Infelizmente, tal como outras tantas crianças que nasceram no mesmo dia que eu, não posso dizer que tive uma infância feliz. Passavam cerca de quatro anos do fim da 2ª Grande Guerra Mundial, quando no Hospital de S. José em Lisboa, a Gracinda deu à luz uma criança de cerca de 3,300 gramas, precisamente no dia 21 de Setembro de 1949.
É claro que na altura não me apercebi das dificuldades que se viviam, e por isso agora compreenda os motivos porque passados quatro anos do meu nascimento fui separado precocemente dos meus pais e colocado no Acolhimento Central da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Deve ter sido dramático para aquela criança que eu fui, ver-se precocemente envolvida num ambiente de caserna e desprovida dos afectos, que por já serem escassos, facilitaram a convivência com os restantes meninos que também eles se sentiam, abandonados, ora por mães de fracos recursos que honestamente se vendiam por um trabalho mal pago, ou cediam o corpo num amor ausente onde a única preocupação era um dia virem a recuperar aquela criança que abandonaram a troco de uma felicidade imaginária.
Dos Colégios Nuno Álvares Pereira ao D. Maria Pia, da Fragata D. Fernando II e Glória às profundezas da Guerra Colonial, foram sempre momentos que moldaram a minha personalidade sempre distante, mas sempre sem perder de vista o meu direito à felicidade a que achava ter direito apesar de me ter sido sempre negado.
O conflito colonial, como seria de esperar, veio ainda mais acentuar a frieza da minha personalidade tendo em conta o contacto permanente com a crueldade da guerra, e de ver morrer nos meus braços companheiros do mesmo combate, que apesar de inglório muitos pensavam ser causa sua.
Regressado da guerra e alimentando o sonho de finalmente ser feliz, constituir família, ter finalmente nos meus braços um rebento que me fizesse esquecer todas as amarguras transportadas desde a infância e a quem lhe pudesse dar tudo aquilo que nunca recebi, mais uma vez sou confrontado com o egoísmo calculista de quem durante cerca de 14 anos e sem o mínimo respeito pelos sentimentos humanos, agiu intencionalmente em proveito próprio, fingindo fidelidade porque apenas sabia não ter capacidade de sobrevivência perante os escassos recursos de que vivia.
Mas, como em tudo na vida, há males que vêm por bem. Actualmente com 62 anos, feitos precisamente hoje e com a Odília ao meu lado já faz 20 anos, a felicidade ficou tão mais completa, por um lado sabendo que ao fim de um ano de estar com ela finalmente sorri de felicidade o que não aconteceu nos últimos 14 anos anteriores, mas também por saber que a Mónica está bem e que a Mafalda para lá caminha, apesar de reconhecer que o percurso para esta está mais sinuoso tendo em conta as dificuldades do momento.
Estamos em 2011, e Portugal vive momentos de austeridade, cujos custos recaem sobre os mais frágeis, enquanto os verdadeiros culpados da actual situação fogem à suas responsabilidades, com a cumplicidade dos governantes que apenas se preocupam com o seu bem estar económico, em detrimento das condições de vida das populações.
Carlos Vardasca
21 de Setembro de 2011
Foto: Aos sete anos de idade no Colégio em S. João do Estoril. Eu estou na primeira fila em baixo, o último do lado direito.
4 comentários:
Parabéns.
E continua a ser feliz, como ultimamente tem acontecido.
Pardilhó - 3311
Parabéns.
E continua a ser feliz, como ultimamente tem acontecido.
Pardilhó - 3311
AMIGO VARDASCA
PARABÉNS PARA HOJE
FELICIDADES PARA SEMPRE SAO OS
VOTOS SINCEROS DESTE TEU AMIGO
PINHO DE SOUSA EX. ENFERMEIRO
DA 3311
UM ABRAÇO
VISITAS NO TEU BLOG
HOJE 37423 UM GRANDE ABRAÇO DE PINHO SOUSA
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