Aquartelamento de Nangade (Cabo Delgado) 24 de Dezembro de 1971
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
"Foi há 38 anos, num natal tão distante"
Aquartelamento de Nangade (Cabo Delgado) 24 de Dezembro de 1971
"Outros combates que a todos nós compete travar"
domingo, 20 de dezembro de 2009
"Uma linda missão em tempo de guerra" (Parte 2)
“Vale sempre a pena começar de novo”
(…) Acabado de chegar a Nangade, em rendição individual em substituição de um soldado da CCS do Batalhão ali estacionado e falecido em combate, meio perdido e sem conhecer ninguém, Morais refugiava-se todas as noites no abrigo feito "tasca" e ali tentava estabelecer novas amizades.
De aspecto meio rude e um pouco envergonhado, por vezes levava a "Laurentina" (1) para fora do abrigo e ali se saciava, sem contudo conseguir estabelecer qualquer conversação. Um dia, e porque estranhei aquele comportamento, afastei-me dos meus camaradas da Companhia e fui ter com ele fora do abrigo, forçando um diálogo que ainda hoje não me arrependo de o ter iniciado.
Morais já me dissera anteriormente que não sabia ler nem escrever, contando-me a sua angústia por o terem enviado para tão longe, e logo na altura que deixara na terra a sua mulher grávida de seis meses. A partir dos vários momentos que nos fomos encontrando fomos ficando amigos e, percebendo o porquê de tanto sofrimento, ofereci-me para lhe escrever as suas cartas e ler as que viessem da "Metrópole".
Foi de facto uma experiência muito gratificante que passei na guerra colonial, principalmente quando lhe li (entre tantas outras de igual significado) uma carta que lhe anunciava o nascimento do seu filho e observei a felicidade espelhada no seu rosto. Cada vez que chegava o helicóptero com o correio, ele corria à minha procura para lhe ler aquelas minúsculas letritas (como era hábito dizer) e, quando sabia que eu estava no mato envolvido em colunas de reabastecimento, ele guardava as cartas (preferindo não as dar a ler a mais ninguém) até que eu regressasse ao aquartelamento.
Por várias vezes aconteceu, tendo ele recebido correspondência da sua Albertina e ter que ir no mesmo dia para o mato integrado no seu Grupo de Combate, eu apenas tinha tempo de lhe ler as cartas, ao que ele me dizia, depois de me ter dado algumas sugestões para a resposta:
- Olha Braz, tu lês a carta e respondes mediante aquilo que eu te disse, mas quanto às mariquiçes (como costumava dizer em relação aos aspectos mais afectivos) fica ao sabor da tua imaginação. Quando regressava do mato e eu lhe lia aquilo que escrevera para ser enviado no helicóptero da tarde, ele dizia fascinado:
- Epá Braz, isto está mesmo bonito: - até parece que ela é que é a tua mulher.
Um dia lembrei-me de lhe dizer porque é que não ia aprender a ler e a escrever, pois um alferes do Batalhão tinha transformado uma pequena palhota em escola, e ali dava aulas aos miúdos da população nativa. Muito envergonhado disse-me:
- Eu! para o meio dos pretos aprender a ler? - Que vergonha.
Morais tinha como opinião de que os miúdos da escola eram inferiores a ele devido à cor da pele e, por isso (debaixo de um sentimento que exibia uma falsa superioridade) recusava-se a dar o primeiro passo, embora sentisse essa necessidade. Sem o querer ofender, decidi "ferir" o seu orgulho dizendo-lhe:
- Superior tu? - Eles é que são superiores a ti porque sabem duas línguas (a portuguesa e o seu dialecto local) e tu apenas sabes a tua e mal, e não a sabes escrever nem a ler:
Foi "remédio santo". No dia seguinte e todos os outros que ia tendo disponibilidade, lá estava ele à porta da palhota (agora escola), junto com outros soldados que também decidiram aprender as primeiras letras, exibindo os livros que nunca teve e que o trabalho árduo do campo não os deixou ler.
O Morais acabou a sua Comissão primeiro que eu e veio mais cedo para a "Metrópole" e, para meu espanto e quando a minha Companhia estava a fazer o espólio no RAL 1 em Lisboa, alguém me toca no ombro e me diz:
- Então amigo, ainda bem que também regressaste! - Era o Morais que, sabendo que a minha Companhia chegava a Lisboa naquele dia, se deslocou de Vilar dos Ossos para me cumprimentar, sem contudo não perder a oportunidade de me deixar um pouco envergonhado, virando-se para a mulher dizendo-lhe:
- Olha Albertina, era aqui o Braz que te escrevia as cartas: - acrescentando:
- Foi ele o teu "namorado" enquanto eu estive lá na guerra. Ao que Albertina respondeu de uma forma tão singela e impregnada de ruralidade:
- Obrigado senhor, por me ter ajudado a ser tão feliz durante a ausência do meu Morais.
