Caro companheiro
Venho por este meio relatar um triste episódio de guerra, passado em Nangade no norte de Moçambique.
Como sabes naquela época existia em Nangade uma companhia de GEs composta unicamente por soldados de cor, que fardavam também de negro, e era comandada pelo tenente Victor Santos e pelo alferes "PINTINHAS".
Naquele teatro de guerra essa companhia havia feito algumas baixas às forças inimigas (FRELIMO) poucos tempo antes do fatídico dia em que o companheiro Pedrosa (1º Cabo de Transmissões) foi abatido.
Quando era designada alguma operação aos GEs e caso o alferes não pudesse (e nesse dia ele não pode pois deu parte de doença) um de nós os dois, eu ou o Pedrosa éramos chamados a acompanhar essa companhia.
Nessa operação denominada "BANDARILHA" era eu que estava destacado para a missão, mas como à hora da saída o pessoal não me conseguiu encontrar por eu estar a jogar às cartas com outros camaradas, o Pedrosa disse ao nosso alferes que ia no meu lugar e que na outra operação de três dias que já estava prevista eu iria em seu lugar, para ele poder ir de ferias que já estavam marcadas para o principio de Junho, por infortúnio do destino o nosso companheiro Pedrosa partiu deixando grande mágoa e uma enorme consternação entre todos os companheiros, também uma enorme pena pois não mais poderia ver o filho.
Nós o pessoal de transmissões Já tínhamos alertado o nosso Alferes que aquelas saídas com os GEs eram muito perigosas pois sair para o mato vestido com uma farda diferente dos demais era um convite ao inimigo para sermos alvejados, ora vejamos para um soldado da FRELIMO com pouca formação um branco no meio de uma companhia de pessoal de cor e ainda por cima fardado de maneira diferente, facilmente era confundido com um "LÍDER" e por isso um alvo a abater, infeliz o Pedrosa que foi atingido mortalmente no meio de tantos GEs e pagou com a vida um erro grosseiro que qualquer comandante não deveria cometer.
Sem mais me despeço, um abraço de amizade
Carmindo Martins
Ex-Soldado de Transmissões Nº151098/69
da CCS. Companhia de Comando e Serviços do
Batalhão de Artilharia 2918 (Nangade-Moçambique)
Foto 1: O 1º Cabo de Transmissões Pedrosa, jaz no chão, atingido por um tiro numa emboscada desencadeada pela FRELIMO muito próximo do Aquartelamento de Nangade. Em primeiro plano vê-se o 1º Cabo Condutor Victor, da Companhia de Caçadores 3309 (a olhar para o fotógrafo, e que viria a falecer em combate dois meses depois) que se ofereceu para transportar um pequeno Grupo de Combate vindo de Nangade e que de imediato foi destacado para o local da emboscada, onde o corpo do Pedrosa ainda não tinha sido evacuado. Foto tirada algures na picada entre Nangade e Pundanhar, em 14 de Maio de 1971.
Venho por este meio relatar um triste episódio de guerra, passado em Nangade no norte de Moçambique.
Como sabes naquela época existia em Nangade uma companhia de GEs composta unicamente por soldados de cor, que fardavam também de negro, e era comandada pelo tenente Victor Santos e pelo alferes "PINTINHAS".
Naquele teatro de guerra essa companhia havia feito algumas baixas às forças inimigas (FRELIMO) poucos tempo antes do fatídico dia em que o companheiro Pedrosa (1º Cabo de Transmissões) foi abatido.
Quando era designada alguma operação aos GEs e caso o alferes não pudesse (e nesse dia ele não pode pois deu parte de doença) um de nós os dois, eu ou o Pedrosa éramos chamados a acompanhar essa companhia.
Nessa operação denominada "BANDARILHA" era eu que estava destacado para a missão, mas como à hora da saída o pessoal não me conseguiu encontrar por eu estar a jogar às cartas com outros camaradas, o Pedrosa disse ao nosso alferes que ia no meu lugar e que na outra operação de três dias que já estava prevista eu iria em seu lugar, para ele poder ir de ferias que já estavam marcadas para o principio de Junho, por infortúnio do destino o nosso companheiro Pedrosa partiu deixando grande mágoa e uma enorme consternação entre todos os companheiros, também uma enorme pena pois não mais poderia ver o filho.
Nós o pessoal de transmissões Já tínhamos alertado o nosso Alferes que aquelas saídas com os GEs eram muito perigosas pois sair para o mato vestido com uma farda diferente dos demais era um convite ao inimigo para sermos alvejados, ora vejamos para um soldado da FRELIMO com pouca formação um branco no meio de uma companhia de pessoal de cor e ainda por cima fardado de maneira diferente, facilmente era confundido com um "LÍDER" e por isso um alvo a abater, infeliz o Pedrosa que foi atingido mortalmente no meio de tantos GEs e pagou com a vida um erro grosseiro que qualquer comandante não deveria cometer.
Sem mais me despeço, um abraço de amizade
Carmindo Martins
Ex-Soldado de Transmissões Nº151098/69
da CCS. Companhia de Comando e Serviços do
Batalhão de Artilharia 2918 (Nangade-Moçambique)
Foto 1: O 1º Cabo de Transmissões Pedrosa, jaz no chão, atingido por um tiro numa emboscada desencadeada pela FRELIMO muito próximo do Aquartelamento de Nangade. Em primeiro plano vê-se o 1º Cabo Condutor Victor, da Companhia de Caçadores 3309 (a olhar para o fotógrafo, e que viria a falecer em combate dois meses depois) que se ofereceu para transportar um pequeno Grupo de Combate vindo de Nangade e que de imediato foi destacado para o local da emboscada, onde o corpo do Pedrosa ainda não tinha sido evacuado. Foto tirada algures na picada entre Nangade e Pundanhar, em 14 de Maio de 1971.
Foto 2: O 1º Cabo Transmissões Pedrosa, da CCS do BART. 2918 em Nangade, dias antes de falecer em combate. Nangade, Abril de 1971.
Foto 3: O Soldado Transmissões Carmindo Martins, da CCS do BART. 2918 (autor do texto) junto de crianças da etnia Macua. Nangade 1971
Foto 4: Carmindo Martins junto da família. 2010.
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