª parte do IAO antes de embarcar para Moçambique.
Foto 2: Elementos da C.CAÇ. 3309 em plena Serra da Olga (arredores de Chaves) durante a realização da 1ª parte do IAO.
(1) IAO - Instrução de Adaptação Operacional.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Ex-combatente em greve de fome por mais direitos

Protesto. Presidente da ADFA/Viseu exige assistência na doença

O presidente da delegação de Viseu da Associação de Deficientes das Forças Armadas (ADFA) iniciou uma greve de fome para exigir assistência na doença aos ex-combatentes do ultramar. Só no distrito de Viseu são 800 militares que combateram em África, Timor e Índia e que viram os direitos reduzidos. A situação agravou-se com o encerramento do Hospital Militar de Coimbra, o que obriga os deficientes a recorrerem às unidades de saúde militar de Lisboa e Porto.
João Gonçalves anda "há anos a lutar pelos direitos dos militares que serviram a pátria e que hoje têm uma mão cheia de nada", desabafa.
O ex-combatente está "indignado com as últimas leis aprovadas pelo governo que nos retirou os poucos direitos que tínhamos". O militar iniciou ontem uma greve de fome e promete ir até "às últimas consequências. Se for preciso morrer, que seja, mas não aguento mais tanto sofrimento. Todos os dias vêm aqui ex-militares pedir ajuda que não podemos dar".
As recentes alterações introduzidas na lei que regulamenta a assistência na saúde aos militares das Forças Armadas fizeram com que os militares deixem de ser assistidos nos hospitais civis.
"Antes, os ex-combatentes e antigos militares podiam ir ao hospital da sua área de residência porque eram abrangidos pela assistência de saúde a que os militares têm direito. Neste momento, só temos direito a essa assistência nos hospitais militares do Porto e Lisboa porque entretanto encerrou o de Coimbra".
Outra reivindicação prende-se com a actualização das pensões dos deficientes das Forças Armadas que "deixou de ser igual ao salário mínimo para passar a ser idêntico ao indexante de apoio social". Na prática "a pensão baixou-nos de 426 para 407 euros" revela o presidente.
João Gonçalves promete "ficar na delegação de Viseu da ADFA até morrer ou até que nos encontrem uma solução justa para o nosso problema", afirma.
in "Diário de Notícias" 29 de Novembro de 2008. Amadeu Araújo. Viseu
Não sei o que irá resultar desta forma de luta encetada por este nosso companheiro ao qual lhe presto a minha solidariedade, mas de uma coisa tenho já a certeza.
A lentidão e o ignorar sistemático na resolução do apoio médico aos ex-combatentes da Guerra Colonial e outros militares (assim como à maioria da população que se viu privada dos seus centros médicos) contrasta com a rapidez com que o actual governo se prestou a auxiliar os grandes banqueiros pelos seus erros de gestão (dos quais deveriam ser eles os responsabilizados e arcar com as consequências), sempre à custa dos dinheiros dos contribuintes (que ao longo de muitos anos têm sido espoliados pela totalidade das instituições bancárias) verbas que deveriam ser investidas no apoio à assistência médica e social, na educação, no emprego, na ajuda aos mais necessitados aumentando o ordenado mínimo nacional e as pensões de reforma que, por exíguos que são, "continuam a perder-se na profundidade dos bolsos" de quem deles faz o seu magro sustento e sobrevive diariamente com dificuldades convivendo com a miséria, perante a ostentação e o novo riquismo que os governantes se apressaram a "salvar do naufrágio".
Carlos Vardasca
05 de Dezembro de 2008

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

"Não nos roubem um pedaço de nós"

