Amigo Vardasca
Permita-me que o trate assim, embora não tenha o prazer de o conhecer pessoalmente, você é das pessoas que não se conhecendo, logo à partida e pela maneira vertical como expressa as suas ideias se simpatiza.
Tem feito o favor de me enviar alguns E-mails que na generalidade tenho gostado, embora por motivos de ordem profissional, não tenha tido, até aqui, possibilidades de responder como desejaria e dado a minha opinião sobre assuntos versados.
Espero agora reverter essa situação se tal me for permitido, uma vez que chegou a altura de “encostar” às box´s após 47 anos de actividade laboral.
No caso da Guerra Colonial ou do Ultramar ou só da guerra de Moçambique, ou como lhe queiram chamar, todos os que por lá passaram têm uma maneira muito especial de dizer as coisas, o que para muitos foi um simples arranhão para outros são traumatismos profundos e inultrapassáveis.
Certo, certo é que quase todos os que por lá passaram, quando confrontados ou instados a falar sobre a guerra o fazem à sua maneira.
Das histórias contadas ressalta quase sempre o facto do “contador” ter passado aquilo que mais ninguém passou, ”ele” foi o herói, aquele que em condições adversas lutando contra tudo e todos conseguiu sempre dar a volta à situação, mercê do seu abnegando esforço e notável espírito de sacrifício etc. etc.
É pena não se lembrarem de contar as asneiras que também por lá fizeram, algumas por falta de preparação outras pela irreverência da juventude de que éramos portadores.
Embora não nos conhecendo pessoalmente muito provavelmente já nos cruzamos, pois eu fazia parte da Companhia de Caçadores 4243 que vos foi render a Muidine, no longínquo final de ano de 1972.
Digo longínquo ano de 72 tão longe no tempo e no entanto, por vezes, aqui tão perto, gravado no álbum de recordações que é a minha memória.
E é essa memória que não “branqueia” por nada o que os olhos viram, mas que muita boa gente faz por esquecer e a todo o custo tentam denegrir aqueles que continuam a chamar branco ao branco e preto ao preto.
Nem vale a pena relatar as atrocidades que tanto o “pessoal” como os civis cometeram contra as populações indefesas, já que passados estes anos todos, a generalidade dos intervenientes diz que sempre foram democratas que sempre trataram os negros bem etc. etc.
Muito do que é a memória colectiva é baseado na mentira e por isso nada melhor do que pôr uma “pedra” sobre o assunto, antes que se descubra que afinal alguns “democratas” eram e ainda são “faxos” de 1ª.
Atrever-me-ia a dizer QUE NEM SEMPRE FOMOS MAUS RAPAZES.
Pelo menos quando estávamos a dormir éramos “Good Boys” (mesmo assim era preciso não estarmos a sonhar).
Já me estou a alongar e a dar “seca” pelo que vamos ao que interessa e falemos do seu último (?) E-mail enviado por si e que como sempre li atentamente.
Já me tinha apercebido (como disse os afazeres profissionais eram muitos) que tinha ou andava a escrever memórias sobre a guerra colonial, e pode desde já contar que irei adquirir um exemplar “Do Tejo até ao Rovuma. Uma breve pausa num tempo das nossas vidas”, tanto mais que certamente ao relatar a sua vivência irá descrever também um pouco o que por lá passei.
Certamente versará temas relacionados com Muidine, Pundanhar, Palma, Nangade, Lago Namioca, O famoso "Trilho Turra" (ao Km 7).
Desejo-lhe, sinceramente, os maiores sucessos que certamente terá, pois a maneira serena como diz as coisas; o não enveredar por um “heroísmo” balofo que nesta altura é o que mais se vê por ai, primar por um relato objectivo descrevendo sempre da maneira mais simples o que pensa das diversas situações que por lá todos vivemos, tudo isso certamente fará do livro um sucesso e do seu autor alguém a respeitar.
É certo que muita gente irá refutar algumas afirmações, mas como disse atrás, o que para uns é um arranhão para outros é um profundo traumatismo.
Vão dizer que as coisas não foram bem assim, que até lhe explicam como tudo se passou, que se você puder dispor de um pouco do seu precioso tempo, eles que estavam por “dentro” das coisas podem lhe contar em pormenor o porquê das coisas ……………etc, etc.
Dirão que escreve assim, porque não conhece a pessoa; olhe que ele é e sempre foi uma excelente pessoa incapaz de prejudicar alguém.
Por isso é que é tão diferente o que os operacionais passaram daquilo que os “teóricos” falam.
Um abraço
E venha lá essa obra.
José Rui Ferraz
Permita-me que o trate assim, embora não tenha o prazer de o conhecer pessoalmente, você é das pessoas que não se conhecendo, logo à partida e pela maneira vertical como expressa as suas ideias se simpatiza.
