quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Furriel Castro Guimarães (Desaparecido em Combate)

                    No extenso areal que se vê, foi o local onde o Furriel Castro Guimarães foi morto em combate. Ao fundo, pode ver-se a rio Rovuma e o Planalto do lado de Moçambique. Foto tirada da margem esquerda do rio Rovuma. Aldeia de Kitaya (Tanzânia) Foto de G.C. 2013
 
Conclusões da reunião com o
Sr. General Fernando Aguda
da Liga dos Combatentes

No dia 15 de Janeiro pelas 11,00 horas, eu e o meu amigo Filipe Pinto[1] fomos reunir em Lisboa com o Sr. General Fernando Aguda, responsável da Liga dos Combatentes pelo processo relacionado com a missão nos cemitérios e desaparecidos em combate na Guerra Colonial.
 A reunião decorreu de forma cordial, onde foram expostas as razões que nos levaram a marcar a presente reunião, dado terem surgido dados novos, no que se relaciona com a possibilidade de se continuar a investigação na procura da localização exacta onde o Furriel Castro Guimarães poderá estar sepultado.
 Depois de nos ser dito que a Liga dos Combatentes já estava atenta a este assunto, mas que não interviu por ainda não se saber da localização exacta da sepultura, foi entregue àquele responsável da Liga um dossier completo com documentos relacionados com aquele militar desaparecido em combate no dia 15 de Novembro de 1972 nas margens do rio Rovuma, onde também estão descritas todas as diligências e os contactos efetcuados até ao momento e relacionadas com este caso.
Num dos documentos entregues e escrito em 27 de Dezembro de 2012, é descrita a intervenção de um nosso amigo que trabalha em Moçambique, que num gesto de solidariedade e espírito humanista se prestou a colaborar nesta investigação, tendo ido à Tanzânia, mais concretamente à aldeia de Kitaya[2] entrevistar membros da população e responsáveis locais sobre o caso em concreto.
No mesmo documento a Liga dos Combatentes é informada de que, devido a esta prestimosa colaboração e aos depoimentos de um membro da população entrevistado (que assistiu ao incidente já descrito e onde adianta alguns pormenores sobre o mesmo) que confirmou que o corpo do Furriel Castro Guimarães esteve de facto em Kitaya depois de ser abatido, tendo sido levado posteriormente numa viatura militar para Mtwara[3].
Para dar maior credibilidade à existência de novos factos que sustentam a tese da continuação das investigações sobre o caso Furriel Castro Guimarães, é também referido nesse documento entregue na Liga dos Combatentes de que um responsável local da aldeia de Kitaya que acompanhou as entrevistas, se deslocou a Mtwara e, com base nos depoimentos recolhidos nas mesmas, questionou o responsável regional desta localidade sobre a possibilidade de o corpo do Furriel Castro Guimarães ter sido de facto transportado e sepultado naquela cidade.
Por se tratar de um assunto que já mereceu a atenção de responsáveis do governo tanzaniano a nível ministerial[4], o Comissário Regional de Mtwara disponibilizou-se a colaborar, adiantando no entanto de que a troca de informações sobre este assunto deveria passar a partir de agora a um outro nível mais oficial, ou seja, com a troca de correspondência entre a Liga dos Combatentes de Portugal e o representante do Comissariado Regional de Mtwara na Tanzânia.
Por este facto, foi entregue ao General Fernando Aguda da Liga dos Combatentes o endereço do Comissariado Regional de Mtwara[5], tendo aquele oficial garantido que, em face destes novos elementos então surgidos, muito em breve e com alguma urgência irá fazer um ofício dirigido àquela entidade, no sentido de indagar da possibilidade de os restos mortais do Furriel Castro Guimarães estarem em Mtwara e, se for esse o caso, qual a localização exacta da sua sepultura.
Aquele General da Liga dos Combatentes comprometeu-se a, assim que o ofício estiver elaborado e for enviado para as entidades tanzanianas, que me disponibilizará uma cópia, para que eu a possa incorporar no meu arquivo documental de que disponho sobre o caso em concreto.
No final da reunião perguntei ao Sr. General o seguinte:
Embora seja ainda muito prematuro falar sobre esta questão, mas se por ventura estas diligências resultarem no aparecimento do local onde o Furriel Castro Guimarães está sepultado, qual o passo seguinte que a Liga dos Combatentes irá encetar?
Sobre esta questão foi respondido por aquele oficial:
Na eventualidade de essa hipótese vir a acontecer, a Liga dos Combatentes, depois de formalizar todos os procedimentos necessários à obtenção da autorização para se deslocar àquele país, deslocar-se-á à Tanzânia para fotografar o local da sepultura, comunicando de imediato aos familiares do Furriel Castro Guimarães (e a mim também) da confirmação da sua existência, sendo da responsabilidade destes a possível exumação e transladação dos restos mortais deste seu familiar para Portugal.
Como conclusão, fico esperançado de que as diligências a efectuar pela Liga dos Combatentes tenham o resultado há muito desejado, e que o caso Furriel Castro Guimarães “Desaparecido em Combate” culmine com a dignificação do seu nome ao se reconhecer finalmente de que não se tratou de nenhum desertor[6]; resulte na restituição dos seus restos mortais à pátria para junto dos seus familiares e, finalmente, na colocação do seu nome no Monumento em homenagem aos Combatentes falecidos na Guerra Colonial em Belém, de onde nunca deveria ter sido ignorado.

Carlos Vardasca
Alhos Vedros, 16 de Janeiro de 2013



[1] Filipe Manuel Cardão Pinto, ex-Furriel Miliciano da Companhia de Caçadores 3309 e destacado para comandar o GE 2012 no aquartelamento de Nhica do Rovuma, de onde fazia parte o Furriel Castro Guimarães.
[2] Aldeia tanzaniana.
[3] Cidade tanzaniana.
[4]  Segundo o Comissário local de Kitaya, estiveram nesta aldeia representantes do governo tanzaniano a nível ministerial a indagar sobre o mesmo caso, provavelmente influenciados pela carta que eu escrevi ao Embaixador da República Unida da Tanzânia creditado em Paris (França) no dia 15 de Novembro de 2010.
[5] Mtwara Regional Comissioner. Mtwara P.O. Box 544 Mtwara. República Unida da Tanzânia.
[6] Condição atribuída ao Furriel Castro Guimarães pela hierarquia do exército do Estado Novo.

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