Caros amigos
Eu quando escrevi o artigo “Nem sempre fomos bons rapazes”, simplesmente me reportava a um determinado contexto, e numa determinada altura em que apareceram alguns oficiais que estiveram na Guerra Colonial a contestar as declarações proferidas pelo escritor António Lobo Antunes, declarações essas que eu próprio também tive oportunidade de contestar. Por outro lado, e se também leram as opiniões daqueles oficiais, é óbvio que também chegaram à conclusão de que a maioria das suas opiniões também não correspondiam à realidade, tendo em conta que, e como eu refiro no meu artigo (e todos nós por uma questão de honestidade intelectual teremos que reconhecer – e penso que alguns já o fizeram) o comportamento da maioria das nossas tropas não foi assim tão exemplar como eles quiseram fazer crer, embora eu compreenda em que contexto se vivia e qual a opinião (que se pode dizer quase generalizada) que a maioria das nossas tropas tinham sobre as populações com quem iam conviver e dos próprios Movimentos de Libertação.
Ao dizer que “Nem Sempre fomos Bons Rapazes”, é óbvio, e a intenção está implícita (Nem Sempre – o que quer dizer que também o fomos) de que os comportamentos por mim descritos não se podiam generalizar (é óbvio que “não nos portámos todos mal”) pois reconheço que apesar de sermos a potência ocupante, alguma coisa de útil fizemos em prol daqueles povos (escolas criadas pelo exército para os miúdos aprenderem as primeiras letras, redes de abastecimento de água às populações e de irrigação das machambas, entre outras muitas coisas que não vale a pena enumerar) e muitos de nós os soubemos respeitar na nossa convivência diária que com eles mantivemos nos diversos aldeamentos por onde passámos.
Se leram bem o referido artigo, nele eu apenas me limito a fazer recordar aos oficiais que tentavam fazer crer nas suas opiniões de que a nossa presença em África foi uma espécie de “missão evangelizadora” (quando todos nós sabemos que não foi bem assim) e de que também houve o outro lado negro da guerra mas que eles fingiam ignorar.
Foi simplesmente isto. No respectivo artigo não falto ao respeito a ninguém, não encontram nenhum adjectivo de traidor que eu tivesse atribuído a quem quer que seja, nem coloquei em causa a tomada de posição daqueles que, estando contra a guerra decidiram desertar, ou de outros que, estando na mesma posição, (foi o meu caso e de muitos) decidiram no entanto participar nela por uma questão de consciência, receio das consequências ou por outras razões que não importa aqui analisar, nem tão pouco sobre aqueles que nela participaram com “espírito de missão”.
É claro! E não o digo no artigo porque se tornava bastante extenso (nem sequer a intenção do artigo era essa mas simplesmente avivar a memória daqueles oficiais que se insurgiram contra António Lobo Antunes) mas é óbvio que reconheço que naquela guerra se cometeram atrocidades em ambas as partes intervenientes no conflito, e que nem o "bem" nem o "mal" se encontravam só de um dos lados da barricada, dado que todos nós conhecemos episódios que atestam a sua veracidade, tanto do nosso lado como da FRELIMO.
Mas isto é uma verdade incontornável. Ignorar estes factos é querer passar uma esponja por cima da história e tentar moldá-la às suas conveniências, distorcendo a realidade.
Colocadas as minhas considerações nos devidos lugares, só não compreendo como é que ainda existem pessoas que, fazendo uma leitura errada (porque lhes convém) da história por eles vivida e do conhecimento que têm dos factos, não queiram assumir os mesmos com a naturalidade que deve ser exigida, sem complexos, e, ao analisarem o artigo “Nem sempre fomos bons rapazes” em vez de fazerem uma análise objectiva dos factos tendo em conta o seu contexto, partem logo apressadamente e de uma forma tão injusta para considerações ideológicas ou insinuações abusivas sobre o seu autor, passando da racionalidade para a provocação (e foi por isso que me insurgi contra elas) que em nada contribui para o salutar debate democrático, que se pretende profícuo e esclarecedor.
Um abraço a todos
Carlos Vardasca
Eu quando escrevi o artigo “Nem sempre fomos bons rapazes”, simplesmente me reportava a um determinado contexto, e numa determinada altura em que apareceram alguns oficiais que estiveram na Guerra Colonial a contestar as declarações proferidas pelo escritor António Lobo Antunes, declarações essas que eu próprio também tive oportunidade de contestar. Por outro lado, e se também leram as opiniões daqueles oficiais, é óbvio que também chegaram à conclusão de que a maioria das suas opiniões também não correspondiam à realidade, tendo em conta que, e como eu refiro no meu artigo (e todos nós por uma questão de honestidade intelectual teremos que reconhecer – e penso que alguns já o fizeram) o comportamento da maioria das nossas tropas não foi assim tão exemplar como eles quiseram fazer crer, embora eu compreenda em que contexto se vivia e qual a opinião (que se pode dizer quase generalizada) que a maioria das nossas tropas tinham sobre as populações com quem iam conviver e dos próprios Movimentos de Libertação.
