quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A Opinião, esse direito

O texto transcrito em baixo foi editado a pedido do seu autor, e no âmbito da polémica suscitada a propósito do artigo por mim publicado "Nem sempre fomos bons rapazes" e dos comentários que o mesmo gerou em seu redor.
Importa registar um esclarecimento.
No âmbito da liberdade de expressão e dando espaço à livre produção de opiniões, sejam elas quais forem, todos os textos que me forem solicitados para a sua publicação fá-lo-ei (para além daqueles comentários que são colocados directamente neste espaço) desde que não enveredem pela ofensa primária, pela insinuação maldosa ou juízos de valor apressados e intencionais sobre outras opiniões expressas livremente, mas que contribuam para um salutar debate e um esclarecimento responsável dos temas em discussão, independentemente da opinião de cada um.
Carlos Vardasca
A OPINIÃO, ESSE DIREITO
Muitos de nós, para além do destino comum de termos ido à guerra, o que só por si, é razão suficiente para fazermos parte deste pequeno grupo de fazedores de opinião, não se conhecem, ou então, conhecem-se muito mal.
Entendo no entanto que, todas as opiniões sobre um assunto que nos toca tão profundamente, como será o tema da Guerra Colonial, devem ser dadas sem paixões exacerbadas, pois o que está lá para trás, doeu muito, continua a doer e acompanhar-nos-à até ao fim dos nossos dias.
Creio que, para além de nós, serão poucos os que, hoje, estão receptivos a ouvir falar deste tema, mesmo no seio das nossas famílias.
Há e continuará a haver enorme incompreensão em redor dos nossos sofrimentos.
Só nós somos capazes de nos ouvirmos, uns aos outros.
Divergências, havê-las-à sempre; mas respeitemo-nos.
Para mim, todos fomos bravos.
Sejamo-lo também agora, respeitando-nos e às nossas opiniões.
Companheiros!
A maioria de nós, já são avós. Todos temos histórias para lhes contar sobre este tema, mas … se eles nos quiserem ouvir.
Só nós, e entre nós, temos a garantia de que nos entendemos.
É bom sentir a adrenalina no ar. Mas … saibamos lidar com ela.
O Vardasca tem o mérito enorme de estar a trabalhar para memória futura, ocupando um espaço, que retrata de muito perto, a realidade, o viver de gente que foi empurrada para aquele conflito e que são ao fim e ao cabo, o povo deste país.
A ele o meu bem haja.
Ao companheiro Cordovil, quero dizer-lhe que respeito a sua indignação, compreendo-a, mas, se me permite, não se indigne contra o Vardasca.
Há um local próprio para o fazer. Todos sabemos qual é. Será que a si ou a mim, ou a algum de nós, alguém ouvirá?
Eu li as suas palavras e verifico que é, como eu, um pessoa sofrida.
O Vardasca não tem culpa e não o queria ter diminuído, nem, estou certo, pretendeu escamotear os seus valores e convicções.
Apenas e para finalizar. Sou um de 5 irmãos. Quatro estiveram na guerra do ultramar

Filipe Pinto*
06 de Outubro de 2010
*Filipe Manuel Cardão Pinto, ex-Furriel Miliciano NM 14172170 da Companhia de Caçadores 3309, posteriormente destacado para comandar os GEs 212 aquartelados no destacamento de Nhica do Rovuma, no norte de Moçambique, distrito de Cabo Delgado.
Foto: Filipe Pinto (em baixo de frente para a foto) no destacamento do Nhica do Rovuma, assistindo à chegada de uma coluna de reabastecimento (1971). Em destaque uma foto sua actual.

1 comentário:

Francisco Dores disse...

"NEM TODOS FOMOS BONS RAPAZES"

É como o filme

TODOS FOMOS SOLDADOS, para o Bem e para o Mal, essencialmente para nos safarmos e chegarmos direitos à Metrópole.

Francisco Dores