(...) Dos outros irmãos já nenhum restava na aldeia, levados a salto para terras de França, ora fugidos à guerra ou simplesmente para tentarem afugentar o espectro da fome que diariamente lhes ia corroendo o estômago cada vez mais vazio.
Com os pais idosos e deitando um último olhar às terras que iriam ficar por remexer, o "Zé das Cabras", o último filho dos cinco todos já distantes, inesperadamente apresentou-se no quartel por ter sido mobilizado para a guerra de África, perante a aflição de quem se via agora sem mais dois braços para esgravatar naquilo que era o seu sustento, terras até agora lavradas mas que decerto se deixariam vencer pelas ervas daninhas enquanto perdurasse a ausência.
Levados a Lisboa a muito custo para se despedirem do filho, aconchegados num farnel amontoado numa alcofa que seria distribuído por cada familiar; pequenos nacos de broa despedaçados por mãos grossas moldadas pela enxada, os pais do "Zé das Cabras" não se continham por sentirem "que lhes estavam a roubar um pedaço de si sem jeito nem prosa".
No Cais de Alcântara o descontentamento parecia não ser geral, porque uma outra parte se percebia estar a ser contida por presenças estranhas, que misturadas no meio da multidão forçavam àquele silêncio que parecia querer explodir a todo o momento.
Os altifalantes da Gare Marítima entoavam o hino interpretado em jeito triunfal pelo Coro da Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT):

"...Angola é nossa gritarei
É carne é sangue da nossa grei!
Sem hesitar, p'ra defender
É pelejar até morrer...

enquanto que ao fundo do cais, por entre expressivos desejos de um regresso que se previa incerto, alguém mais inconformado "explodia como se fora um vulcão, expelindo toda a sua lava transformada em revolta", por ver partir alguém que saíra das suas entranhas e até ali lhe garantira o sustento:
- "filhos da puta ... vão para lá vocês!
- "o meu filho faz-me mais falta do que para guardar os vossos cafezais!
Depois de as tropas terem desfilado junto da tribuna onde se perfilaram os oficiais generais, lado a lado com as burguesas do Movimento Nacional Feminino (MNF) que exibiam os seus casacos da astracã na companhia dos assíduos representantes da igreja católica (que sempre abençoaram aquela guerra "contra o inimigo vindo de Leste"), lá em cima no terraço, por entre laivos de patriotismo misturados com expressões de revolta, agitavam-se imensos lenços brancos que acenavam de raiva (depois dos soldados terem embarcado) para todos os que entretanto agitavam as suas boinas e se penduraram nos mastros e nas amuradas do NIASSA, que aos poucos se afastava do cais e fazia soar cinco apitos estridentes, cujo roncar fazia lembrar a distância entre aquela partida forçada e o aconchego familiar cada vez mais ausente, enquanto que a PIDE, aproveitando-se da angústia, do lamento e do desespero, ia fazendo as primeiras prisões para tentar silenciar os protestos (...) (1)

Carlos Vardasca
04 de Dezembro de 2008

Foto 1: Soldados da Companhia de Caçadores 3309 no dia do seu embarque para Moçambique a bordo do navio NIASSA em 24 de Janeiro de 1971.
Foto 2: Familiares despedem-se dos soldados enviados para a guerra Colonial no dia do embarque na Gare Marítima de Alcântara. Lisboa 1971
(1) in "fardados da lama". Carlos Vardasca 2008.