Actualmente, e por ter continuado a estudar afincadamente desde que chegara da guerra, Morais é um médico com algum prestígio naquelas pequenas aldeias mais recônditas da Freguesia onde habita, pois ali se desloca com uma "assiduidade militante" já muito rara entre os da sua profissão, conduzindo um velho Opel por caminhos onde o desenvolvimento tarda em chegar, recebendo por vezes em troca alguns parcos haveres arrancados à terra por gente "já gasta de tanto cansaço" (...)
Carlos Vardasca
05 de Janeiro de 2008
(1) Marca de cerveja de Moçambique.
Foto: Coluna de reabastecimento na picada entre Pundanhar e Nangade, vendo-se o Morais sentado ao lado direito no pára-brisas da segunda Berliet.
sábado, 19 de dezembro de 2009
"Uma linda missão em tempo de guerra" (Parte 1)
Tudo aconteceu no ano de 1971, em plena Guerra Colonial e quando a Companhia de Caçadores 3309 de que eu fazia parte foi destacada para o aquartelamento de Nova Torres[1], tendo alguns de nós por motivos operacionais ficado estacionados em Nangade[2].
Acabado de chegar em rendição individual para substituir um seu companheiro falecido em combate, o Morais, oriundo da aldeia de Vilar dos Ossos, chegara a Nangade num dos períodos mais conturbados do conflito colonial, e quando a FRELIMO desencadeava uma das ofensivas mais intensas após a Operação “NÓ GÓRDIO” e desde o início da sua luta armada de libertação do jugo colonial.
Sem saber ler nem escrever, e depois de algumas tentativas em se socorrer de quem o fizesse para se manter em contacto com a família (mas que por esse facto fora alvo de alguma chacota), o Morais[3] refugiava-se no fundo do abrigo que nos servia de tasca e onde afogávamos as saudades da distância, sempre meio amargurado, emborcando copos de bagaço uns atrás dos outros, iluminado por uma luz muito ténue que os geradores a muito custo lá conseguiam emprestar àquele recanto, que também nos servia de refúgio quando o aquartelamento era atacado.
Estávamos em finais de Novembro do ano de 1971 e aproximava-se o mês do natal.
Ao descer para o abrigo, logo me dirigi ao pequeno balcão e me fiz acompanhar de uma Laurentina[4] que me ajudou muitas vezes a saciar a secura das noites tropicais e, ao aperceber-me da presença do Morais num dos seus recantos, acerquei-me dele apesar de o conhecer muito recentemente, perguntando-lhe o porquê de tanta tristeza.
Encharcado em álcool o que tornava o seu vocabulário um pouco desconjuntado, cedo me apercebi dos motivos da sua angústia e de imediato me prontifiquei a erradica-la das suas preocupações, oferecendo-me para lhe escrever e ler a sua correspondência enquanto ele estivesse naquele aquartelamento.
Na noite seguinte, voltámo-nos a encontrar no abrigo (agora já decorado por um pequeno arbusto coberto por várias latas de cerveja vazias que substituíam as bolas de natal) e mesmo ali delineei os contornos do que viria a ser (na opinião do Morais, que me confessou mais tarde), uma das mais lindas prosas de natal que a sua jovem mulher (que deixara grávida de seis meses na Metrópole) já recebera.
Numa extraordinária experiência que muito gratificante se tornou para mim do ponto de vista humano, tornei-me, durante a permanência do Morais naquele aquartelamento seu confidente, lendo e escrevendo as cartas recebidas ou enviadas de e para os seus familiares, tendo especial significado os vários aerogramas[5] que em seu nome escrevi para a sua mulher e as imensas cartas por mim lidas que esta lhe enviava.
Elaborado o rascunho, isolei-me na caserna e aí acertei os contornos finais do que tinha sido alinhavado no abrigo, imprimindo-lhe todo o vocabulário usual entre duas pessoas que se amavam e bruscamente separadas pela distância “sem jeito nem prosa”.
Sem nutrir qualquer simpatia pelo vocabulário litúrgico da época natalícia e sem dominar toda aquela fraseologia mercantilista e sazonal, esmerei-me no entanto em aplicá-la, socorrendo-me do que me fora inculcado aos oito anos de idade pelas freiras no colégio em S. João do Estoril, onde a minha relação com deus e com tudo o que se relacionasse com o foro religioso começou desde muito cedo a ser muito conflituosa, apesar de uma parte da minha educação ter sofrido aquele tipo de influência que ainda hoje considero ter-me sido imposta.
O helicóptero só vinha buscar o correio pelas onze horas da manhã e, mesmo ali junto da secretaria do seu Batalhão e “numa espécie de cerimónia que se assemelhava à largada de um pombo de correio” e antes de fechar o aerograma, fiz questão de lhe ler o que escrevera durante a noite com base no que fora acordado no fundo do abrigo, mas, claro, com algumas alterações que ajudaram a embelezar e a enriquecer o texto do ponto de vista sentimental e até mesmo religioso, o que foi do agrado do Morais, dado que desde criança se habituara às lamurias e ladaínhas do Pároco da sua aldeia.
