quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Uma noite na aldeia (conto)

Já se previa um inverno rigoroso. O manto de neve que cobria todo o distrito de Chaves há muito que também branqueava os campos em redor da aldeia de Moure, o que era sempre motivo de preocupação para os seus habitantes.
Os pastos rareavam. As cabras que era hábito a Gracinda (1) levar para o pastoreio já raramente saíam do estábulo, e o telhado coberto de neve já não fumegava pelos intervalos das placas de ardósia mas apenas pela velha chaminé, onde o odor daquela sopa gordurosa juntava à mesma mesa a frágil adolescência de Gracinda e os restos de saudade que consumiam a mãe, que ainda chorava a ausência do marido em parte incerta, e a angústia de quem mal tinha forma nem como gerir os parcos dinheiros que moldavam a sua pobreza.
Bastante agasalhada, acabada de chegar do forno comunitário da aldeia onde fora buscar o pão amassado pela Ana dos Currais, fascinada por tanta iluminação e depois de transpor o arvoredo que circundava a casa de quem, sendo médico em Lisboa apenas ali vinha ficar em épocas festivas, Gracinda abeirou-se de uma das janelas e ali ficou estupefacta, contemplando maravilhada a enorme árvore de natal e um amontoado de papéis de embrulho já rasgados que se espalhavam por toda a sala, depois de terem envolvido o que era agora o fascínio das crianças daquela numerosa e abastada família.
Já passava da meia-noite e a Gracinda antes de regressar a casa ainda foi dar de comer ao gado, acariciar uma das cabras que estava prestes a ter cria e espalhar algum feno pelo chão do estábulo para o tornar ainda mais confortável para os animais, tendo tempo ainda de passar pela casa da vizinha Cordoeira, certificando-se se o lume da lareira estava apagado, aconchegar-lhe os cobertores ao corpo e fazer-lhe um pouco da companhia que à muito se viu privada desde que o marido, operário da construção civil, falecera de forma trágica num acidente de trabalho num dos bairros de Paris.
Sozinha com a mãe, no meio de quatro paredes iluminadas por uma candeia de azeite que projectava as suas sombras na rudez das pedras de granito, Gracinda olhava inerte para a lareira e para o caldeiro de onde fumegava o mesmo odor que há muito lhe dava o sustento.
Enquanto a mãe Florinda (2) ainda esbracejava num alguidar para amassar o resto da massa dos cuscurões, Gracinda, de olhos abrilhantados pelo lume da lareira, lembrava a enorme árvore de natal da casa do médico que não lhe cabia dentro do casebre, imaginando-se criança e a brincar com os brinquedos que não vira mas que idealizava bonitos, a avaliar pela beleza dos papeis de embrulho que agora jaziam amarrotados num dos caixote do lixo.
Atenta que estava aos sons que viessem do outro lado das paredes da casa, ao menor sinal que lhe soou Gracinda correu apressada para o estábulo onde se iniciara o parto de mais um caprino, ajudando ao seu nascimento, aligeirando as dificuldades da velha cabra que soltava bramidos de dor.
Exausta, e depois de ter avisado a mãe que iria ficar no estábulo nessa noite para vigiar o animal que acabara de nascer, Gracinda, sentindo-se frágil mas inundada de felicidade, enroscou-se numa velha manta e aconchegou-se junto do pequeno cabrito de quem grande parte da noite não desviou o olhar, acariciando-o com a mesma ternura como se fora um brinquedo que nunca recebera, acabando por adormecer enquanto recordava todos momentos em que nunca tivera tempo para brincar.
No dia seguinte e de regresso ao trabalho do campo na companhia da mãe, Gracinda mais uma vez acabou por verificar que afinal tudo estava tal e qual como dantes, apesar do pároco da aldeia anunciar todos os anos que o mundo iria mudar “com o nascimento do menino”.

Carlos Vardasca
21 de Dezembro de 2008
In: “Tempos Inquietos 2”, páginas 63, 64. 21 de Dezembro de 2008.

(1) Gracinda da Conceição Correia Braz Vardasca (minha mãe)
(2) Florinda Correia (minha avó materna)

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O que faz o "Héli" aqui?

