sábado, 3 de fevereiro de 2018

Ainda a propósito do Furriel Castro Guimarães (Desaparecido em Combate em Moçambique) e carta enviada ao programa da SIC "Linha Aberta".

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Exmos Senhores
Ainda a guerra do ultramar. Não para relatar factos bélicos, nem políticos, pois esses, embora nem sempre bem, têm vindo a ser trazidos ao conhecimento geral através dos midia.
Aqui, venho apenas expor a falta de justiça e consideração que a pátria tem para com o militar, cuja morte aconteceu em pleno teatro de guerra, no norte de Moçambique, fronteira norte do distrito de Cabo Delgado, com a Tanzânia.
Relatórios militares entregues ao tempo, da operação militar em que este facto ocorreu, considerou quem mandava, que o Fur  Mil GE (Grupos Especiais) João Manuel de Castro Guimarães foi um desaparecido.
É desaparecido, porque o seu corpo, nunca foi resgatado, por imposição do Comando, que inviabilizou os meios militares para tal.
A Pátria não se quis envolver nesse processo.
O corpo, foi levado, isso sim, pelas forças regulares tanzanianas. (Ver blog “ Do Tejo ao Rovuma”), sendo que o mesmo se encontrava ainda em território, naquela ocasião, português.
A Pátria quis esquecer este episódio.
Será por tudo isto e por muito mais que aqui ainda não fica dito, que o seu nome não consta no monumento erigido em memória dos que lá ficaram.
E a família?  Ninguém oficialmente,  teve o cuidado de a esclarecer. Também ela foi usada como carne para canhão.
Foi o seu  ente familiar um desertor? 
Foi raptado?
Foi abatido pelos seus homens, como se chegou a admitir em vários meios, onde se inclui a família?
É bom lembrar  que fazíamos parte de um corpo de voluntários, sendo a sua composição totalmente nativa.
Se desaparecido,  como e porquê?
Seria o mínimo a justificar, junto dos familiares.
Nunca tiveram uma resposta afirmativa para esta questão.
Tem o signatário feito alguns escritos sobre este assunto ao longo de vários anos, mas a parede de fumo que se gerou sempre, impede ou impediu que se impusesse a verdade e a Pátria  fizesse a justiça moral que se impunha. Colocar o seu nome no lugar que,  mal ou bem,  perpetua e honra os que lá pereceram.
Fui o responsável pelo Grupo Especial que procedeu à operação em que aquele militar tombou e,  possuo o conhecimento total dos factos que foram reportados em relatório para o Comando Chefe, Gen Kaulza de Arriaga.
É certo que já passaram mais de 40 anos. Pela ordem da vida, não sei se ainda terei muito mais tempo para fazer esta denuncia.
Aquele momento, é para mim, AGORA e SEMPRE.
Está dentro de mim. O que é que posso fazer?
Para mim, a divisa “Ninguém fica para trás”, faz com que me sinta desinquieto  com esta situação.
Possivelmente,  para a Pátria ,   esta divisa,  não se aplica ou aplicou.
Muito apreciaria que,  através dos meios que têm ao v/dispor, fosse dado conhecimento público desta velha ocorrência, provavelmente uma entre muitas.
Somos um povo de memória curta quando convém, mas entendi que o v/programa tem  na sua génese, o perfil para  fazer desinquietar algumas consciências.
Daí,  ter recorrido a VExas., e espero que possa, com a v/ajuda, que a história se cumpra.
Apelo   também ,  para  a  delicadeza  que este  assunto merece,  tanto  mais  que  o  militar  em  referência  é familiar do atual bastonário do Ordem dos Médicos.
Tenho alguns documentos que poderão ser utilizados para ajudar ao esclarecimento dos factos.
Fico à v/inteira disposição.
Com consideração,
Filipe Manuel Cardão Pinto
Ex militar na guerra do ultramar e comandante, à época, do GE 212 em  Nhica do Rovuma em Moçambique (Fronteira com a Tanzânia)
Tlm  936260394

Nota: Carta enviada ao programa da SIC "Linha Aberta".

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