Á medida que eu ia soletrando as breves linhas impressas pela minha SHEAFFER[6] e que se acotovelavam no pequeno aerograma, os olhos do Morais não se descolavam dos meus lábios, insistindo para que voltasse a ler algumas das frases que considerava serem de uma beleza extrema, mas que o trabalho árduo do campo nunca permitiu que as aprendesse a exprimir.
Reparei sempre, no final da leitura de cada aerograma que lhe escrevia, que o seu rosto transpirava de alegria, exteriorizando uma certa fascinação pelo que acabara de ouvir.
― Porra Braz! Escreves tão bem! ― Quando a minha "miúda" receber este aerograma vai ficar tão feliz com as coisas lindas que escreveste:
― Até parece que és tu o marido dela ― Acrescentando, excessivamente emocionado:
― Como é que tu, que dizes não acreditar em deus nem nestas coisas do natal, e consegues escrever coisas tão lindas que até parece que andaste no seminário?
Foi de facto uma experiência muito gratificante e muito intensa do ponto de vista emocional, dado que em certos momentos cheguei a partilhar o calor afectivo trocado entre aquele companheiro e a sua jovem esposa, ao ponto de ambos termos por várias vezes chorado quando se tratava de responder ou ler algo mais pessoal e que mexesse bem fundo nos seus afectos.
De cada vez que o Morais recebia correspondência, lá vinha ele ter comigo sempre com o mesmo sorriso rasgado que transbordava de felicidade, mesmo que já tivesse recebido as cartas há alguns dias, ao que eu lhe dizia:
― Olha lá Morais! ― Então porque é que nestes dias que eu estive no mato não deste a ler a tua correspondência a outro soldado? ― Ao que ele respondia denotando alguma indignação, lembrando-se da chacota de que já fora alvo:
― Eu já não confio nessa malta; ― Eu não me importo de esperar mais um dia ou outro, mas as cartas lidas e escritas por ti têm outro sentido.
Quando na semana seguinte o helicóptero voltava ao aquartelamento de Nangade e no saco do correio trazia alguma carta da sua mulher, o Morais corria apressado de caserna em caserna à minha procura, por vezes perante a risota de alguns militares que presenciavam a sua azáfama e gracejavam em tom jocoso:
― Vai! ― Corre a contar-lhe os segredos da “tua Maria” e quando deres por ela já ele te roubou a tua miúda.
Indiferente aos gracejos, sentava-se ao meu lado debaixo de um cajueiro muito próximo do Obus 14[7], olhando em redor certificando-se se mais ninguém estava presente, rasgando ele próprio uma das extremidades do envelope enquanto exteriorizava o seu contentamento:
― Olha! ― Pelo tipo de letra parece ser da minha Albertina.
Era deveras interessante vê-lo quase que a soletrar as frases que lhe ia lendo, como se as quisesse mastigar muito lentamente para lhe tomar bem o gosto.
Por vezes (e muito em particular uma das cartas que recebera naquele mês de natal de 1971) cheguei a ler a sua correspondência repetidas vezes e durante vários dias, tal era a necessidade do Morais em recordar os momentos de felicidade que aquelas cartas transportavam dentro de si (gabando excessivamente a minha paciência), dizendo-me por vezes, bastante emocionado e com algumas lágrimas a escorrerem-lhe pela face:
― Eu sei que não acreditas na existência de deus nem passas cartucho nenhum ao natal, mas olha amigo Braz:
― Deixa-me pelo menos e só por um bocadinho, “vender o meu peixe”:
― Deus te pague ― Eu e a minha Albertina[8] nem sabemos como te agradecer por nos teres proporcionado momentos tão felizes neste natal de 1971.
19 de Dezembro de 2009
[2] Aquartelamento situado no Planalto dos Macondes, a cerca de vinte quilómetros do rio Rovuma.
[3] Depois de ter acabado a sua comissão em Moçambique, o Morais dedicou-se aos estudos. Actualmente é um médico muito estimado pela sua simplicidade com que presta assistência nas aldeias vizinhas da sua terra, recebendo em troca, dos aldeãos mais carenciados, pequenos parcos haveres em produtos agrícolas como forma de pagamento das consultas que efectua.
[4] Marca de cerveja Moçambicana.
[5] Pequeno impresso distribuído pelo Movimento Nacional Feminino (MNF) que se enviava por correio aéreo, sem necessidade de sobrescrito ou qualquer custo para o seu envio, usado pelos militares destacados na Guiné, Angola e Moçambique durante a Guerra Colonial.
[6] Marca da minha esferográfica.
[7] Peça de artilharia pesada que fazia parte das defesas do aquartelamento.
[8] O Morais e a Albertina, depois de aquele ter concluído a sua comissão em Moçambique fortaleceram o seu casamento (que ainda hoje perdura) com o nascimento de mais dois filhos, para além daquele que nascera ainda o Morais estava a cumprir a sua comissão em Moçambique.
