Caro amigo Joaquim Coelho
Recebi agora mesmo uma mensagem em seu
nome em que dizia que o meu pedido de adesão ao grupo Picadas de Cabo Delgado
tinha sido aceite. Não sei se sabe, eu já pertenci a esse grupo (no qual
gostava bastante comentar, dado que também estive em Moçambique - Cabo
Delgado (1971-1973) mas porque a minha permanência ali e porque o ambiente se
estava a tornar insustentável em termos de participação e respeito pela livre
opinião de cada um se estava (e continua) a deteriorar, decidi sair.
Este mau ambiente relacionava-se com
atitudes menos correctas por parte de um dos seus administradores desse grupo,
que impunha os seus pontos de vista, não aceitando opiniões diferentes,
chegando ao ponto de me excluir desse grupo sem consultar os restantes
administradores, situação que ocorreu em paralelo com a minha decisão de sair.
Não sei em que contexto é que foi aceite
a minha entrada de novo no grupo, dado que não fiz qualquer novo pedido de
adesão.
Em todo o caso, fico contente por da sua
parte ter manifestado interesse na minha adesão, mas antes de o fazer gostaria
de saber o seguinte: 1. Se esse senhor (sabem perfeitamente a quem me estou a
referir) ainda é administrador do grupo.
2. Se ainda o é, pergunto se ele vai
continuar a não aceitar opiniões diferentes (embora as possa criticar e
apresentar os seus pontos de vista contrários, como é óbvio), contrariamente ao
que acontece em outros grupos de ex-militares onde o ambiente é muito mais
democrático e onde se prima pelo respeito e pela diversidade de opiniões sem se
recorrer ao “lápis azul”.
Se
assim for, eu não estou disponível para aderir de novo ao grupo, pois não estou
com paciência para continuar a aturar (de uma forma depreciativa) tantas
manifestações colonialistas, nem conviver com “falsos heroísmos pseudo-patrióticos”
que ignoram e até desprezam a vontade dos povos colonizados em assumirem a sua
autodeterminação e independência, preconizando uma solução neocolonial onde os
privilégios coloniais se manteriam.
Para que tenha conhecimento e se for
consultar os meus comentários nesse grupo, irá reparar que eu nunca ofendi ninguém
nem faltei ao respeito a quem quer que seja.
As minhas divergências com esse senhor
(que são do meu ponto de vista salutares e que promoviam uma discussão
interessante, mas num ambiente totalmente diferente daquele) prendiam-se com;
¾ A concepção
que cada um de nós tinha sobre as características daquele conflito e do seu
conceito sobre se era uma Guerra Colonial ou Guerra do Ultramar;
¾ Sobre o
papel que Portugal desempenhava em África;
¾ Sobre o
comportamento das nossas tropas e da FRELIMO no teatro de guerra e se esta
organização era (ou não) uma organização terrorista ou um movimento de
libertação, que sempre considerei ser;
¾ Sobre o
comportamento de algumas tropas ditas de "elite" para com os
abusivamente e depreciativamente tratados por aqueles de "tropa
macaca", numa clara manifestação de tacanha vaidade e de “pseudo-superioridade
moral”;
¾ Sobre a
questão de classificar (ou não) de traidores aqueles que desertaram para
escapar ao conflito colonial, dado que para estes (contrariamente aos outros) participar
naquela guerra nada tinha de patriótico nem a ver com os seus conceitos e valores
de defesa da pátria;
¾ Mas
também sobre a legitimidade do 25 de Abril (que constantemente alguns – na sua
grande maioria contestavam) e da forma como se desencadeou todo o processo de
descolonização, onde vulgarmente se classificavam (e ainda se classificam) os
seus protagonistas de traidores.
São de facto pontos bastante polémicos
mas muito importantes para se debater em espaços como estes grupos (mas sempre
ignorados ou ostracizados) que vão muito para além da organização de
"petiscos" (que são óptimos e excelentes momentos de convívio) ou
comentar no grupo meras “larachas ou vulgaridades” sem qualquer contexto
histórico ou social, o que por vezes acontece nesse grupo (e na maioria –
felizmente nem todos - dos grupos onde se comentam questões relacionadas com a
Guerra Colonial) do qual me desvinculei. Portanto amigo, antes de eu começar a
comentar de novo no Picadas de Cabo Delgado gostaria que me esclarecesse os pontos
a que me refiro neste texto, e se estes assuntos que descrevi continuam a ser
proibitivos (só para alguns, mas livres para outros que utilizam o seu “poder
autoritário”) de serem comentados.
Os meus agradecimentos.
Um abraço.
Alhos Vedros, 19 de Março de 2015
Carlos Vardasca
PS: Desculpa lá amigo. Depois de uma
pesquisa que fiz, verifiquei que esse grupo nada tem a ver com aquele a que me
referi no texto. Em todo o caso, agradeço desde já o teu convite que muito me
lisonjeia, embora tivesse reparado que esse grupo se chama também Picadas
de Cabo Delgado (nome idêntico ao outro de má memória) e que as suas postagens
são quase exclusivamente e mais relacionadas com os ex-militares que estiveram no
conflito colonial, mais concretamente em Angola.
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