Na foto podem ver-se da esquerda para a direita: Os Soldados de Transmissões Serrano e Carlão, Furriel Gabriel, Alferes Martins, Furriel Barbudo e o 1º Cabo Escriturário Nunes. Aquartelamento de Tartibo. Norte de Moçambique. Natal de 1971
O seu roncar já se ouvia à distância, e todos pensavam que se tratava apenas de mais uma passagem com outro destino, dado que naquele dia não estava previsto qualquer abastecimento ao Aquartelamento de Tartibo (1) .
Estávamos no ano de 1971, e faltavam poucos dias para o natal, quando o helicóptero sobrevoou o aquartelamento, pousando de imediato na clareira que fazia de campo de futebol.
A curiosidade apoderou-se de todos os militares ali presentes que rodearam o “Héli” (2) como se fossem formigas em redor de um torrão de açúcar.
Vá malta, vamos lá afastarmo-nos para facilitar a descarga dos abastecimentos ― Disse o capitão Hélio (3) , que entretanto chegara ao local um pouco rabugento:
Só queria saber quem são os cabrões que têm o hábito de cada vez que o helicóptero sobrevoa o aquartelamento se põem a berrar “olha o Hélio, olha o Hélio” ― O que provocou a risada geral.
Quando as portas se abriram é que todos os presentes verificaram que aquela “máquina voadora” não transportava desta vez caixas de cerveja nem sacos de batatas, mas uns estranhos passageiros que berravam intensamente e que durante a viagem já tinham empestado e conspurcado o interior do helicóptero.
Para nosso espanto, os “digníssimos passageiros” eram cinco belos cabritos que o nosso Vague Mestre (em conluio com as chefias da Manutenção Militar em Porto Amélia) nos quis brindar por altura do natal, como forma de fazermos uma breve pausa na já intragável ementa que oscilava entre o arroz com peixe ou o peixe com arroz.
Sem se aperceberem da sua sorte, os pobres bichos tiveram uma estadia no aquartelamento muito curtíssima, pois o natal estava mesmo ali “ao virar da esquina”, mas também porque a nossa voracidade em os tragar se sobrepôs a todos os afectos que lhes fomos dedicando nos dias em que se foram mantendo amarrados a uma das tendas à espera do “juízo final”.
Indiferentes ao que de facto lhes aconteceu, os cabritos naquela noite de natal jaziam já esquartejados, bem tostados em encardidos tabuleiros, acompanhados por batatas que devido à escuridão no interior das tendas não se adivinhavam estarem tão queimadas, mas que deixavam espaço para que no molho que as engordurava fossem mergulhados pequenos pedaços de caraças tão mal enjeitadas, que de imediato eram regadas até a saciedade por “Laurentinas” e “2M” (4) , que cumpriam a sua missão de refrescar gargantas gastas pelo cansaço, ressequidas pelo medo e o isolamento, mas também pela saudade de quem tão distante aguardava pelo seu regresso.
Assim se passou o natal de 1971, felizmente distante, mas tão próximo de nós quando ainda hoje recordamos os nossos companheiros que tombaram em combate, “sem jeito nem prosa”.

Carlos Vardasca
20 de Dezembro de 2011

(1) Aquartelamento situado na Província de Cabo Delgado (norte de Moçambique) junto à fronteira com a Tanzânia.
(2) Abreviatura de helicóptero.
(3) Hélio Augusto Moreira, capitão da Companhia de Caçadores 3309, de quem se fazia alguma chacota de cada vez que vinha ao aquartelamento um helicóptero, devido à semelhança do seu nome com a abreviatura daquela aeronave.
(4) Marcas de cerveja de Moçambique. 

sábado, 26 de novembro de 2011

Daniel Alves Mendes. "Mais uma baixa nas nossas fileiras"

O Daniel (o terceiro a contar da esquerda) na companhia do Lobo, Portugal e do Carvalho. Aquartelamento de Tartibo, 1971. Em destaque uma foto sua mais actual.
O Daniel (ao centro) na companhia do Manuel Gonçalves e do Barreiras. Aquartelamento de Nangade, 1972
O Daniel (numa foto mais recente) na companhia do seu filho mais novo. Bobadela 2010
Camaradas e amigos
É com enorme sentimento de pesar e mágoa, que se comunica a todos o falecimento de Daniel Alves Mendes, ex-1º Cabo Atirador NM 13512970 do 3º Pelotão da Companhia de Caçadores 3309.
Este nosso companheiro era morador na Bobadela - Loures, tinha 61 anos de idade, e faleceu de ataque cardíaco em 21 de Novembro de 2009.
Só muito recentemente é que soubemos do seu falecimento e, por esse facto, foram apresentadas as condolências e pesares aos seus familiares em nome de todos nós, lamentando não o termos feito antes apenas por desconhecimento do ocorrido.
Ao Daniel, aqui fica o nosso abraço solidário.

Carlos Vardasca
26 de Novembro de 2011

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Viagem a Moçambique (Informação)