Tem feito o favor de me enviar alguns E-mails que na generalidade tenho gostado, embora por motivos de ordem profissional, não tenha tido, até aqui, possibilidades de responder como desejaria e dado a minha opinião sobre assuntos versados.
Espero agora reverter essa situação se tal me for permitido, uma vez que chegou a altura de “encostar” às box´s após 47 anos de actividade laboral.
No caso da Guerra Colonial ou do Ultramar ou só da guerra de Moçambique, ou como lhe queiram chamar, todos os que por lá passaram têm uma maneira muito especial de dizer as coisas, o que para muitos foi um simples arranhão para outros são traumatismos profundos e inultrapassáveis.
Certo, certo é que quase todos os que por lá passaram, quando confrontados ou instados a falar sobre a guerra o fazem à sua maneira.
Das histórias contadas ressalta quase sempre o facto do “contador” ter passado aquilo que mais ninguém passou, ”ele” foi o herói, aquele que em condições adversas lutando contra tudo e todos conseguiu sempre dar a volta à situação, mercê do seu abnegando esforço e notável espírito de sacrifício etc. etc.
É pena não se lembrarem de contar as asneiras que também por lá fizeram, algumas por falta de preparação outras pela irreverência da juventude de que éramos portadores.
Embora não nos conhecendo pessoalmente muito provavelmente já nos cruzamos, pois eu fazia parte da Companhia de Caçadores 4243 que vos foi render a Muidine, no longínquo final de ano de 1972.
Digo longínquo ano de 72 tão longe no tempo e no entanto, por vezes, aqui tão perto, gravado no álbum de recordações que é a minha memória.
E é essa memória que não “branqueia” por nada o que os olhos viram, mas que muita boa gente faz por esquecer e a todo o custo tentam denegrir aqueles que continuam a chamar branco ao branco e preto ao preto.
Nem vale a pena relatar as atrocidades que tanto o “pessoal” como os civis cometeram contra as populações indefesas, já que passados estes anos todos, a generalidade dos intervenientes diz que sempre foram democratas que sempre trataram os negros bem etc. etc.
Muito do que é a memória colectiva é baseado na mentira e por isso nada melhor do que pôr uma “pedra” sobre o assunto, antes que se descubra que afinal alguns “democratas” eram e ainda são “faxos” de 1ª.
Atrever-me-ia a dizer QUE NEM SEMPRE FOMOS MAUS RAPAZES.
Pelo menos quando estávamos a dormir éramos “Good Boys” (mesmo assim era preciso não estarmos a sonhar).
Já me estou a alongar e a dar “seca” pelo que vamos ao que interessa e falemos do seu último (?) E-mail enviado por si e que como sempre li atentamente.
Já me tinha apercebido (como disse os afazeres profissionais eram muitos) que tinha ou andava a escrever memórias sobre a guerra colonial, e pode desde já contar que irei adquirir um exemplar “Do Tejo até ao Rovuma. Uma breve pausa num tempo das nossas vidas”, tanto mais que certamente ao relatar a sua vivência irá descrever também um pouco o que por lá passei.
Certamente versará temas relacionados com Muidine, Pundanhar, Palma, Nangade, Lago Namioca, O famoso "Trilho Turra" (ao Km 7).
Desejo-lhe, sinceramente, os maiores sucessos que certamente terá, pois a maneira serena como diz as coisas; o não enveredar por um “heroísmo” balofo que nesta altura é o que mais se vê por ai, primar por um relato objectivo descrevendo sempre da maneira mais simples o que pensa das diversas situações que por lá todos vivemos, tudo isso certamente fará do livro um sucesso e do seu autor alguém a respeitar.
É certo que muita gente irá refutar algumas afirmações, mas como disse atrás, o que para uns é um arranhão para outros é um profundo traumatismo.
Vão dizer que as coisas não foram bem assim, que até lhe explicam como tudo se passou, que se você puder dispor de um pouco do seu precioso tempo, eles que estavam por “dentro” das coisas podem lhe contar em pormenor o porquê das coisas ……………etc, etc.
Dirão que escreve assim, porque não conhece a pessoa; olhe que ele é e sempre foi uma excelente pessoa incapaz de prejudicar alguém.
Por isso é que é tão diferente o que os operacionais passaram daquilo que os “teóricos” falam.
Um abraço
E venha lá essa obra.
José Rui Ferraz
ex-Furriel Miliciano NM 179570/71
da Companhia de Caçadores 4243
Foto: José Rui Ferraz no Aquartelamento de Muidine (Moçambique 1972), e em destaque uma foto sua actual.
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