Faz precisamente hoje, dia 15 de Novembro de 2010, 38 anos que o Furriel Castro Guimarães faleceu em combate, abatido por forças tanzanianas nas margens do rio Rovuma (e levado para aquele país onde se supõem estar sepultado na aldeia de Kytaia) quando participava numa operação integrado num dos grupos de combate dos GEs 212 estacionados no Aquartelamento de Nhica do Rovuma (Norte de Moçambique - Província de Cabo Delgado).
Anualmente, "Do Tejo ao Rovuma" aqui lhe presta a devida homenagem, e assim o fará (mesmo reconhecendo a sua complexidade) até que se conclua este processo, que se deseja com a descoberta do local da sua sepultura e a transladação do seus restos mortais para Portugal e para junto dos seus familiares.
Várias diligências já foram efectuadas com o objectivo de obter contactos que nos levem cada vez mais próximos daquela aldeia tanzaniana, o último dos quais (do qual já prestamos essa informação neste espaço) com o padre José Alexandre da Missão dos Missionários da Boa Nova radicados em Moçambique na localidade de Malema, que prometeu colaborar com esta causa e encetar os contactos necessários para a resolução da mesma.
Mais recentemente, fui contactado aqui em Alhos Vedros pelo Diamantino Fernandes, ex-1º Cabo Transmissões da CCS do Batalhão de Cavalaria 3837, que no dia 23 de Outubro se deslocou a Moçambique (mais concretamente à povoação de Nangololo, onde se desloca com alguma regularidade) que não quis seguir viagem sem falar comigo sobre este caso, para que durante a sua estadia naquele país tentar, junto de contactos que diz ter junto de ex-guerrilheiros, hoje altos quadros da FRELIMO, contribuir também para a resolução do mesmo.
Hoje mesmo, decidi "abrir uma nova frente", alargando os contactos, ao escrever uma carta ao Embaixador da República Unida da Tanzânia em Paris, que reproduzo em baixo (em Portugal não existe embaixada deste país) com o objectivo de usar a sua influência e interceder junto das autoridades do seu país para que se investigue a existência de alguma sepultura daquele soldado português na aldeia de Kytaia.
Dando seguimento ao lema "Ninguém deve ser deixado para trás" a ele continuaremos a ser fieis.
Em jeito de homenagem, aqui fica um abraço solidário de quem sobreviveu.
Carlos Vardasca
15 de Novembro de 2010
Foto 1: O Furriel Castro Guimarães com as idades de 15 e 22 anos.
Foto 2: O Furriel Castro Guimarães em Palma (fardado de negro) junto de outros seus companheiros. 1972
Foto 3: O Furriel Castro Guimarães em Moçimboa do Rovuma (em tronco nu, na primeira fila em cima) junto dos seus companheiros da CCS do Batalhão de Caçadores 3874. 1972
De: Carlos Alberto Correia Braz Vardasca
Rua António Hipólito da Costa nº 5 – 1º Esqº
2860-045 Alhos Vedros - Portugal
Telef: 212020157
Telem: 963899868
E-mail: carlosvardasca@netcabo.pt
Blogue: http://dotejoaorovuma-cabel.blogspot.com/
Para: Embaixada da República Unida da Tanzânia
13, Avenue Raymond Poincaré – Paris
Exmo. Sr. Embaixador
Sou um ex-militar envolvido na Guerra Colonial durante a ocupação de Moçambique por Portugal, e vinha por este meio solicitar a vossa prestimosa colaboração para o seguinte caso que irei tentar resumir.
Em 15 de Novembro de 1972, um Grupo de Combate do exército português deslocou-se do Aquartelamento de Nhica do Rovuma[1] com o objectivo de recolher informações do outro lado da fronteira (Tanzânia), se existiam populações oriundas de Moçambique enviadas para ali para trabalhar em machambas[2] para abastecer de alimentos os guerrilheiros da FRELIMO, que naquela altura lutavam contra a ocupação do seu território pelo exército português.
Após aquele Grupo de Combate ter chegado às margens do rio Rovuma e ter deparado com movimento de populações na margem norte do rio (do outro lado da fronteira) o militar que comandava aquela força de intervenção[3], inadvertidamente começou a percorrer um extenso areal que se formara no meio do rio e que se estendia até muito perto do outro lado da fronteira com a Tanzânia, com o objectivo de encetar conversa com algumas mulheres que lavavam a roupa no rio e tentar recolher as informações que constavam do objectivo da operação.