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
"Ninguém morre besuntado de azeite"
Estávamos na secretaria todos os três, bem calados, a escrever, eu, o escriturário e o outro militar acima referido, quando caiu bem perto dali uma morteirada. Fora da secretaria estava tudo às escuras, mas a reacção dos nossos Obuses de artilharia não se fez esperar e começaram logo a bater todos os pontos prováveis de ataque. Eu abriguei-me de imediato debaixo do Unimog 404 e suponho que o escriturário e o outro militar fizeram o mesmo.
Lembro-me como se fosse hoje, comecei a sentir que estava molhado numa das pernas. Apalpei e tive na altura a sensação de que estaria ferido porque confirmei que estava mesmo molhado, com um líquido quente e pegajoso e receei que naquele momento tinha chegado o meu fim. Presumo que desmaiei e a certa altura dei por mim quando alguém me puxava por uma perna e perguntava:
- “… meu capitão, meu capitão, está ferido?
Hélio Augusto Moreira
ex-Capitão Miliciano NM 36048760 da Companhia de Caçadores 3309
Linhares, 06 de Janeiro de 2005
In: "Do Tejo ao Rovuma. Uma breve pausa num tempo das nossas vidas". História da C.CAÇ. 3309. Moçambique 1971-1973, página 191, Carlos Vardasca. Alhos Vedros, 21 de Setembro de 2009.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
“Quem me dera que a tropa fosse sempre assim ...”
Arrastávamo-nos cambaleantes, pois não existiam pontes nem barcaças.
E nós, meia dúzia de gatos-pingados, ficáramos ali não sei se esquecidos ou como guardas do
material que ainda ali ficara. Com muito medo e muito capim à nossa volta, perplexos e exaustos, desconhecedores da picada, perguntámos:
— E agora?
Sair dali era perigo iminente, a emboscada espreitava a cada passo, embora fossemos portadores duma G3.
— E o material?
O calor abrasava e a sede apertava. Beber água do Metumbué era suicídio certo; esta água era imprópria para lavar roupa…
— “Eureka”! — gritou alguém que no meio daquele material vislumbrou uma pipas amontoadas por entre o material. Era vinho.
Bebemos… e tanto bebemos que nos esquecemos de deixar de beber… depois, vendo vários trilhos, orientámo-nos pelo do meio anteriormente recalcado pelos nossos camaradas.
G3 às costas ou a tiracolo. Posição de tiro “nem pó”… risos provocados pelo elixir de Baco e a descontracção natural de qualquer turista de visita a terras de África.
Chegado ao aquartelamento (cerca de seis quilómetros) dirigi-me mais ou menos sóbrio ao Capitão e perguntei-lhe o porquê de tanta demora. Tínhamos sido esquecidos …
Recebemos uma menção honrosa pelo nosso destemor. No dia seguinte foram buscar o resto do material. Entre nós (os esquecidos e ainda estupefactos pela nossa pseudo-ousadia) houve alguém que comentou:
— Quem me dera que a tropa fosse sempre assim (…)
João da Silva Arteiro
ex-Soldado Condutor Auto Rodas NM 15393470 da Companhia de Caçadores 3309
Vila do Conde, 27 de Abril de 2007
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
"Outros combates a que não resistimos"
É com pesar que ajudo na divulgação da notícia do falecimento do José do Nascimento Rodrigues, além de amigo do coração, trata-se dum lutador que perdeu a batalha da vida.
Principal organizador dos Convívios do Batalhão de Caçadores Pára-quedistas 32, da Viagem a Moçambique, do Movimento Cívico de Antigos Combatentes e outras actividades sociais, era um empresário amigo dos seus colaboradores.
O velório efectuar-se-à a partir das 17,00 horas de hoje, na Igreja da Charneca da Caparica (junto às bombas da GALP) e o funeral às 08,30 horas de Sexta-Feira, seguindo para Aguiar da Beira, sua terra natal.
É com pesar que vos informo que o nosso camarada e amigo José Nascimento Rodrigues faleceu hoje, depois de dolorosa e prolongada doença.
Os que o conheceram sabem que era um homem bom, lutador de causas nobres, amigo dos desfavorecidos a quem ajudava sem regatear esforços.
Era seu desejo que quando partisse, os velhos camaradas da boina verde (que ele tinha sempre na mesa de cabeceira do hospital), soubessem da sua última viagem. É isso que estou a fazer ao dar-vos conhecimento desta triste notícia. Se puderem reencaminhar e divulgar esta informação pelos Páras que o conheceram, fico-vos agradecido.
Até sempre!
António Brito
sábado, 21 de novembro de 2009
Pedido de colaboração à FRELIMO
Então porque é que vos escrevo?