sábado, 15 de novembro de 2008

Nas margens do rio Rovuma. 15 de Novembro de 1972

Faz hoje precisamente 36 anos que o Furriel Guimarães faleceu em combate nas margens do rio Rovuma, junto à fronteira com a Tanzânia. Decorria o dia 15 de Novembro de 1972, quando no decorrer da Operação "BAGA 6" o referido militar pertencente à CCS do Batalhão de Caçadores 3874 mas destacado nos GEs 212 foi abatido e levado para o outro lado da fronteira, possivelmente para a aldeia de Kytaia onde provavelmente estará sepultado.
Vem a propósito mais uma vez lembrar este trágico desaparecimento e prestar esta breve homenagem no aniversário do seu falecimento, dado que hoje mesmo estive em contacto com ex-Furriel Francisco Felício também pertencente à CCS da Companhia de Caçadores 3874, muito amigo do Furriel Guimarães, com quem conviveu desde o seu embarque para Moçambique em Lisboa no dia 18 de Fevereiro de 1972 , e durante os cerca de nove meses no Aquartelamento de Moçimboa do Rovuma onde aquela Companhia ficou estacionada.
Da breve descrição que fez do Furriel Guimarães, ressaltou o seu espírito de bravura e abnegação perante o perigo, coragem nas missões que desempenhava por vezes pondo em risco a sua própria vida, como era hábito fazê-lo quando ele próprio desmontava as minas anti-carro quando eram detectadas na picada em vez de as fazer explodir à distância.
Do período que com ele conviveu lembrou o seu forte espírito de camaradagem, reconhecendo-lhe no entanto uma certa irrequietude e um elevado sentimento de aventura, o que o levou a oferecer-se para os GEs depois de ter desabafado com aquele seu amigo, apesar do Aquartelamento de Moçimboa do Rovuma ser bastas vezes atacado pela FRELIMO:
- "Isto aqui em Moçimboa do Rovuma é muito monótono. Há poucos tiros e vou mas é oferecer-me para os GEs que ali a luta dá mais entusiasmo".
Foi este espírito irrequieto que o fez oferecer-se para os GEs 212, sendo destacado para o Aquartelamento de Nhica do Rovuma e aí encontrar a morte muito próximo da fronteira, em circunstâncias muito trágicas, tendo sido levado para a Tanzânia, possivelmente para a aldeia de Kytaia onde se presume estar sepultado o seu corpo.
Renovo daqui o meu apelo à Liga dos Combatentes, à Associação de Combatentes da Luta de Libertação Nacional (Moçambique) bem assim como a todas as Associações de ex-combatentes da Guerra Colonial existentes para que, dentro das suas possibilidades (pois são mais que reconhecidas as dificuldades) encetem esforços junto das autoridades tanzanianas, mais concretamente junto da aldeia de Kytaia para que o local da sua sepultura seja encontrado os seus restos mortais sejam devolvidos à pátria e aos seus familiares, e o seu nome se junte aos restantes combatentes inscritos no Monumento aos Combatentes em Belém, onde muito justamente sempre pertenceu lá estar e de onde tem sido incompreensivelmente arredado.
Carlos Vardasca
15 de Novembro de 2008
Fotos 1-2: O Furriel Guimarães aos 15 e 20 anos de idade.
Foto 3: Mapa da localização do Aquartelamento de Nhica do Rovuma e da aldeia tanzaniana de Kytaia onde se presume que o seu corpo esteja sepultado.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Cabo Delgado. Moçambique, 12 de Novembro de 1971


(...) No dia 10 de Novembro foi iniciada a coluna de reabastecimento "OCTANA 14", escoltada por 2 grupos de Combate da Companhia de Caçadores de Moçimboa da Praia. Neste dia chegou a Pundanhar, saiu no dia seguinte para Nangade onde chegou às 13 horas; saiu para Palma pelas 14H30, chegou a Pundanhar em 12 de Novembro de 1971 e no mesmo dia a Palma pelas 14h40. Montaram segurança de itinerário forças da Companhia de Caçadores 3309, Companhia de Artilharia 2745, Companhia de Caçadores 2703 e GE 206.
Durante esta coluna, em 12 de Novembro de 1971, uma viatura Berliet (17ª viatura) accionou uma mina anti-carro entre Pundanhar e Nangade causando um ferido grave à CCS do Batalhão de Artilharia 2918. Enquanto as nossas tropas procediam à remoção da viatura minada, um grupo IN muito numeroso flagelou a coluna por duas vezes com armas automáticas, morteiros 60mm e granadas de mão, causando 4 feridos graves, 2 da C.CAÇ. 2703, 1 da CCS do B.ART. 2918 e 1 da C.CAÇ. de Moçimboa da Praia (...)

in relatório da Região Militar de Moçambique. Batalhão de Artilharia 2918. História da Unidade, Décimo fascículo. Novembro de 1971
Foto: Momento da evacuação dos feridos, vendo-se na foto o Joaquim Camelo, Soldado Condutor NM 15391770 (em tronco nu) e o Furriel Diamantino NM11599169 (em primeiro plano) ambos da C.CAÇ. 3309, estando este último destacado nos GEs.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

"... Quando os sinos não dobram"