Vista aérea do Aquartelamento de Nangade. Moçambique 1971
 Cidade de Maputo (ex Lourenço Marques) Moçambique 1971
Camaradas, amigos Cocuanas;
Saudações Cordiais.
 Estamos seriamente a pensar numa viagem de regresso a MOÇAMBIQUE, com a descoberta de um novo País e a memória de um passado mais ou menos recente, cujo promotor é o Sr. Heitor Ribeiro, através da Associação dos ex-combatentes, com sede em Lisboa.
Será uma viagem de onze dias com partida de Lisboa/Maputo/Lisboa e voos internos visitando; Maputo,Pemba-Mueda-Macomia-Chai-Antadora-NANGADE-Pundanhar-Palma-Mocimboa-Nampula-Nacaroa.
Excursões opcionais: Safari Kruger/Barragem Libombos.
Será o recordar nostálgico de saudade, acompanhado de um misto de alegria/sentimento e cujos trilhos outrora partilhados e amaldiçoados soam a meras memórias.
Eu sei que o momento não é de todo o mais favorável, mas acredito que tempos melhores virão. Ainda falta algum tempo e estamos habituados a apertar o cinto. O preço é significativo, mas poderemos pagar em  prestações, consoante a modalidade escolhida.
Em 2011 seriam 2575 €, mas em 2012 deverá ser um pouco mais, ou manter-se-á, dependendo das circunstâncias dessa altura.
Esta viagem far-se-á com o mínimo de 20 pessoas.
Quantos mais… melhor (menor o preço).
Um ganda abraço cocuana
João Arteiro
Vila do Conde, 23 de Novembro de 2011
Nota: Em face desta informação, vamos pensar nesta oportunidade, e estarmos todos atentos às informações que nos forem chegando, de forma a que possamos decidir mediante as datas que nos forem apresentadas, o programa da viagem em concreto e os respectivos preços devidamente actualizados.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Desaparecido em Combate

Companheiro, camarada e amigo e todos aqueles que queiram interiorizar aquele fatídico acontecimento.
Por si só, a atitude político militar assumida pelas autoridades portuguesas à época, bem como as actuais, é demonstrativa do que representa o povo para o poder instalado. Numa palavra, nada.
Servem-se dele a seu belo prazer, não para o bem e para o mal; isso é nos casamentos, mas apenas para o mal.
Nunca cultivei grandes princípios de natureza política, costumo até dizer que me considero “ não alinhado “.
Tudo isto para não deixar em claro o teu último artigo sobre o “ Caso Guimarães “.
Se bem te lembras quando iniciámos os nossos comentários sobre este assunto, a que mais tarde deste eco no teu blogue, alertei-te para as dificuldades que irias encontrar, no sentido do esclarecimento total deste acto de guerra, que deu origem infelizmente ao desaparecimento deste nosso camarada, e amigo pessoal do signatário, como também, aquele que o viu vivo pela última vez, com excepção dos militares GE’s 212 que o acompanhavam.
Dificuldades provenientes do tempo decorrido entre o acto em si e a altura em que começaste a trazer à luz do dia, e ao conhecimento publico, tão triste acontecimento.
Para mim, directo participante neste acontecimento, o que mais me entristece é e foi, a forma como as autoridades, quer no tempo próprio, quer a esta longa distância, se demarcaram de procurar a verdade.
Tratou-se sem dúvida de um caso embaraçoso, mas não houve vontade política de qualquer espécie, no sentido de trazer paz à família, bem como a mim próprio, pois ainda tenho na mente este acontecimento e que desaparecerá somente, quando eu também já por cá, não andar.
A forma como as autoridades trataram este assunto à época, “ seu filho desaparecido”, não se sabe se vivo ou morto…”, sem nunca mais voltarem à carga, demonstra bem o seu empenho no esclarecimento de questões complicadas.
Éramos e mais contemporaneamente falando, somos, carne para canhão
Vê-se agora com a tal crise. Quem a paga? O soldado desta guerra. O povo.
Meu amigo; o teu esforço valeu e vale a pena. Este caso passou a ser do conhecimento de muitos camaradas nossos, e talvez nos ajude a ver melhor “a carta que somos neste baralho” de interesses que não são por certo, os nossos.
Deixemos o Guimarães em paz. Ele merece este nosso carinho. Ele sabe como nós gostamos dele.
Filipe Cardão Pinto
Ex-responsável pelo Grupo Especial GE’s 212 
do Aquartelamento de Nhica do Rovuma
Cabo Delgado. Moçambique
16 de Novembro de 2011
Foto: O Furriel Pinto à saída do Aquartelamento de Nhica do Rovuma, no comando do Grupo Especial GE’s 212, no início de uma operação de reconhecimento. Cabo Delgado, Aquartelamento de Nhica do Rovuma. Moçambique 1972.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

"Um esforço que tem sido inglório"