Em 15 de Novembro de 1972 e durante o conflito colonial que envolveu os nossos dois países, ocorreu um incidente com as nossas tropas e guardas fronteiriços da Tanzânia (ou com a FRELIMO, pois não há certezas de quem interviu directamente naquele incidente), cuja explicação a desenvolvo com mais detalhe num dos documentos em anexo, e para o qual solicito a vossa colaboração, e do qual foi morto um companheiro meu (Furriel Castro Guimarães, do Grupo GEs 212 estacionado em Nhica do Rovuma) junto à fronteira com a Tanzânia, presumindo-se que o seu corpo tivesse sido levado para a aldeia de Kytaia dado ser a aldeia mais próxima do local do incidente, sendo o mesmo largamente noticiado pela rádio tanzaniana na altura e do qual existem fotos com o seu corpo junto de oficiais tanzanianos que também vos envio em anexo.
A colaboração que pretendia da vossa parte e da qual já informei a Liga dos Combatentes aqui em Portugal, que por sua vez já entrou em contacto com o Coronel Câmara Stone, adido Militar de Portugal na embaixada de Portugal em Maputo (e dos quais ainda não obtive resposta dos desenvolvimentos desses contactos) prende-se com o facto de, e tendo em conta a influência e o prestígio que a FRELIMO goza junto das autoridades da Tanzânia, no sentido de me indicar qual a forma de eu, com a vossa prestimosa colaboração (ou por vosso intermédio) obter contactos com responsáveis do governo da Tanzânia responsáveis por este tipo de assuntos e, por sua vez, com responsáveis locais da povoação de Kytaia, para assim poder saber se alguém naquela aldeia se recorda desse incidente e desta forma saber em que local se encontra sepultado o referido militar.
Penso que, e apesar de já terem passado cerca de 37 anos do ocorrido, decerto que haverá alguém naquela aldeia tanzaniana que se recordará do incidente ocorrido em 15 de Novembro de 1972, e poderá prestar as informações tão necessárias para a resolução deste caso.
Esta informação é de total importância para os seus familiares que pretendem ver os seus restos mortais num futuro que se prevê longo mas possível, serem sepultados nas sua terra e mais próximo de si, como também pelo facto de a Liga dos Combatentes em Portugal (que mantém aliás excelentes relações com a sua congénere moçambicana, a Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional estar a encetar diligências para a recuperação dos corpos de militares portugueses mortos em combate, cujos locais já estão identificados e sepultados nos vários teatros de guerra (Guiné, Angola e Moçambique), sendo este caso mais difícil por se tratar de um militar provavelmente sepultado em território da Tanzânia e em local que de momento consideramos incerto, e a Liga dos Combatentes não poder começar as diligências para a sua procura e transladação dos seus restos mortais, sem saber ao certo se de facto o seu corpo se encontra sepultado na aldeia de Kytaia (como se prevê que esteja).
É esta a minha primeira preocupação. Saber, com a vossa colaboração e das autoridades tanzanianas e por sua vez das populações da aldeia de Kytaia (onde alguém provavelmente se lembrará do ocorrido no ano de 1972) se de facto o corpo daquele militar se encontra ali sepultado, para que a Liga dos Combatentes em Portugal possa a seu tempo iniciar as diligências para a transladação do seu corpo.
Embora considere este caso de extrema dificuldade dado envolver países diferentes e uma povoação tão longínqua (Kytaia) considero no entanto que dadas as relações privilegiadas que existem entre os governos de Moçambique e da Tanzânia, e até da própria FRELIMO junto das populações fronteiriças de ambos os países, penso que, e numa acção que considero de acrescido gesto humanitário, esta colaboração poderá ser levada a cabo e com alguma probabilidade de se concretizar com êxito, para regozijo não só dos familiares do referido militar que anseiam pelo fim do seu sofrimento, mas também de ambos os povos, que embora outrora beligerantes hoje abraçam uma mesma língua e têm relações de amizade profundas.
Aguardo com alguma ansiedade o vosso contacto.
O meu abraço
Carlos Vardasca
domingo, 15 de novembro de 2009
37 anos depois. Furriel Castro Guimarães sempre presente
Para além dos vários contactos já efectuados com o objectivo de sensibilizar as organizações contactadas para o início (no seu tempo oportuno) das pesquisas e procura do possível local onde supostamente poderá estar sepultado o corpo do Furriel Castro Guimarães (dos Grupos Especiais 212) na aldeia de Kytaia na Tanzânia, mais recentemente recebi de um ex-combatente na Guiné, o ex- Furriel Miliciano NM 10109869, José Manuel Medeiros da Silva Maia, um expressivo apoio para esta causa. Este ex-militar foi para a Guiné em rendição individual com o objectivo de substituir um Furriel Miliciano falecido em combate em GUIDAJE, acabando por ficar colocado em Bissau na Repartição de Operações do Comando Chefe do Comando Territorial Independente da Guiné nos anos de 1970-1972.