Ao dizer que “Nem Sempre fomos Bons Rapazes”, é óbvio, e a intenção está implícita (Nem Sempre – o que quer dizer que também o fomos) de que os comportamentos por mim descritos não se podiam generalizar (é óbvio que “não nos portámos todos mal”) pois reconheço que apesar de sermos a potência ocupante, alguma coisa de útil fizemos em prol daqueles povos (escolas criadas pelo exército para os miúdos aprenderem as primeiras letras, redes de abastecimento de água às populações e de irrigação das machambas, entre outras muitas coisas que não vale a pena enumerar) e muitos de nós os soubemos respeitar na nossa convivência diária que com eles mantivemos nos diversos aldeamentos por onde passámos.
Se leram bem o referido artigo, nele eu apenas me limito a fazer recordar aos oficiais que tentavam fazer crer nas suas opiniões de que a nossa presença em África foi uma espécie de “missão evangelizadora” (quando todos nós sabemos que não foi bem assim) e de que também houve o outro lado negro da guerra mas que eles fingiam ignorar.
Foi simplesmente isto. No respectivo artigo não falto ao respeito a ninguém, não encontram nenhum adjectivo de traidor que eu tivesse atribuído a quem quer que seja, nem coloquei em causa a tomada de posição daqueles que, estando contra a guerra decidiram desertar, ou de outros que, estando na mesma posição, (foi o meu caso e de muitos) decidiram no entanto participar nela por uma questão de consciência, receio das consequências ou por outras razões que não importa aqui analisar, nem tão pouco sobre aqueles que nela participaram com “espírito de missão”.
É claro! E não o digo no artigo porque se tornava bastante extenso (nem sequer a intenção do artigo era essa mas simplesmente avivar a memória daqueles oficiais que se insurgiram contra António Lobo Antunes) mas é óbvio que reconheço que naquela guerra se cometeram atrocidades em ambas as partes intervenientes no conflito, e que nem o "bem" nem o "mal" se encontravam só de um dos lados da barricada, dado que todos nós conhecemos episódios que atestam a sua veracidade, tanto do nosso lado como da FRELIMO.
Mas isto é uma verdade incontornável. Ignorar estes factos é querer passar uma esponja por cima da história e tentar moldá-la às suas conveniências, distorcendo a realidade.
Colocadas as minhas considerações nos devidos lugares, só não compreendo como é que ainda existem pessoas que, fazendo uma leitura errada (porque lhes convém) da história por eles vivida e do conhecimento que têm dos factos, não queiram assumir os mesmos com a naturalidade que deve ser exigida, sem complexos, e, ao analisarem o artigo “Nem sempre fomos bons rapazes” em vez de fazerem uma análise objectiva dos factos tendo em conta o seu contexto, partem logo apressadamente e de uma forma tão injusta para considerações ideológicas ou insinuações abusivas sobre o seu autor, passando da racionalidade para a provocação (e foi por isso que me insurgi contra elas) que em nada contribui para o salutar debate democrático, que se pretende profícuo e esclarecedor.
Um abraço a todos
Carlos Vardasca
Foto 1: Quando aguardava o helicóptero para ser evacuado para Mueda por ter sido ferido em combate (com um tiro numa mão) na picada entre Palma e Pundanhar. Junto a mim, deitado na berma da picada está um soldado de C.CAÇ. 2703 (estacionada no aquartelamento de Pundanhar e que fazia escolta à coluna de reabastecimento) gravemente ferido nessa emboscada e que igualmente aguarda o momento da evacuação. Moçambique (Cabo Delgado) 03 de Janeiro de 1972
Foto 2: Momento da evacuação. Moçambique (Cabo Delgado) 03 de Janeiro de 1972 (em destaque a minha foto actual)
1 comentário:
"Nem sempre fomos bons rapazes"
Pois não...ás vezes passávamo-nos,
Tem tudo a ver com o momento, só quem não passou por essas situações é que não dá valor.
Agora o Lobo Antunes, meteu a pata na poça.
Não acha Verdasca ?
150 mortos por batalhão ?
Só de um doido....DIGO EU
Francisco Dores
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