Faz hoje precisamente trinta e nove anos, que aquele cenário dramático ocorreu nas margens do rio Rovuma, na fronteira com a Tanzânia.
O desaparecimento em combate do Furriel Castro Guimarães no dia 15 de Novembro de 1972 é sobejamente conhecido através do meu artigo de opinião intitulado “Desaparecido em Combate” e da sua constante divulgação no blogue “Do Tejo ao Rovuma”, tendo sido uma luta constante (através de contactos permanentes com os diversos organismos e entidade oficiais) com o objectivo de (numa primeira fase) se chegar o mais perto possível da aldeia de Kytaia na Tanzânia (onde supostamente se pensa ter sido sepultado pelas autoridades tanzanianas) e numa fase posterior (se ainda for possível) recuperar os seus restos mortais e devolvê-los à pátria.
Apesar dos vários pedidos de colaboração enviados às diversas entidades e organismo oficiais contactados, até ao momento nada de novo há a registar, limitando-me hoje apenas a descrever as diligências por mim efectuadas no sentido de contribuir para a resolução deste caso.
 04 de Maio de 2008 Elaboração do artigo “Desaparecido em Combate” e enviado à Comunicação Social: Jornais Expresso, Público, Correio da Manhã, Diário de Notícias, Jornal de Notícias, Revista Visão, Revista Sábado e jornal “O RIO”, Rádio Televisão Portuguesa (RTP), assim como a vários órgãos de comunicação social de Moçambique.
07 de Maio de 2008  Divulgação de “Desaparecido em Combate” junto da Liga dos Combatentes, Associação de Veteranos de Guerra, Associação dos Deficientes das Forças Armadas, dos Blogues “Guerra do Ultramar” e “Luís Graças & Camaradas da Guiné”, Arquivo Histórico Militar, Associação de GE-GEP, Associação 25 de Abril, Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra, APOIAR (Associação de Apoio aos Ex-Combatentes Vítimas do Stress de Guerra) Coronel Câmara Stone, Adido Militar de Defesa na Embaixada de Portugal em Maputo (Moçambique) e Amnistia Internacional.
13 de Maio de 2008 “Desaparecido em Combate” enviado em carta a todos os Grupos Parlamentares de Assembleia da República.
15 de Maio de 2008 “Desaparecido em Combate” enviado à Embaixada de Moçambique em Portugal.
26 de Maio de 2008 “Desaparecido em Combate” enviado para o Ministério dos Assuntos dos Antigos Combatentes de Moçambique.
17 de Julho de 2009 “Desaparecido em Combate” enviado ao Tenente Coronel Álvaro Diogo da Liga dos Combatentes.
23 de Novembro de 2009 “Desaparecido em Combate” enviado ao Presidente de Moçambique Armando Guebuza, à FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) e à Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (Moçambique).
07 de Abril de 2010 “Desaparecido em Combate” enviado à Comunidade Católica de Stº Egídio radicada na Tanzânia, e ao Padre José Alexandre da Paróquia S. Miguel Arcanjo da Comunidade Missionária Boa Nova radicada na aldeia de Malema em Moçambique.
10 de Setembro de 2010 Encontro em Alhos Vedros com o Padre José Alexandre dos Missionários da Comunidade da Boa Nova, a quando da sua deslocação a Portugal, onde lhe expus pessoalmente todo o processo relacionado com o Furriel Castro Guimarães, onde prometeu toda a sua colaboração.
15 de Novembro de 2010 “Desaparecido em Combate” enviado em carta ao Embaixador da República Unida da Tanzânia em Paris (França).
11 de Agosto de 2011 Carta enviada ao Padre José Alexandre dos Missionários da Comunidade da Boa Nova radicada na aldeia de Malema (Moçambique), a relembrar-lhe do caso do Furriel Castro Guimarães, saber se das diligências que disse ir efectuar se já tinha alguns dados concretos sobre o mesmo.
Tem sido de facto um esforço inglório, tendo em conta as individualidades e organismos oficiais contactados, sem que de qualquer das partes haja pelo menos uma resposta, à excepção da Liga dos Combatentes, que se comprometeu intervir no caso desde que se saiba o local exacto onde aquele militar poderá estar sepultado, bem assim como da colaboração prometida do Padre José Alexandre.
Apesar destes contratempos e reconhecendo que este caso é bastante complexo e de difícil e demorada resolução, nada me demove desta missão de tentar saber onde se encontram sepultados os restos mortais do Furriel Castro Guimarães e devolvê-los à pátria, mas também exigir que o seu nome seja inscrito no Monumento dos Combatentes em Belém, ao lado dos seus companheiros que tombaram na Guerra Colonial, de onde foi arredado por o regime do Estado Novo o ter injustamente considerado um desertor (versão contrariada por todos os militares que presenciaram aquela operação a quando do seu falecimento em combate nas margens do rio Rovuma no dia 15 de Novembro de 1972) e que a democracia saída do 25 de Abril de 1974 ainda não lhe soube restituir a dignidade.
Carlos Vardasca
15 de Novembro de 2011