A particularidade deste apoio prende-se com o facto de que, para além de ser um ex-combatente da Guerra Colonial, José Manuel Maia foi também companheiro de Curso do Furriel Castro Guimarães na Escola Secundária de Fafe, nos 1º e 2º anos do Ciclo Preparatório do Curso de Formação de Electromecânica de 1961 a 1969, para depois ambos ingressarem no serviço militar.
Na próxima reunião da Associação dos ex-Alunos, Funcionários e Professores da Escola Secundária de Fafe a realizar muito brevemente e de que Manuel Maia faz parte, ele confirmou que, por estar solidário com os propósitos deste movimento, que irá colocar à discussão o futuro apoio daquela Associação à causa "RUMO a KYTAIA. Devolver o Furriel Castro Guimarães à Pátria" que tem como objectivo final, a transladação do corpo daquele militar falecido em combate para mais próximo dos seus familiares; reabilitar o seu nome como mais um combatente falecido em combate (dado que não se tratou de um desertor como os documentos do exército da altura o classificaram) e a colocação do seu nome no Mausoléu dos Combatentes junto à Torre de Belém em Lisboa, de onde tem sido injustamente arredado.
A quem consultar as páginas deste blog e quiser saber algo mais sobre o ocorrido (em 15 de Novembro de 1972 no norte de Moçambique, nas margens do Rio Rovuma na fronteira com a Tanzânia) com o Furriel Miliciano NM 12619071, João Manuel de Castro Guimarães, basta ir a "Etiquetas" e clicar em "Furriel Castro Guimarães. GEs 212" e aí encontrará tudo relacionado com o ocorrido com este ex-combatente falecido em combate e, se for o caso, contactar com este blog (deixando o seu contacto) e manifestar a sua solidariedade para com esta causa que pensamos ser de uma justeza inquestionável.
Carlos Vardasca
15 de Novembro de 2009
Foto 1: Projecto de Logotipo do "Movimento de Cidadãos RUMO a KYTAIA. Devolver o Furriel Castro Guimarães à Pátria"
Foto 2: Documento da Liga dos Combatentes em resposta ao meu pedido de esclarecimentos e apoio para esta causa.
Foto 3: Documento da Liga dos Combatentes dirigida ao Adido Militar na Embaixada de Portugal em Moçambique, Coronel Câmara Stone.
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
No 20º Aniversário da Queda do Muro de Berlim. "Quantos Muros ainda teremos que derrubar?
Ao longo dos séculos, a humanidade foi conquistando direitos que até então lhes tinham sido negados, já que se partia do pressuposto de que o que estava instituído tinha que ser assim e não poderia ser alterado “porque era uma dádiva de deus”.
Assim, os privilégios foram-se eternizando e institucionalizando, a opressão e a escravatura foram ganhando um estatuto que lhes conferiu (como estado de submissão) uma forma de vida considerada normal a que os escravizados estivessem condenados a suportar por toda a sua existência.
Mas aquilo que parecia estar “oficializado” foi, ao longo dos séculos sujeito a diversos estádios de desenvolvimento, que foram permitindo, por pressão de movimentos sociais favoráveis à emancipação dos povos, a uma tomada de consciência por parte das sociedades, que conduziram à sua libertação através da interiorização de utopias tomadas até aí como impossíveis, mas que se foram materializando em movimentos libertadores mais ou menos violentos, dependendo dos níveis de opressão e de escravatura a que estavam sujeitos os povos, pois sempre foi o que de certa forma tem determinado os níveis de agressividade e de revolta a encetar contra o opressor.
Vem este artigo a propósito no sentido de refutar a questão, sobre o que vulgarmente e de uma forma arrogante é divulgado pela comunicação social controlada pelos grandes grupos económicos, que dizem, ter-se assistido com a queda do Muro de Berlim em 1989, “ao fim das utopias", e que os povos dificilmente encontrarão outras que lhes despertem tanto alento como as que foram determinantes para as suas lutas nos séculos XIX e XX, e em pleno século XXI.
Tremenda falsidade. "A história tem-nos mostrado que não tem fim", contrariando o que preconizava Francis Fukuyama na sua tese de “O fim da história”, e que novos conflitos eclodirão fruto da instabilidade social e da luta secular dos povos pela preservação da sua identidade.
Ao erguerem-se "novos Muros, novas utopias se levantarão", em resultado da luta dos povos contra a opressão e a injustiça. Contra a globalização neoliberal que lhes tenta formatar e uniformizar o pensamento, moldar as ideias e os costumes.
A recente construção do muro Sionista na Faixa de Gaza; do muro na fronteira entre os EUA e o México; os "Velhos Muros" que são o grande fosso que separa os cada vez mais ricos dos cada vez mais pobres, assim como as várias "barreiras de arame farpado" que tentam amuralhar a Europa, impedindo a entrada dos famintos de África naquela “fortaleza” onde reina a opulência e a ostentação, são meras tentativas goradas ao fracasso, pois os despojados das suas riquezas naturais; privados dos seus direitos sociais e de exercerem a soberania económica sobre os seus territórios ocupados, sabem muito bem, como e onde se dirigir, para encontrar a estabilidade e o sustento de que foram privados e que já vai escasseando para si e para os seus filhos.