Apesar de ter sido avisado pelos companheiros dos perigos que corria, ele continuou a percorrer o areal e, já muito próximo da margem do rio do lado da Tanzânia, ouviram-se dois tiros e o seu corpo ficou caído no areal.
Sabendo dos riscos que tal intervenção poderia acarretar e como já estava a escurecer, ninguém daquela força de intervenção se arriscou a ir recuperar o corpo, tendo aguardado para o dia seguinte para tomar qualquer posição sobre a forma de resgatar o corpo do militar abatido.
No dia seguinte, e ao observar-se o areal onde o corpo se encontrava, o mesmo já tinha desaparecido, pensando-se que possivelmente teria sido levado pela maré ou por qualquer animal selvagem.
Cancelada a operação e chegados ao Aquartelamento de Nhica do Rovuma, um dos soldados do Grupo de Combate envolvido naquela operação ouviu noticiar em dialecto Swahili através de uma rádio da Tanzânia, que anunciava terem as forças Tanzanianas capturado um soldado português, descrevendo as suas características assim como o tipo de arma e alguns objectos pessoais que trazia consigo.
Decorridos alguns meses, o exército português também consegue ter acesso a um jornal da Tanzânia em língua inglesa, onde é noticiada a captura do mesmo militar, sendo a notícia ilustrada com algumas fotos, onde se pode ver o corpo do militar abatido a ser exibido junto de oficiais do exército tanzaniano, o que comprova que, por ter sido um militar abatido em combate, possivelmente algum destino foi dado ao seu corpo, tendo sido sepultado em algum local, o que se presume ter sido na aldeia de Kytaia[4], dado ser a povoação tanzaniana mais próxima do local onde ocorreu o incidente em 15 de Novembro de 1972.
Tendo-o colocado ao corrente do que ocorrera naquela data, venho solicitar por esta forma que o Sr. Embaixador interceda junto das entidades oficiais responsáveis por este tipo de assuntos, no sentido de indagarem junto de responsáveis locais da aldeia de Kytaia, se alguém se lembra da ocorrência daquele incidente (algum ex-guarda fronteiriço, membro da população ou até mesmo algum ex-guerrilheiro da FRELIMO que ali se tivesse fixado) e poderem informar em que local foi sepultado o referido militar português, para que os seus restos mortais, depois de formalizadas todas as questões legais, possam ser transladados para Portugal e para mais próximo dos seus familiares.
Certo que o Sr. Embaixador reconhecerá tratar-se de uma questão humanitária, tendo em conta que os familiares do referido militar há muito anseiam recuperar o seu corpo para lhe prestarem a devida homenagem, aguardo com alguma brevidade uma resposta sua a este apelo, agradecendo desde já a sua prestimosa colaboração para a resolução deste caso, que após 36 anos do fim do conflito colonial que envolveu Portugal e Moçambique ainda não foi possível resolver.
Sem outro assunto de momento, muito atenciosamente
Alhos Vedros, 15 de Novembro de 2010
Carlos Alberto Correia Braz Vardasca
Rua António Hipólito da Costa nº 5 – 1º Esqº
2860-045 Alhos Vedros - Portugal
Telef: 212020157
Telem: 963899868
E-mail: carlosvardasca@netcabo.pt
Blogue: http://dotejoaorovuma-cabel.blogspot.com/
Para: Embaixada da República Unida da Tanzânia
13, Avenue Raymond Poincaré – Paris
Exmo. Sr. Embaixador
Sou um ex-militar envolvido na Guerra Colonial durante a ocupação de Moçambique por Portugal, e vinha por este meio solicitar a vossa prestimosa colaboração para o seguinte caso que irei tentar resumir.
Em 15 de Novembro de 1972, um Grupo de Combate do exército português deslocou-se do Aquartelamento de Nhica do Rovuma[1] com o objectivo de recolher informações do outro lado da fronteira (Tanzânia), se existiam populações oriundas de Moçambique enviadas para ali para trabalhar em machambas[2] para abastecer de alimentos os guerrilheiros da FRELIMO, que naquela altura lutavam contra a ocupação do seu território pelo exército português.