domingo, 2 de outubro de 2011

O dia seguinte

Foto 1: O "Almada", o primeiro a contar da esquerda, na companhia de outros elementos da C. CAÇ. 3309 no Aquartelamento de Pundanhar. 05 de Agosto de 1971.
Foto 2: O Aquartelamento de Tartibo no dia seguinte ao ataque da FRELIMO. 02 de Outubro de 1971.
Foto 3: Evacuação do "Almada" no Aquartelamento de Tartibo. 02 de Outubro de 1971.
Foto 4: O "Almada" chega gravemente ferido ao Hospital de Mueda. 02 de Outubro de 1971.
No dia seguinte aquele Aquartelamento assemelhava-se de facto a uma “casa totalmente desarrumada”. Eram cunhetes de munições vazios, cápsulas de obus 14 e de morteiro 81mm espalhados por todo o lado, mas também um silêncio tremendamente ensurdecedor que invadia todos os presentes pelas consequências que daí resultaram.
No dia anterior (1 de Outubro de 1971) o Aquartelamento de Tartibo tinha sido alvo de um violento ataque por parte dos guerrilheiros da FRELIMO, que pela sua intensidade e duração pareciam querer recuperar aquela área que outrora fora uma das suas bases.
A flagelação de Tartibo iniciou-se pelas 17 horas e 45 minutos, e dos quatro ataques sofridos pela Companhia de Caçadores 3309 ali estacionada, intervalados entre si por cerca de 15 minutos, caíram dentro do perímetro defensivo cerca de 15 granadas de morteiro 82mm e de 60mm, tendo o mesmo só cessado por volta das 18 horas e 30 minutos com consequências bastante dramáticas para quem o viveu.
Das várias granadas de morteiro 82mm disparadas da mata densa, uma delas foi cair precisamente numa das valas onde se encontrava refugiado o “Almada”[1], que foi atingido por vários estilhaços tendo vindo a falecer, depois de uma lenta agonia que se prolongou até ao dia seguinte, numa batalha contra a morte, que se veio a tornar inglória apesar dos esforços dos enfermeiros que impotentes o tentaram salvar.
Aquele dia 02 de Outubro de 1971 gravou em todos os presentes naquele Aquartelamento uma imagem de profunda angústia, que explodiu de raiva quando o helicóptero levantou voo e levou para bem longe dali aquele nosso companheiro que já suspirava os últimos momentos de vida.
Transferido para o Hospital de Mueda e posteriormente (devido à gravidade dos ferimentos) para o Hospital Militar da cidade de Lourenço Marques[2], vindo a falecer a caminho deste no dia 02 de Outubro de 1971.
Faz hoje precisamente 40 anos do ocorrido e, em jeito de homenagem, aqui fica ao “Almada” e aos seus familiares um abraço solidário de todos os que sobreviveram àquele inferno, mais concretamente dos ex. militares da Companhia de Caçadores 3309, que guardam com saudade a imagem daquele seu companheiro que viram partir “sem jeito nem prosa”.
Carlos Vardasca
02 de Outubro de 2011

[1] 1º Cabo Atirador NM 13619570, Pedro Manuel Gaspar Augusto
[2] Actual cidade de Maputo.

domingo, 25 de setembro de 2011

Leituras em tempo de guerra

(…) A pequena oficina dos condutores, cujas paredes estavam decoradas com pinturas alusivas aos movimentos hippies e com inscrições dos nomes de todos os elementos da “Ferrugem[1], servia de “refúgio” e de local de encontro e de convívio entre os elementos daquela especialidade.
As petiscadas que ali se organizavam eram muito comentadas em Nangade, associando-se a elas outros militares que não pertenciam à 3309, sendo o tema das conversas muito variado, descambando sempre, por entre nacos de carne mal tragada e de cervejas mal fermentadas, na contestação ao regime e à guerra colonial, que equiparavam à Guerra do Vietname.
Numa das paredes, Braz, que tinha algum jeito para o desenho, desenhou o símbolo dos “Aceleras”[2] personificado na pata de galinha com a inscrição “Make love not war”, seguindo-se, ao lado daquele símbolo da paz todos os nomes da malta da “Ferrugem” e das suas terras de origem ou de onde diziam ser, onde se descortinava ingénuamente um forte complexo de interioridade ao esconderem a sua verdadeira naturalidade.
Tal como na caserna, ali mesmo ao lado, outros pequenos desenhos foram pincelados; como o símbolo do programa de televisão “Zip-Zip”[3] que ajudavam a decorar as suas paredes enegrecidas, com cunhetes[4] do Obus 14 vazios, empilhados em cima uns dos outros a servirem de estante, dando forma a uma biblioteca improvisada a que  Braz denominava de “solta ao vento”, onde o romance de Leon Uris, “Êxodos” e “Memed meu falcão” de Yachar Kemal se encostavam ao da “25ª Hora” que no cinema fora interpretado por Antonny Quinn; apertados contra “Os irmãos Artamonov”, amparado pelo “Exército Sagapo” de Ugo Pirro e a “Rua” de Manfred Gregor, que se acotovelavam uns contra aos outros na ânsia de serem os preferidos do próximo leitor, que o ajudaria a esquecer outros cenários menos tranquilos.
Sem se digladiarem, conviviam também dentro do mesmo cunhete de munições “A Primavera de Praga” de Pavel Tigrid, e “Para que a terra não esqueça” de Léon Weliczker Wells, que serviam de escudo a um outro mais subversivo para a época, e que por esse motivo se escondia por detrás daqueles; “A Mãe” de Máximo Gorky.
A maioria dos livros retractavam não só um dos gostos pela leitura de Braz assim como as suas preocupações naquele mundo conturbado, como era o caso de um deles (que era um dos mais solicitados) sobre a causa Palestiniana e a sua luta contra a ocupação Israelita, logo seguido de “Lolita” de Nabakov que inspirava  masturbações pela calada da noite e ao cair do cacimbo que emudecia a lua, enquanto ao longe se faziam ouvir o rufar dos tambores personificados pelos morteiros 82mm, de onde a FRELIMO fazia vomitar bolas de fogo sobre algum aquartelamento onde dormiam soldados exaustos e jaziam esperanças adiadas.
De madrugada, já com os corvos a sobrevoarem o aquartelamento, saíra a já programada coluna de reabastecimento com destino a Palma.
Como o pelotão de reconhecimento logo pela madrugada se pusera ao caminho para fazer a detecção das minas na picada até ao quilómetro 25, metade do percurso entre Nangade e Pundanhar fizera-se sem problemas, e a progressão das viaturas militares que depressa chegaram a este aquartelamento fora facilitada, dado que um dos pelotões ali estacionados fizera o mesmo, mas na direcção de Nangade.
As palmeiras tombavam sobre o aquartelamento e o emaranhado de palhotas que se entrelaçavam por entre as tendas militares; a verdejante folhagem das bananeiras e a azáfama da população local que se misturava por entre os soldados que envergavam camuflados já esventrados pelo tempo, prisioneiros do arame farpado que lhes esventrava a liberdade e que rodeava todo o aquartelamento numa dualidade tão perversa,  emprestava, apesar de tudo, àquela linha de defesa militar encostada a uma extensa lângua prenhe de vida animal, um cenário paradisíaco esquecido entre o arvoredo deslumbrante que deixava trespassar raios de sol tão brilhantes, mas também, a realidade cruel para quem participava numa guerra nos confins do inferno e convivia de braço dado com o isolamento (…)
Carlos Vardasca
25 de Setembro de 2011