Aqueles povos, decerto que ainda não se esqueceram de quem lhes "esventrou" as terras e se apoderou dos seus recursos naturais; sabem muito bem onde os encontrar e onde foram "armazenados" e não desistirão enquanto não os puderem partilhar. Sabem muito bem quem lhes ocupa o território fundamentando-se em questões meramente religiosas e políticas, e não descansarão enquanto não virem derrubados os muros que lhes esquartejam a pátria, muitos desses "Muros" construídos por países que enriqueceram à sua custa e que agora lhes recusam a partilha do seu bem-estar.
Por tudo isto, não se admirem (os que devido a um conformismo prenhe de parcialidade e intencionalmente menos atentos) que ainda existam causas e povos que se movimentam e ergam em pleno século XXI - "como novas utopias” - o apelo ao derrube dos vários “muros” que tentam perpetuar a sua pobreza; isolar e calar a sua indignação; os privam dos bens essenciais à sua sobrevivência e os impedem de exercer o direito de defender a sua pátria.
Carlos Vardasca
09 de Novembro de 2009
sábado, 7 de novembro de 2009
14 de Novembro de 2009. Evocação do fim da Guerra Colonial
Segundo o General Chito Rodrigues, a Liga dos Combatentes decidiu realizar essa primeira cerimónia no dia em que organiza as comemorações do 91º aniversário do Armistício - que marcou o fim da I Grande Guerra - e do 86º da própria Liga dos Combatentes.
O evento vai ter lugar junto ao Monumentos dos Combatentes do Ultramar, em Belém (Lisboa), será presidido pelo ministro da Defesa, Augusto Santos Silva, e terá como orador convidado o General Valença Pinto, chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), adiantou o general Chito Rodrigues.
A tradicional homenagem aos militares mortos em combate, que marca aquela cerimónia anual, vai ficar marcada este ano pela presença dos corpos de três soldados que morreram na Guiné.
Chito Rodrigues explicou que os restos mortais desses militares - furriel José Carlos Moreira Machado, soldado Manuel Maria Rodrigues Geraldes e primeiro cabo Gabriel Ferreira Telo - foram recuperados há meses, mas só agora foram identificados (...)
Diário de Notícias, 07 de Novembro de 2009
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
"Um mundo silencioso que não está a salvo. Um outro combate que a todos nós pertence"
D I V U L G A Ç Ã O
(...) A Greenpeace está a divulgar o vídeo O Fundo da Linha para alertar para a destruição causada pela pesca de profundidade em águas internacionais. Este vídeo conta com o apoio de Sigourney Weaver e insta os governos de todo o mundo a adoptar medidas concretas e urgentes para defender a vida marinha que se esconde nas profundezas dos oceanos.
Em Novembro deste ano a Assembleia Geral das Nações Unidas vai voltar a abordar este tema e vai decidir os próximos passos relativamente à implementação da resolução 61/105. Esta resolução pede a tomada de medidas imediatas que administrem os stocks de peixe de maneira sustentável e que protejam os ecossistemas marinhos vulneráveis de práticas de pesca destrutivas.
Desde o dia 16 de Outubro, que a Greenpeace está na estrada para sensibilizar consumidores para as ameaças que os ecossistemas vulneráveis em alto mar enfrentam e pressionar os retalhistas a tomar a liderança e parar de comercializar espécies de peixe de profundidade. Estas grandes empresas têm o dever de garantir aos seus consumidores a sustentabilidade de todo o peixe que vendem e de não encorajar a destruição dos últimos refúgios de vida marinha do planeta.
Entra em acção: assina a petição aos supermercados para que ponham fim à comercialização de espécies de peixe de profundidade.
Acreditamos que este vídeo é uma boa oportunidade para divulgar as ameaças que os ecossistemas das águas profundas enfrentam. Contamos com o teu apoio: divulga O Fundo da Linha e encoraja os teus contactos a assinar a petição (...)
Um abraço,
Lanka, Lara, Osvaldo e toda a Greenpeace.
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
A indignação também já chegou ao Porto
(...) A guerra faz parte da história recente e não pode ser apagada. Mas a forma como os ex-combatentes, os do serviço militar obrigatório, que foram mesmo obrigados a ir para a guerra, estão a ser desprezados, ofendidos e ostracizados pelo poder central também vai fazer parte da história.
Foto: Artigo do ex-combatente Hernâni Ferraz publicado no Jornal de Notícias de 24 de Outubro de 2009.
domingo, 1 de novembro de 2009
Um protesto que nos chega dos Estados Unidos da América
Amigo, no seu web verifiquei que é bem visível a reclamação dos ex-veteranos (como o meu amigo) ...inconformados com a situação do governo roubar uns milhões de "tostões" (euros) com a redução do suplemento da miserável pensão.