(...) Quase era capaz de reconstruir na íntegra todos os dias passados no "Ultramar". Pormenores aparentemente sem grande importância persistem em vir de quando em quando à superfície. Foi, mais uma vez, o que aconteceu há pouco ao ler uma mensagem do Vardasca que pedia a todos o contributo de uma história.
Apesar do "Niassa" e das Berliet's nos depositarem lá nos confins do sertão africano, a uns quantos quilómetros de distância, permaneceu sempre em cada um de nós, fossemos ou não saudosistas, um apego muito forte ao sítio onde nascemos e, até então, tínhamos vivido. Era insustentável, até por este motivo, uma guerra, longa como aquela, travada numa terra que não era nossa e longe da que nos lembrávamos todos os dias.
Penso que há um significado no que vou contar. Pelo menos para mim tem.
(...) Como sabeis, o segundo acampamento de Nova Torres, apesar de montado numa pequena elevação para o interior, veio a sofrer também com a enorme cheia do Rovuma. Todos os dias uns centímetros eram acrescentados ao nível das águas. Até que se decidiu, por já não ser viável viver-se ali, procurar outro lugar mais alto na margem direita do Metumbué.
Durante a noite que antecedeu a nossa patrulha que iria ser feita em botes (Zebros), pouco ou nada se conseguiu dormir. A água dava-nos pela barriga e alguns julgaram mais conveniente subir para as acácias e aí descansar, atando as extremidades das mantas aos galhos e fazer uma espécie de cama de rede.
Eu não me aventurei a isso e resolvi passar a noite, envolto num impermeável, em cima de um "bidon" a fumar cigarros atrás de cigarros até se fazer hora de partir.
Eis senão quando, no meio dessa noite cerrada e chuvosa, um dos que tinha adoptado os hábitos do "Tarzan", estatelou-se com estrondo na água vindo dos galhos.
Logo todos começaram a meter-se com o pobre que tinha caído. Risada na noite. Daí a pouco, já tudo serenado, ouvi aquela vítima comentar:
- É pá, até estava a ouvir os sinos da minha aldeia!...
Não sei quem era o então rapaz a quem aquela guerra separou dos sinos da aldeia. Oxalá que hoje os possa ouvir.
O retorno às nossas raízes haveria de durar ainda mais dois anos.
Infelizmente para alguns essas raízes foram cortadas radical e abruptamente na idade em que são legítimas todas as esperanças (...)

Fernando Manuel Pêgo da Silva Barros
ex- Alferes Miliciano NM 10124269
da Companhia de Caçadores 3309
In "Do Tejo ao Rovuma. Uma breve pausa num tempo das nossas vidas". História da Companhia de Caçadores 3309. Carlos Vardasca.2008.
Foto 1: O Alferes Barros em formatura com o 1º pelotão da C.CAÇ. 3309 no Aquartelamento de Tartibo. 1971
Foto 2: O Alferes Barros no intervalo de uma operação junto do rio Metumbué. 1971

sábado, 8 de novembro de 2008

"Devolver o Furriel Guimarães à pátria"