Após aquele Grupo de Combate ter chegado às margens do rio Rovuma e ter deparado com movimento de populações na margem norte do rio (do outro lado da fronteira) o militar que comandava aquela força de intervenção[3], inadvertidamente começou a percorrer um extenso areal que se formara no meio do rio e que se estendia até muito perto do outro lado da fronteira com a Tanzânia, com o objectivo de encetar conversa com algumas mulheres que lavavam a roupa no rio e tentar recolher as informações que constavam do objectivo da operação.
Apesar de ter sido avisado pelos companheiros dos perigos que corria, ele continuou a percorrer o areal e, já muito próximo da margem do rio do lado da Tanzânia, ouviram-se dois tiros e o seu corpo ficou caído no areal.
Sabendo dos riscos que tal intervenção poderia acarretar e como já estava a escurecer, ninguém daquela força de intervenção se arriscou a ir recuperar o corpo, tendo aguardado para o dia seguinte para tomar qualquer posição sobre a forma de resgatar o corpo do militar abatido.
No dia seguinte, e ao observar-se o areal onde o corpo se encontrava, o mesmo já tinha desaparecido, pensando-se que possivelmente teria sido levado pela maré ou por qualquer animal selvagem.
Cancelada a operação e chegados ao Aquartelamento de Nhica do Rovuma, um dos soldados do Grupo de Combate envolvido naquela operação ouviu noticiar em dialecto Swahili através de uma rádio da Tanzânia, que anunciava terem as forças Tanzanianas capturado um soldado português, descrevendo as suas características assim como o tipo de arma e alguns objectos pessoais que trazia consigo.
Decorridos alguns meses, o exército português também consegue ter acesso a um jornal da Tanzânia em língua inglesa, onde é noticiada a captura do mesmo militar, sendo a notícia ilustrada com algumas fotos, onde se pode ver o corpo do militar abatido a ser exibido junto de oficiais do exército tanzaniano, o que comprova que, por ter sido um militar abatido em combate, possivelmente algum destino foi dado ao seu corpo, tendo sido sepultado em algum local, o que se presume ter sido na aldeia de Kytaia[4], dado ser a povoação tanzaniana mais próxima do local onde ocorreu o incidente em 15 de Novembro de 1972.
Tendo-o colocado ao corrente do que ocorrera naquela data, venho solicitar por esta forma que o Sr. Embaixador interceda junto das entidades oficiais responsáveis por este tipo de assuntos, no sentido de indagarem junto de responsáveis locais da aldeia de Kytaia, se alguém se lembra da ocorrência daquele incidente (algum ex-guarda fronteiriço, membro da população ou até mesmo algum ex-guerrilheiro da FRELIMO que ali se tivesse fixado) e poderem informar em que local foi sepultado o referido militar português, para que os seus restos mortais, depois de formalizadas todas as questões legais, possam ser transladados para Portugal e para mais próximo dos seus familiares.
Certo que o Sr. Embaixador reconhecerá tratar-se de uma questão humanitária, tendo em conta que os familiares do referido militar há muito anseiam recuperar o seu corpo para lhe prestarem a devida homenagem, aguardo com alguma brevidade uma resposta sua a este apelo, agradecendo desde já a sua prestimosa colaboração para a resolução deste caso, que após 36 anos do fim do conflito colonial que envolveu Portugal e Moçambique ainda não foi possível resolver.
Sem outro assunto de momento, muito atenciosamente
Alhos Vedros, 15 de Novembro de 2010
Carlos Alberto Correia Braz Vardasca
*Carta para o Embaixador da República Unida da Tanzânia
[1] Destacamento militar das tropas portuguesas situado a norte de Moçambique, na Província de Cabo Delgado.
[2] Terrenos de cultivo.
[3] Furriel Miliciano NM, João Manuel de Castro Guimarães, do Grupo Especial 212 do exército português, estacionado no Aquartelamento de Nhica do Rovuma (Província de Cabo Delgado, norte de Moçambique).
[4] Aldeia situada no sul da Tanzânia próximo do rio Rovuma, rio que faz fronteira com a República de Moçambique.
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