Há um sentimento de injustiça contra nos veteranos. Uma chuva de cartas foram recebidas no ministério da Defesa reclamando o descontentamento de todos nos veteranos.
A este propósito foi publicado num jornal Americano o seguinte, que passo um resumo:
COLONIAL WAR - PORTUGUESE GOVERNMENT TAKE AWAY COINS A EXCOMBATANTS (guerra colonial - governo português tirou tostões a ex-combatentes)
Mais adianta o jornal:
As forças Portuguesas frente a um inimigo ultimamente com armamento sofisticado (como os misseis Stella de fabrico russo) e com vasto conhecimento do terreno.
O moral das tropas Portuguesas era bem alto de robustos combatentes (confirmado pelos partidos nacionalistas (in).
E agora o governo (está-se nas lonas) criou três escalões de serviço: 75 Euros até 11 meses: 100 Euros período de 23 meses e 150 Euros para aqueles com 24 meses ou mais..
PARA TODOS OS EMIGRANTES QUE POSSAM VER ESTA MENSAGEM
Saibam que cerca de quatro mil emigrantes em alguns países como a Venezuela de Hugo Chaves, estão impedidos de beneficiar do suplemento (da contagem do tempo militar) por Portugal não ter convenções com certos países (um deles a Venezuela)
Qualquer emigrante que pretenda informação sobre se tem direito à pensão caso se encontre incapacitado por invalidez ou completar 65 anos, deve requerer informação para a seguinte direcção:
Departamento de Acordos Internacionais de Segurança Social, I.P.
Rua da Junqueira, 112- Apartado 3070
1300-344 Lisboa, Portugal.
Mais de quatrocentos mil ex-combatentes têm direito a receber o Suplemento de Pensão assim que tiverem atingido o nível de idade ou baixa por incapacidade física, e que estejam incorporados nas convenções internacionais dos países Europeus ou dos E.U.da América e Canadá.
Cem mil euros é a divida do ano 2008 que o Ministério da Defesa a Segurança Nacional tem
para com a Caixa Nacional de Pensões.
Sem mais de momento
Moisés J. Cavadas
Veterano da Guerra Colonial em
do exército americano
1968-1969
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
"Nem só para lavar a roupa eles serviam"
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
O meu protesto em forma de indignação
Em resposta ao comentário do meu amigo António Filipe, Ex-Enfermeiro da Companhia de Caçadores 3311 (Batalhão de Caçadores 3834) aproveito para vos dizer a todos vós que também estou profundamente indignado com a alteração efectuada pelo actual governo ao Suplemento Especial de Pensão dos ex-combatentes da Guerra Colonial.
Eu inicialmente recebia 185,70€ e este ano só recebi 150,00€. Portanto, é mais que justo considerar que foi um roubo de 35,70 € que o actual governo me fez, assim como à grande maioria dos ex-combatentes da Guerra Colonial, ao dividir os ex-combatentes em três escalões e colocar como escalão máximo os 150,00€, no que resultou numa redução substancial em todos eles.
Parece que não, mas foram uns largos milhares de Euros que o governo arrecadou nos seus cofres, dinheiro esse usurpado do esforço de guerra de milhares de ex-combatentes, em prol de uma Elite que vive sempre à “sombra do orçamento” e que sempre comeu “à volta da mesma gamela”.
Eu sei que esta verba é uma ninharia que para muitos de nós “nem aquece nem arrefece” e que seria muito mais bem empregue se fosse aplicada em favor daqueles que ainda hoje sofrem os efeitos da guerra e continuam desprezados pelas instituições, mais bem necessitados do que nós, que vivem com uma reforma de miséria, e o que viesse deste Suplemento Especial de Pensão (agora substancialmente reduzido) seria mais um aconchego para aliviar uma pequena parte das suas carências.
No entanto, e apesar de reconhecer a realidade descrita no início do parágrafo anterior, não deixo também de considerar de que se tratou de um roubo aquilo que o governo fez aos ex-combatentes da Guerra Colonial.
Eu penso que isto merecia um violento protesto por parte dos ex-combatentes, não com o objectivo de que nos seja restituída essa verba, mas que o montante total arrecadado em resultado das reduções efectuadas seja aplicado na assistência medicamentosa e apoio social aos ex-combatentes que dela necessitam, e vivam em condições degradantes em função do seu grau de deficiência motivado pela guerra.
O que acham? Que pensam sobre esta questão?
Um abraço a todos
Ex-combatente
Da Companhia de Caçadores 3309
(Moçambique 1971-1973)
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Quando o seu silêncio nos perturbou...
helicóptero ao Hospital de Mueda. Moçambique, 02 de Outubro de 1971.
In: Do Tejo ao Rovuma. Uma breve pausa num tempo das nossas vidas. História da Companhia de Caçadores 3309. Moçambique 1971-1973.
Um abraço solidário de quem sobreviveu
Carlos Vardasca