Ontem, dia 07 de Novembro, recebi um telefonema do General Gamito da Liga dos Combatentes, onde este me informava de que na próxima segunda feira (dia 10 de Novembro) se deslocará às instalações da Liga dos Combatentes uma delegação da ACLLN - Associação de Combatentes da Luta de Libertação Nacional de Moçambique, associação formada por antigos guerrilheiros da FRELIMO, visita efectuada no âmbito do protocolo existente entre as Associações de Combatentes de ambos os países.
Segundo o mesmo General, para além dos diversos assuntos a tratar, irá ser entregue àquela delegação um dossier completo com todas as informações relacionadas com o desaparecimento do Furriel Guimarães, juntamente com o documento que elaborei onde se relatam as circunstâncias do seu desaparecimento nas margens do rio Rovuma em 15 de Novembro de 1972, assim como também sensibilizar aquela delegação no sentido de colaborarem na procura dos seus restos mortais, dada a estreita relação que o Governo de Moçambique e a FRELIMO em particular detêm junto das autoridades tanzanianas.
Aproveitando a oportunidade da vinda a Portugal da delegação dos ex-combatentes da FRELIMO, solicitei ao Sr. General se seria possível marcar uma audiência comigo e a referida delegação, para que eu pudesse pessoalmente expor com exactidão como ocorreram os factos naquele dia trágico e sensibilizá-los para que iniciassem os contactos com as autoridades tanzanianas, mais concretamente com as representadas na aldeia de Kytaia onde possivelmente o Furriel Guimarães estará sepultado, dado ser a aldeia mais próxima das margens do rio Rovuma e do local onde o mesmo foi abatido e capturado.
Tendo em conta que a agenda daquela delegação decerto que estará um pouco preenchida, aquele responsável da Liga dos Combatentes adiantou-me no entanto que iria junto da mesma saber da possibilidade da audiência se poder realizar, contactando-me para o efeito no caso da mesma ser possivel de concretizar.
Para além da importância de me reunir com ex-combatentes da FRELIMO contra quem nós portugueses combatemos no conflito colonial que nos opôs, seria também extremamente gratificante colocá-los pessoalmente ao corrente deste caso que decerto os irá interessar, apesar de se reconhecerem as dificuldades logísticas para encetar tal operação de resgate do corpo de referido militar, por se encontrar num país estrangeiro e sem representação diplomática em portugual, a avaliar pelas dificuldades já encontradas na busca e identificação das campas dos numerosos combatentes que ainda hoje permanecem sepultados noutros países, como é o caso da Guiné, Angola e Moçambique.
"Porque nunca devemos desistir, não devemos deixar morrer a ideia de devolver o Furriel Guimarães à pátria"
Carlos Vardasca
08 de Novembro de 2008
Foto: O Furriel Guimarães (fardado de GEs) junto de Companheiros da Companhia de Caçadores de Moçimboa da Praia. Palma (Moçambique) 1971

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

"Da velha caridadezinha às canções de embalar"

(...) O "Bocas" (1) acabava de aterrar na pista de Nangade, sem desta vez vir munido daquele enorme altifalante habituado a vomitar a doutrina do ocupante, cujo som se embrenhava na mata tentando convencer algum guerrilheiro menos convicto, vencido pelas dificuldades que a luta de libertação exigia.
Repleto de carga, onde se misturavam para além das barricas de madeira atafulhadas de carne vindas da América do Sul, salgadíssima e de consumo intragável, cunhetes de munições que já iam escasseando no Aquartelamento desde o último ataque a Nangade, lá vinham também umas caixinhas inofensivas, apesar de enormes, identificadas com uma listagem pintada com letras muito gordas onde se podia ler:
- "Aos soldados de Portugal - uma lembrança do Movimento Nacional Feminino - Natal de 1971".
Desta vez, "aquelas burguesas do regime e serviçais da caridadezinha nas horas vagas" não nos traziam maços tabaco do mais rasca que havia no mercado, nem isqueiros Ronson que mais pareciam "pequenos depósitos de combustível", idênticos aos que nos foram distribuídos no dia do embarque no Cais de Alcântara, mas placas negras de vinil que diziam ser mensagens de natal, onde os "bibelous do regime" patricionados pelo SNI (2) se uniam para nos embalar, tentando fazer-nos esquecer o inferno onde todos em uníssono nos quiseram atolar.
Lá estavam todos a prestar o seu apoio na produção daquele compacto de lamurias, desde ministros do Estado Novo ao Eusébio, da Amália à Companhia União Fabril (CUF), SONAP e CIDLA, ao Banco Borges e Irmão, Florbela Queiróz, Inspector Varatojo, Parodiantes de Lisboa e Hermínia Silva, numa união perfeita entre "a cultura da época e os velhos do restelo", todos em coro a prestar vassalagem aos ideais do império que diziam ser "do Minho até Timor".
Estávamos em Novembro de 1971 e aproximava-se o mês do natal, quando aquelas delicadas senhoras saídas do Dakota, velha lata voadora, se puseram a distribuir por todos os soldados ali aquartelados centenas de exemplares do "nacional cançonetismo", velha lamuria que nos tentava incutir a exaltação dos valores pátrios numa "cruzada contra os infiéis africanos", enquanto os cantores de intervenção eram silenciados para que os seus cânticos não toldassem as mentes patrióticas de quem lutava contra o que classificavam de "terrorismo a soldo do comunismo Chinês".
Sem luz eléctrica nem aparelhagem que fizesse girar os 33 RPM, a maioria de nós possivelmente só os ouvimos de regresso ao nosso aconchego familiar, quando já os ventos sopravam em direcção a um "Abril que se adivinhava ao virar da esquina, onde o protesto, apesar de silenciado, já se sentia querer libertar-se e respirar o sopro de mudança" (...)
Carlos Vardasca
07 de Novembro de 2008
Fotos: Capa e contra capa do disco "Natal 71", edição do Movimento Nacional Feminino (MNF).
(1) Dakota. Aeronave da Força Aérea Portuguesa, que tinha como missão sobrevoar as zonas onde se pensava existirem bases da FRELIMO, estando dotado de potentes altifalantes para difundir mensagens, com o objectivo de convencer os guerrilheiros que combatiam na mata a entregarem-se ao exército ocupante.
(2) Serviço Nacional de Informação