In: Fardados de lama (romance) páginas 66,67 e 68. Carlos Vardasca. Alhos Vedros, 2009
Foto 1: Mural pintado na oficina da Companhia de Caçadores 3309 no Aquartelamento de Nangade. 1971
Foto 2: Vista aérea do Aquartelamento de Nangade. Moçambique 1971

[1] Como eram denominados os elementos da especialidade de Condutores e Mecânicos da C.CAÇ. 3309.
[2] Adjectivo atribuído aos condutores.
[3] Programa de televisão dos anos 70 apresentado por Carlos Cruz, Fialho Gouveia e Raul Solnado.
[4] Caixotes de munições.

sábado, 24 de setembro de 2011

O Monhé das Cobras (Rui Knopfli) Poeta Moçambicano



O MONHÉ DAS COBRAS

Manhã gloriosa, imobilizada na distância,
no extremo da caixa de areia branca
onde, agachado, anónimo e ascético,
envolto em alvos panos e silêncio,
está. O pudvém cobre-lhe o escroto

e sobraça-lhe as pernas magras e finas
de esquálido aracnídeo. No topo o turbante
e a barba anciã oscilam na brisa matinal.
Principia, então, a enfeitiçar o dia,
com exactos gestos rituais. Ergue-se,

por fim, plangente e implorativo,
o sinuoso som, para revelar, em
lentos arabescos, os assombros guardados
no sábio cesto de vime. Obedientes,
as cobras capelo encenam, à maneira,

seu acto, a coberto da enganosa pintura.
Húmidas, dardejam ao sol, rápidas,
coruscantes e fatais línguas bífidas.
Nós, meninos, paralisados de medo
e espanto. A esteira irá perder-se

no longe da areia, gasto tapete voador
voando imóvel no céu profundo
da imaginação. Privilegiado observador
desta vigília acesa debruando já,

de mansinho, as margens do sono.

(RUI KNOPFLI, grande poeta moçambicano, que muito
contribuiu com a candura da suas palavras para a elevação da dignidade dos africanos e das africanas, ..."em que a sua poesia criou um território e uma geografia próprios, uma orografia sentimental e afectuosa que tem na Ilha de Moçambique um epicentro que convém conhecer ...")
Nota: Poema enviado por Bernardino Cassiano, ex-Alferes Miliciano da Companhia de Caçadores 4243 (Muidine. Moçambique)

