No extenso areal que se vê, foi o local onde o Furriel Castro Guimarães foi morto em combate. Ao fundo, pode ver-se a rio Rovuma e o Planalto do lado de Moçambique. Foto tirada da margem esquerda do rio Rovuma. Aldeia de Kitaya (Tanzânia) Foto de G.C. 2013
Conclusões da reunião com o
Sr.
General Fernando Aguda
da Liga dos Combatentes
No dia 15 de Janeiro pelas 11,00 horas,
eu e o meu amigo Filipe Pinto[1]
fomos reunir em Lisboa com o Sr. General Fernando Aguda, responsável da Liga
dos Combatentes pelo processo relacionado com a missão nos cemitérios e
desaparecidos em combate na Guerra Colonial.
A reunião decorreu de forma cordial,
onde foram expostas as razões que nos levaram a marcar a presente reunião, dado
terem surgido dados novos, no que se relaciona com a possibilidade de se
continuar a investigação na procura da localização exacta onde o Furriel
Castro Guimarães poderá estar sepultado.
Depois de nos ser dito que a Liga dos
Combatentes já estava atenta a este assunto, mas que não interviu por ainda não
se saber da localização exacta da sepultura, foi entregue àquele responsável da
Liga um dossier completo com documentos relacionados com aquele militar desaparecido
em combate no dia 15 de Novembro de 1972 nas margens do rio Rovuma,
onde também estão descritas todas as diligências e os contactos efetcuados até
ao momento e relacionadas com este caso.
Num dos documentos entregues e escrito
em 27 de Dezembro de 2012, é descrita a intervenção de um nosso amigo que
trabalha em Moçambique, que num gesto de solidariedade e espírito humanista se
prestou a colaborar nesta investigação, tendo ido à Tanzânia, mais
concretamente à aldeia de Kitaya[2]
entrevistar membros da população e responsáveis locais sobre o caso em
concreto.
No mesmo documento a Liga dos
Combatentes é informada de que, devido a esta prestimosa colaboração e aos depoimentos
de um membro da população entrevistado (que assistiu ao incidente já descrito e
onde adianta alguns pormenores sobre o mesmo) que confirmou que o corpo do Furriel
Castro Guimarães esteve de facto em Kitaya depois de ser abatido, tendo
sido levado posteriormente numa viatura militar para Mtwara[3].
Para dar maior credibilidade à
existência de novos factos que sustentam a tese da continuação das
investigações sobre o caso Furriel Castro Guimarães, é também
referido nesse documento entregue na Liga dos Combatentes de que um responsável
local da aldeia de Kitaya que acompanhou as entrevistas, se deslocou a Mtwara e,
com base nos depoimentos recolhidos nas mesmas, questionou o responsável
regional desta localidade sobre a possibilidade de o corpo do Furriel
Castro Guimarães ter sido de facto transportado e sepultado naquela
cidade.
Por se tratar de um assunto que já
mereceu a atenção de responsáveis do governo tanzaniano a nível ministerial[4], o
Comissário Regional de Mtwara disponibilizou-se a colaborar, adiantando no
entanto de que a troca de informações sobre este assunto deveria passar a
partir de agora a um outro nível mais oficial, ou seja, com a troca de
correspondência entre a Liga dos Combatentes de Portugal e o representante do
Comissariado Regional de Mtwara na Tanzânia.
Por este facto, foi entregue ao
General Fernando Aguda da Liga dos Combatentes o endereço do Comissariado
Regional de Mtwara[5],
tendo aquele oficial garantido que, em face destes novos elementos então
surgidos, muito em breve e com alguma urgência irá fazer um ofício dirigido
àquela entidade, no sentido de indagar da possibilidade de os restos mortais do
Furriel
Castro Guimarães estarem em Mtwara e, se for esse o caso, qual a localização
exacta da sua sepultura.
Aquele General da Liga dos Combatentes
comprometeu-se a, assim que o ofício estiver elaborado e for enviado para as
entidades tanzanianas, que me disponibilizará uma cópia, para que eu a possa incorporar
no meu arquivo documental de que disponho sobre o caso em concreto.
No final da reunião perguntei ao Sr.
General o seguinte:
— Embora seja ainda muito prematuro falar sobre esta questão, mas se por
ventura estas diligências resultarem no aparecimento do local onde o Furriel Castro Guimarães está
sepultado, qual o passo seguinte que a Liga dos Combatentes irá encetar?
Sobre esta questão foi respondido por
aquele oficial:
— Na eventualidade de essa
hipótese vir a acontecer, a Liga dos Combatentes, depois de formalizar todos os
procedimentos necessários à obtenção da autorização para se deslocar àquele
país, deslocar-se-á à Tanzânia para fotografar o local da sepultura,
comunicando de imediato aos familiares do Furriel
Castro Guimarães (e a mim também) da confirmação da sua existência, sendo da
responsabilidade destes a possível exumação e transladação dos restos mortais
deste seu familiar para Portugal.
Como conclusão, fico esperançado de que
as diligências a efectuar pela Liga dos Combatentes tenham o resultado há muito
desejado, e que o caso Furriel Castro Guimarães “Desaparecido em
Combate” culmine com a dignificação do seu nome ao se reconhecer
finalmente de que não se tratou de nenhum desertor[6]; resulte
na restituição dos seus restos mortais à pátria para junto dos seus familiares e,
finalmente, na colocação do seu nome no Monumento em homenagem aos Combatentes
falecidos na Guerra Colonial em Belém, de onde nunca deveria ter sido ignorado.
Carlos Vardasca
Alhos Vedros, 16 de Janeiro de 2013
[1]
Filipe Manuel Cardão Pinto, ex-Furriel Miliciano da Companhia de Caçadores 3309
e destacado para comandar o GE 2012 no aquartelamento de Nhica do Rovuma, de
onde fazia parte o Furriel Castro Guimarães.
[2] Aldeia tanzaniana.
[3] Cidade tanzaniana.
[4] Segundo o Comissário local de Kitaya,
estiveram nesta aldeia representantes do governo tanzaniano a nível ministerial
a indagar sobre o mesmo caso, provavelmente influenciados pela carta que eu escrevi
ao Embaixador da República Unida da Tanzânia creditado em Paris (França) no dia
15 de Novembro de 2010.
[5]
Mtwara Regional Comissioner. Mtwara P.O. Box 544 Mtwara. República Unida da
Tanzânia.
[6]
Condição atribuída ao Furriel Castro Guimarães pela hierarquia do exército do
Estado Novo.
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