segunda-feira, 27 de outubro de 2008

"A fala dos batuques"

(...) Ao entardecer e quando o sol já se deitara muito para lá do outro planalto, deixando o Aquartelamento de Nangade mergulhado num manto colorido da cor do fogo, já os sons vindos do aldeamento penetravam pelas casernas interrompendo a leitura das notícias da manhã trazidas pelo helicóptero, ou os rituais gatafunhos meio desconjuntados e impressos num bloco de linhas comprado na loja do "Monhé" que iriam rasgar sorrisos numa qualquer aldeia distante.
Vestidos a rigor, atirando para o lado os velhos camuflados rasgados e gastos pelo tempo enquanto os Obus 14 e as anti-aéreas vigiavam atentos muito para lá do arame farpado, os soldados lá seguiam rumo ao aldeamento com os trajes da "Metrópole" inundados de naftalina, na ânsia de impressionar alguma jovem negra, que da confusão do batuque ousasse partilhar a escuridão da palhota com um Zungo (1).
Latas velhas de óleo de palma; bidons vazios do combustível dos helicópteros; pequenas peles de gazela já ressequidas e mal esticadas numa tosca armação de bambu; latas de manteiga já um pouco ferrugentas, com um braço de madeira onde se esticavam quatro arames que entoavam sons repetitivos, desordenados, mas melancólicos, tudo servia para acompanhar os cânticos que nenhum de nós entendia, acompanhados por danças ritmadas por corpos negros, seios esbeltos, cuja beleza dos seus contornos as Capulanas coloridas por vezes deixavam a descoberto.
Da enorme fogueira de labaredas alterosas que iluminavam todo o largo, eram "cuspidas bolas de fogo" que tingiam o rosto de quem se aglomerava naquele círculo enorme, onde os Macondes entoavam outros "gritos guerreiros" que se faziam ouvir por todo o vale e que a maioria de nós não entendia, mas que soavam a protesto e tinham destinatário.
Sem nada entender que mensagem estava a ser transmitida, restava aos soldados, já com o cacimbo a vaguear pelos telhados de colmo e o som do pilão a "mastigar" a mandioca, regressar às casernas e mergulhar num curto sono que seria interrompido pelo roncar das Berliet e a azáfama de quem partia para mais uma operação de reabastecimento, que se embrenharia no interior deslumbrante do verde da mata, cenário paradisíaco "que se ofendia com a nossa indiferença", por vezes traiçoeiro, porque era dali que sopravam os ventos da revolta contra o ocupante e onde se escondia o destinatário das mensagens dos batuques (...)

Carlos Vardasca
27 de Outubro de 2008
Foto 1: Por do sol visto de Nangade com o Obus 14 em primeiro plano.
Foto 2: Por do sol nos Planaltos da Tanzânia visto do Aquartelamento de Nova Torres.
Foto 3: Preparativos para o Batuque no aldeamento Maconde em Nangade, acto festivo que se prolongaria pela noite dentro. Na foto pode ver-se (entre outros) em primeiro plano o 1º Cabo Auxiliar de Enfermagem NM 10147770, José Fernando Pinto Silva da Companhia de Caçadores 3309.
(1) Branco, em dialecto Maconde.



