(...) O que está acontecer no vale do Zambeze, com as cheias a inundarem vastas zona de Moçambique provocando o êxodo das populações, também a Companhia de Caçadores 3309 foi vítima desse flagelo quando ocupou o Aquartelamento de Nova Torres nas margens do rio Rovuma, junto à fronteira com a Tanzânia. Sabendo de que a zona era uma zona facilmente inundável e não tinha condições de habitabilidade devido às chuvas sazonais que provocavam grandes inundações no Aquartelamento, as chefias militares do sector insistiam para que a C.CAÇ. 3309 permanecesse naquele local dado tratar-se de uma zona de infiltração da guerrilha da FRELIMO, apesar de saberem que os soldados daquela Companhia já vinham à cerca de duas semanas improvisando camas em cima das árvores, atando os cobertores aos troncos e aí se refugiarem das águas revoltas dos rios Metumbué e do Rovuma que se juntavam, cujo caudal era engrossado pelas fortes chuvas que se abatiam sobre aquele minúsculo perímetro defensivo. Foram momentos dramáticos vividos, principalmente pelos 1º e 2º Pelotões da C.CAÇ. 3309 que para ali foram enviados inicialmente para render a Companhia de Artilharia 2745 que iria dar início à sua rotação mais para sul, dado que surgiram problemas de saúde na maioria dos soldados originando a evacuação de alguns para o Hospital de Mueda. Alimentados a ração de combate, sem poderem servir-se do forno improvisado para cozer o pão que passou a ser abastecido de helicóptero (que muitas das vezes caía dentro do lodo tornando-o impróprio para consumo), sem água potável e com o correio a ser lançado da mesma forma inutilizando muita da correspondência quando o saco do correio caia em cima das árvores e se rasgava espalhando-o por toda a área inundada, era normal que o moral das tropas se ia esgotando diariamente e a inquietação já estava a não ser fácil de conter.
Tal como em 1971 e no final das escarpas do Planalto dos Macondes, hoje, e em maior dimensão (o que acontece anualmente) as cheias em Moçambique provocam tragédias humanas de dimensões dramáticas, provocando o êxodo de populações das aldeias e das suas áreas de cultivo, contribuindo para o agravar das situações de má nutrição e de doenças num país tão fustigado pela fúria das catástrofes naturais.
É justo que a minha solidariedade seja transmitida àquele povo tão martirizado, embora sabendo que dos salões ministeriais do Maputo tardam soluções para a sua resolução, não sendo justo ainda atribuir ao regime colonial (após 33 anos de independência) a causa de tanto sofrimento.
Carlos Vardasca
29 de Janeiro de 2008
Fotos: 1) Cheias em Moçambique em 2008.
2) Aquartelamento de Tartibo inundado pela junção das águas dos rios Rovuma e
2) Aquartelamento de Tartibo inundado pela junção das águas dos rios Rovuma e
Metumbué, vendo-se em primeiro plano o 1º Cabo Enfermeiro Azevedo da Companhia da Caçadores 3309. Moçambique 1971.
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