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Nasci, hoje


Infelizmente, tal como outras tantas crianças que nasceram no mesmo dia que eu, não posso dizer que tive uma infância feliz. Passavam cerca de quatro anos do fim da 2ª Grande Guerra Mundial, quando no Hospital de S. José em Lisboa, a Gracinda deu à luz uma criança de cerca de 3,300 gramas, precisamente no dia 21 de Setembro de 1949.
É claro que na altura não me apercebi das dificuldades que se viviam, e por isso agora compreenda os motivos porque passados quatro anos do meu nascimento fui separado precocemente dos meus pais e colocado no Acolhimento Central da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Deve ter sido dramático para aquela criança que eu fui, ver-se precocemente envolvida num ambiente de caserna e desprovida dos afectos, que por já serem escassos, facilitaram a convivência com os restantes meninos que também eles se sentiam, abandonados, ora por mães de fracos recursos que honestamente se vendiam por um trabalho mal pago, ou cediam o corpo num amor ausente onde a única preocupação era um dia virem a recuperar aquela criança que abandonaram a troco de uma felicidade imaginária.
Dos Colégios Nuno Álvares Pereira ao D. Maria Pia, da Fragata D. Fernando II e Glória às profundezas da Guerra Colonial, foram sempre momentos que moldaram a minha personalidade sempre distante, mas sempre sem perder de vista o meu direito à felicidade a que achava ter direito apesar de me ter sido sempre negado.
O conflito colonial, como seria de esperar, veio ainda mais acentuar a frieza da minha personalidade tendo em conta o contacto permanente com a crueldade da guerra, e de ver morrer nos meus braços companheiros do mesmo combate, que apesar de inglório muitos pensavam ser causa sua.
Regressado da guerra e alimentando o sonho de finalmente ser feliz, constituir família, ter finalmente nos meus braços um rebento que me fizesse esquecer todas as amarguras transportadas desde a infância e a quem lhe pudesse dar tudo aquilo que nunca recebi, mais uma vez sou confrontado com o egoísmo calculista de quem durante cerca de 14 anos e sem o mínimo respeito pelos sentimentos humanos, agiu intencionalmente em proveito próprio, fingindo fidelidade porque apenas sabia não ter capacidade de sobrevivência perante os escassos recursos de que vivia.
Mas, como em tudo na vida, há males que vêm por bem. Actualmente com 62 anos, feitos precisamente hoje e com a Odília ao meu lado já faz 20 anos, a felicidade ficou tão mais completa, por um lado sabendo que ao fim de um ano de estar com ela finalmente sorri de felicidade o que não aconteceu nos últimos 14 anos anteriores, mas também por saber que a Mónica está bem e que a Mafalda para lá caminha, apesar de reconhecer que o percurso para esta está mais sinuoso tendo em conta as dificuldades do momento.
Estamos em 2011, e Portugal vive momentos de austeridade, cujos custos recaem sobre os mais frágeis, enquanto os verdadeiros culpados da actual situação fogem à suas responsabilidades, com a cumplicidade dos governantes que apenas se preocupam com o seu bem estar económico, em detrimento das condições de vida das populações.

Carlos Vardasca
21 de Setembro de 2011

Foto: Aos sete anos de idade no Colégio em S. João do Estoril. Eu estou na primeira fila em baixo, o último do lado direito.

sábado, 17 de setembro de 2011

Fotos do Convívio da Companhia de Caçadores 3311




Algumas das fotos do Convívio anual da Companhia de Caçadores 3311 do Batalhão de Caçadores 3834, realizado em Fátima no dia 17 de Setembro de 2011, gentilmente cedidas por António Militão Camacho, ex-Alferes Miliciano, NM 09383768 daquela Companhia.

sábado, 3 de setembro de 2011

"Há batalhas que não se podem vencer"



Tive conhecimento através do meu amigo Manuel Augusto Cordeiro, ex-Alferes da Companhia de Artilharia 3506 (que foi render a minha Companhia; a Companhia de Caçadores 3309 ao Aquartelamento de Tartibo em 03 de Fevereiro de 1972) do falecimento do ex-Furriel Azevedo no dia 04 de Agosto de 2011, por lhe ter sido diagnosticado um cancro no estômago, do qual veio a falecer passados cerca de oito meses.
O companheiro Azevedo era natural de Braga, e faleceu com 60 anos de idade.
São de facto "batalhas às quais muitos de nós não resistimos" embora tivéssemos passado por outras também dramáticas, a cujos combates sobrevivemos o que nos permitiu regressar de uma guerra para a qual nos empurraram "sem jeito nem prosa".
Aos amigos e familiares, aos companheiros da CART 3506, "Do Tejo ao Rovuma" endereça os sentidos pêsames, mas também um abraço amigo ao companheiro Azevedo, esteja ele onde estiver.
Carlos Vardasca
03 de Setembro de 2011

Foto 1: O Furriel Azevedo (em pé ao centro) junto da sua Secção da Companhia de Artilharia 3506 no Aquartelamento de Tartibo. 1972
Foto 2:  A Companhia de Artilharia 3506 chega a Nangade. O Furriel Azevedo está de pé (ao centro) na primeira Berliet de emblema ao peito.
Foto 3: Um grupo de elementos da ex- Companhia de Artilharia 3506 num almoço de convívio realizado em Almeirim em 02 de Maio de 2009. O companheiro Azevedo está em baixo (junto da mesa) de camisa às riscas azuis e brancas.

sábado, 13 de agosto de 2011

"Os povo está com os Rita, pá!