sábado, 25 de outubro de 2008

Na Canhoneira "DIU" rumo a Toulon. 1967

Este pequeno episódio nada tem a ver com a Guerra Colonial, no entanto, e porque são retalhos de uma juventude um pouco irrequieta cuja memória não deve ser apagada, aqui o partilho como forma de se avaliar a leviandade vivida por alguns jovens nos dias conturbados da década de 60.
Quando os seus alunos após a conclusão das várias especialidades estavam prestes a ingressar na Marinha Mercante ou na Marinha de Guerra, a Fragata D. Fernando II e Glória proporcionava estágios de formação aos seus alunos a bordo de um dos navios da armada portuguesa que na altura estivesse prestes a efectuar alguma viagem, fosse em patrulha ou em escala para outros portos da Europa.
Como a Canhoneira "DIU" estava escalada para se deslocar em viagem ao porto de Toulon (França) transportando a bordo barcos de competição à vela da Legião Portuguesa que iam participar num torneio internacional, eu e o "98" (Nascimento), alunos da Fragata D.Fernando II e Glória fomos incorporados na sua tripulação e aí prestar alguns serviços de forma a adquirir experiência para quando ingressássemos na Marinha Mercante.
A "velha canhoneira" construída no Arsenal do Alfeite em 1929, mais parecia uma peça de museu, se comparada com alguns dos modernos navios da 7ª Esquadra do Mediterrâneo dos EUA quando ancoramos no porto de Cartagena em Espanha. Ao retomarmos a viagem rumo a Toulon, previa-se um grande temporal no Golfo de Lion e, por esse facto, aquela esquadra não se fez ao mar, causando estranheza e até alguma chacota no seio dos marinheiros dos navios de guerra ali ancorados que a Canhoneira "DIU" o fizesse, tendo em conta o seu aspecto frágil que diziam não resistir ao enfrentar o mau estado do mar. O que é certo, e apesar de ferozmente fustigada pela forte ondulação que se abateu sobre o convés e salpicava a torre de comando durante toda a viagem, a "DIU" entrou na Base Naval de Toulon sem qualquer "beliscadura" na sua estrutura, parecendo quase impossível como é que aquela "velha carcaça" escapara ao temporal que se levantou no Golfo de Lion enquanto os modernos navios da esquadra dos EUA se resguardavam nos vários portos do Mediterrâneo.
Foi em Toulon que conheci John Walker, natural de Norfolk, marinheiro do USS "Pocono" (navio de apoio da marinha de guerra dos EUA - vulgarmente conhecido como navio espião) também ancorado naquela Base naval francesa, e que, numa das visitas que eu e o "98" fizemos ao seu navio e como forma de ficarmos com uma recordação daquele dia, de uma forma irresponsável, próprio da idade e sem pensarmos nas consequências, trocamos as nossas fardas com dois dos marinheiros americanos, entre eles o John Walker.
De regresso à minúscula "DIU", ancorada na outra extremidade do cais junto ao enorme "Jeanne D'Arc" (Porta Helicópteros da marinha de guerra francesa) e quando a noite há muito se tinha abatido sobre aquela base naval, ao tentarmos entrar para a Canhoneira sem sermos vistos com aquelas fardas estranhas, fomos inesperadamente fomos abordados por um dos seus sentinelas que nos barrou a entrada no navio pois confundiu-nos com marinheiros americanos. Quando nos reconheceu e se apercebeu da gravidade da situação, aconselhou-nos a que nos dirigíssemos aos nossos camarotes e nos despíssemos com a maior urgência, não fosse algum oficial dar conta do ocorrido e aquela aventura assumir outros contornos que decerto nos seriam bastante prejudiciais (...)


Carlos Vardasca
25 de Outubro de 2008


Foto 1: Canhoneira "DIU" à entrada do porto de Leixões nos anos 50.(Fotomar)

Fotos 2 e 3: Na primeira estou com o "panamá" na companhia do "98" (Nascimento) e foto e destaque, e na segunda a bordo da Canhoneira "DIU" à saída do porto de Cartagena. Espanha 1967. Na mesma foto ainda se podem ver no lado direito, empilhados e tapados com lonas, os barcos que iam participar na regata em Toulon.
Foto 4: USS Pocono