sábado, 21 de novembro de 2009

Pedido de colaboração à FRELIMO


Prezados companheiros (1)
Quem vos escreve é um ex-combatente da Guerra Colonial integrado na Companhia de Caçadores 3309, que cumpriu o serviço militar em Moçambique de 1971 a 1973, mais concretamente nos Aquartelamentos de Nangade (e todo o percurso nas picadas entre Nangade e Palma, passando pelos Aquartelamentos de Pundanhar e Nhica do Rovuma) Nova Torres, Tartibo (nas margens do rio Rovuma junto à fronteira com a Tanzânia) e mais para sul em Balama, todos eles no Distrito de Cabo Delgado. Quando vos falo em Guerra Colonial, é assim mesmo que eu a entendo, tendo em conta que mesmo na altura da minha mobilização já assim pensava, já que a minha opinião política da qual comecei a ter consciência bastante cedo e que se manteve ao longo da minha juventude até ser mobilizado para Moçambique, se mantém inalterável, e que poderá ser comprovado pelos textos que escrevo com alguma regularidade no meu blog http://dotejoaorovuma-cabel.blogspot.com
Então porque é que vos escrevo?
Em 15 de Novembro de 1972 e durante o conflito colonial que envolveu os nossos dois países, ocorreu um incidente com as nossas tropas e guardas fronteiriços da Tanzânia (ou com a FRELIMO, pois não há certezas de quem interviu directamente naquele incidente), cuja explicação a desenvolvo com mais detalhe num dos documentos em anexo, e para o qual solicito a vossa colaboração, e do qual foi morto um companheiro meu (Furriel Castro Guimarães, do Grupo GEs 212 estacionado em Nhica do Rovuma) junto à fronteira com a Tanzânia, presumindo-se que o seu corpo tivesse sido levado para a aldeia de Kytaia dado ser a aldeia mais próxima do local do incidente, sendo o mesmo largamente noticiado pela rádio tanzaniana na altura e do qual existem fotos com o seu corpo junto de oficiais tanzanianos que também vos envio em anexo.
A colaboração que pretendia da vossa parte e da qual já informei a Liga dos Combatentes aqui em Portugal, que por sua vez já entrou em contacto com o Coronel Câmara Stone, adido Militar de Portugal na embaixada de Portugal em Maputo (e dos quais ainda não obtive resposta dos desenvolvimentos desses contactos) prende-se com o facto de, e tendo em conta a influência e o prestígio que a FRELIMO goza junto das autoridades da Tanzânia, no sentido de me indicar qual a forma de eu, com a vossa prestimosa colaboração (ou por vosso intermédio) obter contactos com responsáveis do governo da Tanzânia responsáveis por este tipo de assuntos e, por sua vez, com responsáveis locais da povoação de Kytaia, para assim poder saber se alguém naquela aldeia se recorda desse incidente e desta forma saber em que local se encontra sepultado o referido militar.
Penso que, e apesar de já terem passado cerca de 37 anos do ocorrido, decerto que haverá alguém naquela aldeia tanzaniana que se recordará do incidente ocorrido em 15 de Novembro de 1972, e poderá prestar as informações tão necessárias para a resolução deste caso.
Esta informação é de total importância para os seus familiares que pretendem ver os seus restos mortais num futuro que se prevê longo mas possível, serem sepultados nas sua terra e mais próximo de si, como também pelo facto de a Liga dos Combatentes em Portugal (que mantém aliás excelentes relações com a sua congénere moçambicana, a Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional estar a encetar diligências para a recuperação dos corpos de militares portugueses mortos em combate, cujos locais já estão identificados e sepultados nos vários teatros de guerra (Guiné, Angola e Moçambique), sendo este caso mais difícil por se tratar de um militar provavelmente sepultado em território da Tanzânia e em local que de momento consideramos incerto, e a Liga dos Combatentes não poder começar as diligências para a sua procura e transladação dos seus restos mortais, sem saber ao certo se de facto o seu corpo se encontra sepultado na aldeia de Kytaia (como se prevê que esteja).
É esta a minha primeira preocupação. Saber, com a vossa colaboração e das autoridades tanzanianas e por sua vez das populações da aldeia de Kytaia (onde alguém provavelmente se lembrará do ocorrido no ano de 1972) se de facto o corpo daquele militar se encontra ali sepultado, para que a Liga dos Combatentes em Portugal possa a seu tempo iniciar as diligências para a transladação do seu corpo.
Embora considere este caso de extrema dificuldade dado envolver países diferentes e uma povoação tão longínqua (Kytaia) considero no entanto que dadas as relações privilegiadas que existem entre os governos de Moçambique e da Tanzânia, e até da própria FRELIMO junto das populações fronteiriças de ambos os países, penso que, e numa acção que considero de acrescido gesto humanitário, esta colaboração poderá ser levada a cabo e com alguma probabilidade de se concretizar com êxito, para regozijo não só dos familiares do referido militar que anseiam pelo fim do seu sofrimento, mas também de ambos os povos, que embora outrora beligerantes hoje abraçam uma mesma língua e têm relações de amizade profundas.
Aguardo com alguma ansiedade o vosso contacto.
O meu abraço

Carlos Vardasca
Sábado, 21 de Novembro de 2009
Nota: Texto do e-mail enviado ao partido FRELIMO.
Foto 1: Símbolo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO)
Foto 2: Guerrilheiros da FRELIMO minando um trilho de passagem das nossas tropas, algures em Cabo Delgado (Norte de Moçambique) durante o conflito colonial.

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