Estava uma tarde bastante encalorada, como já era hábito acontecer no Aquartelamento de Nangade. Apesar da temperatura tórrida que se fazia sentir, o Rita[1] cumpriu o que há muito prometera, ou seja, medir forças entre as viaturas militares Berliet e Mercedes, já que sempre foi muito convicto de que a viatura francesa era muito mais potente do que a alemã, e tirar teimas com um outro Soldado que teimava em dizer o contrário.
E assim aconteceu. As duas viaturas dirigiram-se quase que silenciosas para a pista de aterragem, “assemelhando-se aos gladiadores que nos coliseus romanos se preparavam para se digladiarem entre a vida e a morte”, sendo a Berliet conduzida pelo Rita e a Mercedes por um Soldado Condutor da CCS do Batalhão de Artilharia 2918 de que não me recordo do nome. Alinhadas as viaturas bem ao fundo da pista, com as traseiras viradas uma para a outra, e eis que se dá início à “disputa entre a C.CAÇ. 3309 e o B.ART. 2918”, luta personificada por dois “tarados do volante” e duas viaturas já um pouco “gastas de cansaço pelas noites mal dormidas na densa mata”.
Quem assistia àquele espectáculo, “deu por mal empregue a compra do bilhete”, dado que a poeira que se levantou no fundo da pista tornava impossível qualquer visibilidade sobre aquela contenda. Apenas se ouviam as acelerações muito violentas e o roncar angustiante dos motores, quando de repente se fez silêncio, com o Rita a surgir do meio de toda aquela poeira com os braços levantados em sinal de vitória, logo seguido pelo seu oponente que de cabeça em baixo mas com um ligeiro sorriso admitia a derrota. Quando a poeira assentou, é que se verificou o estado em que ficou a Mercedes, de desconjuntada que estava e com a traseira toda amolgada, havendo indícios na pista que esta tinha sido arrastada pela força devoradora da Berliet, o que deu azo a um comentário mais ousado e deveras intencionado de alguém que assistia:
Assim se vê a força da democracia francesa perante o militarismo alemão.
Alertado pelo barulho e pela poeira que se levantou, o Tenente-coronel Vasconcelos Porto[2] veio a saber do ocorrido chamando os intervenientes à sua presença, ameaçando-os de uma “valente porrada”.
Não sei o que aconteceu ao Soldado Condutor da CCS do B.ART. 2918, mas quanto ao Rita passou-se o seguinte:
Para quem o conheceu bem, era um militar que andava sempre nos aldeamentos a cortejar as jovens e onde gozava de algum prestígio junto delas, oferecendo-lhes capulanas[3] e outras bugigangas que elas muito apreciavam, gozando por isso de alguma simpatia entre as populações nativas, e que por isso o notaram um pouco triste.
Eh, nosso Cabo Rita! O que é que tu tem? Parece maninge triste, pá!
Depois de as pôr ao corrente do que se tinha passado, e perante a eminência de o Rita ser castigado e transferido para outro Aquartelamento, logo se gerou uma corrente de solidariedade em defesa daquele Cabo Mecânico, ao ponto de as populações de ambos os aldeamentos[4] se concentrarem defronte ao edifício da Messe de Oficiais, apelando à boa vontade do Tenente-coronel gritando numa histeria colectiva:
Meus Tenente-coronel, os povo está com os Rita pá!
― Meus Tenente-coronel, os povo está com os Rita pá!
De tanto gritarem o seu apelo naquele estridente slogan que repetiam até à exaustão, aquele oficial foi obrigado a interromper a sesta e, em prol da pseudo política Psico-social enveredada pelo regime e de que era fervoroso defensor, e de que tanto dependia o seu êxito naquelas paragens do norte de Moçambique, conseguiu acalmar a população ali concentrada, prometendo que nada iria acontecer ao Cabo Rita, não deixando no entanto, de dizer ao oficial que o acompanhava e com a manifestação já dispersa e de maneira que mais ninguém o ouvisse:
Porque será que um “meia-leca” de merda destes consegue ter tantos admiradores no meio desta pretalhada?
Carlos Vardasca
13 de Agosto de 2011
Foto 1: O José Rita Ferreira junto da esposa no Encontro Nacional da Companhia de Caçadores 3309 em 2006.
Foto 2: O Rita junto de elementos da população no aldeamento Macua. Aquartelamento de Nangade. Moçambique 1972.

[1] José Rita Ferreira, 1º Cabo Mecânico Auto NM 17487970 da Companhia de Caçadores 3309.
[2] Comandante do Batalhão de Artilharia 2918, estacionado em Nangade.
[3] Tecidos coloridos que serviam de vestes às mulheres das populações nativas.
[4] Aldeamentos das etnias Maconde e Macua.